Migrantes são forçados a contornar barreiras de boias na caminhada pelo Rio Grande | Foto: Suzanne Cordeiro/AFP

Agentes de fronteira do Texas são orientados a empurrar bebês e crianças imigrantes ao Rio Grande, na fronteira dos EUA com o México, além de negar água a pessoas que tentam atravessar a divisa em dias de calor extremo.

A denúncia partiu de um policial do Departamento de Segurança Pública (DPS, siglasem inglês) em correio eletrônico enviado a um superior, em que descreve as ações como “desumanas”, informou o jornal The Houston Chronicle.

O correio, obtido e verificado pela agência de notícias Hearst Newspapers, revela vários incidentes que o policial presenciou na cidade de Eagle Pass, onde o Estado do Texas tem estendido quilômetros de arame farpado e implantado um muro de boias no Rio Grande, que fica na fronteira com o México.

De acordo com o e-mail, no final do mês passado, foi encontrada uma mulher grávida que estava abortando presa na cerca de arame, se contorcendo de dor. Uma menina de quatro anos desmaiou de exaustão pelo calor depois de tentar atravessar o arame e ser empurrada de volta para o rio por soldados da Guarda Nacional do Texas. Um adolescente quebrou a perna tentando navegar na água ao redor do arame e teve que ser carregado pelo pai.

Mulheres levando crianças e mesmo bebês são forçadas a retornar ao rio pelos patrulheiros texanos.

A comunicação é de que o agente enviou a denúncia de que o governador do Texas, Greg Abott, montou “armadilhas” de barris envoltos em arame farpado em trechos do rio com pouca visibilidade e acrescenta que o arame aumentou o risco de afogamento, forçando os migrantes a irem para trechos mais profundos do rio, informou o Houston Chronicle.

“Devido ao calor extremo, a ordem de não dar água às pessoas deve ser revogada imediatamente”, escreveu o funcionário, observando que “acho que cruzamos a linha do desumano”.

Questionado sobre o assunto, o porta-voz do Departamento de Segurança Pública do Texas (DPS), Travis Considine, se recusou a comentar o e-mail, mas tentando minimizar o problema disse ao Chronicle que não há política contra dar água aos migrantes.

Já o diretor do DPS, Steven McCraw, reconhece que houve um aumento nos ferimentos causados ​​pelo arame farpado, incluindo sete incidentes relatados pela Patrulha de Fronteira nos quais os migrantes precisaram de “atendimento médico elevado” entre 4 e 13 de julho. Esses incidentes são adicionados aos detalhados pelo agente.

Os fatos relatados no e-mail ocorrem quando Abbott intensificou seus esforços nas últimas semanas para impedir fisicamente os imigrantes de entrar no país por meio de sua iniciativa Operação Estrela Solitária, aumentando as tensões entre autoridades estaduais e federais e atraindo maior escrutínio de grupos humanitários que dizem que o Estado está colocando os requerentes de asilo em perigo. As iniciativas mais agressivas foram direcionadas a Eagle Pass.

MÉXICO CONDENA BARREIRAS

No início desta semana, o Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, qualificou as novas barreiras fronteiriças do Governo do Texas como “publicitárias” e “muito vulgares”, que colocaram uma vedação de arame e uma barreira de boias no Rio Grande, na fronteira entre os dois países, para impedir a passagem de migrantes. No Texas moram quase 8 milhões de mexicanos.

“Basta dizer aos nossos compatriotas que não votem no governador do Texas (Greg Abbott) ou nos legisladores do Partido Republicano que apoiam essas medidas que, aliás, são ações publicitárias muito vulgares”, afirmou o presidente durante coletiva de imprensa.

O presidente mexicano afirmou que essas ações do governador texano são para “enganar o povo norte-americano, dizendo que os texanos são muito rígidos e vão impedir a chegada de migrantes que trazem ou levam drogas para os Estados Unidos”.

O Ministério das Relações Exteriores do México enviou uma manifestação de “estranhamento” aos Estados Unidos pela colocação das boias, no qual argumentou que isso viola o Tratado de Águas entre os dois países.

Fonte: Papiro