Soldados da ocupação norte-americana atravessam campo de papoula no Afeganistão | Foto: Arquivo

Desde que o Talibã proibiu o cultivo de papoula em todo o país em abril de 2022, o Afeganistão realizou “o esforço antidrogas mais bem-sucedido da história da humanidade”, informou o jornal britânico The Telegraph no sábado (1º). A produção de papoula afegã caiu cerca de 80% no ano passado, segundo o relatório. A papoula afegã é a matéria prima para a produção do ópio e da heroína.

Na província de Helmand, que as tropas britânicas ocuparam durante grande parte dos 20 anos da intervenção dos EUA no Afeganistão, o cultivo de papoula caiu mais de 99%, para ocupar uma área de cerca de 2.500 acres.

O Telegraph observou que nada semelhante foi alcançada durante os 50 anos da política de guerra contra as drogas de Washington, incluindo as duas décadas de ocupação do Afeganistão pelos EUA. O país da Ásia Central responde historicamente por mais de 80% da produção global de ópio e 95% dos suprimentos europeus de opioides.

No entanto, The Telegraph está esquecendo que, no ano anterior à invasão, o então governo Talibã já havia praticamente eliminado a produção da matéria prima do ópio, ao proibir o cultivo.

Aliás, relatório do Departamento de Estado dos EUA em 1991 admitiu que as operações secretas da CIA no Afeganistão haviam transformado a região de uma “zona de ópio independente em um importante fornecedor de heroína para o mercado mundial”.

Nos anos 1980, era um segredo de polichinelo que o regime Reagan fizera dos narcos afegãos os pontas de lança de sua cruzada contra a revolução no Afeganistão e contra os soviéticos.

Em 2004 o governo fantoche instalado por Washington em Cabul estabeleceu oficialmente a meta de eliminar o cultivo de papoula em dez anos. Estava pegando mal, na época, aquelas fotos das tropas norte-americanas fazendo a guarda de áreas de cultivo de papoula.

Não chegou propriamente a surpreender que o governo fantoche, cujas ligações com os produtores e traficantes de ópio eram notórias, haja fracassado nesse pretenso objetivo e a produção de ópio só fez aumentar. Oficialmente esse programa custou US$ 9 bilhões aos contribuintes norte-americanos. Também por pura casualidade a CIA tem uma longa história de envolvimento com o narcotráfico.

A aventura imperial no Afeganistão teria como efeito colateral que o vício de heroína tivesse se espalhado entre os soldados norte-americanos. O que foi a base objetiva para a expansão dos opioides sintéticos e a atual tragédia do fentanil.

Curiosamente, o Instituto de Paz dos Estados Unidos, do governo dos Estados Unidos, culpou o Talibã no mês passado por ser muito bem-sucedido em reduzir a produção de ópio, registrou a RT.

“A tentação de ver a proibição atual sob uma luz excessivamente positiva – como uma importante vitória global antinarcóticos – deve ser evitada”, afirmou o instituto. “Isto é particularmente verdade dado o estado da economia do Afeganistão e a situação humanitária do país. De fato, a proibição impõe enormes custos econômicos e humanitários aos afegãos e provavelmente estimulará ainda mais o fluxo de refugiados”.

Na verdade, o que está impedindo o Afeganistão de ter as condições mínimas para a reativação de sua economia é a herança maldita dos 20 anos de ocupação, agravada pelo roubo das reservas afegãs em bancos norte-americanos, mais as vingativas sanções contra o país por ter se libertado. O Afeganistão precisa superar sua dependência do narcotráfico e redirecionar suas forças para uma autêntica reconstrução econômica e para o intercâmbio mutuamente benéfico com os países vizinhos, como os ex-estados soviéticos da Ásia Central, além da China, Rússia, Paquistão e Irã.

Fonte: Papiro