Submersível da OceanGate | Foto: AFP

A Guarda Costeira norte-americana anunciou nesta quinta-feira (22) que o submersível privado Titan, com cinco pessoas a bordo, implodiu por causas ignoradas e todos estão mortos. O Titan, que estava em uma expedição turística e que oferecia uma visão a partir das proximidades dos destroços do Titanic no fundo do mar estava desaparecido desde domingo (18). O submersível sumiu no domingo (18) e os destroços foram encontrados nesta quinta.

“Uma área com destroços foi descoberta dentro da área de busca por um veículo não tripulado perto do Titanic. Especialistas do comando unificado estão avaliando as informações”, disse na manhã desta quinta o comando Nordeste da Guarda Costeira, que coordena as operações de busca.

Pouco antes da entrevista coletiva da Guarda Costeira, a OceanGate, a empresa do submarino, confirmou em um comunicado que todos os passageiros tinham morrido.

Destroços encontrados: um cone que ia na frente do submarino, além de um pedaço da parte da frente e outro da parte de trás da cabine de pressão. As peças foram encontradas a cerca de 500 metros dos destroços do Titanic, que estão a 3.800 metros abaixo do nível do mar, em um ponto do Oceano Atlântico cerca de 600 quilômetros distante da costa do Canadá.

A implosão ocorreu antes do início da operação de busca, segundo a Guarda Costeira, já que a implosão deve ter gerado um som forte, que não foi captado pelos navios e sonares da tentativa de resgate. Os destroços foram localizados por um robô, o Odysseus 6 K.

Ainda não se sabe o que levou a embarcação a implodir e quando. Segundo as autoridades norte-americanas, o local é muito inóspito e resta decidir se haverá uma busca pelos corpos. Aparentemente, os ruídos que haviam sido captados nos últimos dias pelas equipes de buscas não tinham qualquer ligação com o submersível.

As vitimas são o diretor-executivo da OceanGate, Stockton Rush, piloto do submarino; o ex-comandante da Marinha Francesa Paul-Henry Nargeolet, considerado o principal especialista no naufrágio do Titanic; o bilionário e explorador britânico Hamish Harding; e o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho Suleman Dawood.

Depois de ter saído de Newsfoundland, no Canadá, na sexta-feira, o Titan começou a descida no domingo, com a expectativa de demorar duas horas para chegar aos destroços do Titanic. Após 1 hora e 45 minutos de descida, o módulo perdeu contato com navio de apoio Polar Prince.

O submersível tinha 6,5 metros de comprimento por 3 metros de largura. Feito de fibra de carbono e titânio, pesava cerca de 10 toneladas e se movia a uma velocidade de 3 nós (5,5 km/h), impulsionado por quatro propulsores.

Nos cálculos das equipes de buscas, se o submarino ainda estivesse inteiro na manhã desta quinta-feira, o oxigênio no interior da embarcação teria acabado por volta das 6h (horário de Brasília). A empresa OceanGate Expeditions, que explora a modalidade de ‘turismo aventureiro’ para enricados em busca de emoções fortes, cobrou US$ 250 mil de cada passageiro.

Segundo o correspondente da CNN Gabe Cohen que visitou o veículo Titan fora da água em 2018, o submersível é uma embarcação minúscula, bastante apertada e pequena, sendo necessário sentar dentro dele sem sapatos.

FORMATO ESTRANHO

O desastre está causando enorme polêmica. O diretor do Instituto de Oceanografia da USP, Paulo Sumida, disse à CNN Brasil que o Titan “parece feito no fundo de quintal”. Ele acrescentou que o formato do veículo e simplicidade dos equipamentos o tornavam mais vulnerável à pressão do fundo do mar.

Paulo disse estranhar o fato de o submersível ser no formato de cápsula, ao invés de uma esfera. “Os submersíveis que mergulham muito fundo geralmente são esféricos, para que a pressão nessas profundidades altas possa ser distribuída homogeneamente. O formato de cápsula me estranhou muito. A 4.000 metros, a pressão é tão alta e realmente a simplicidade do submersível é espantosa”, disse.

O especialista considerou tudo “mais frágil” do que deveria ser. “Nem mesmo o controle remoto é dos melhores que você pode comprar, é bem padrão. Não tem nenhum tipo de eletrônica dentro, não tem nenhum sistema mecânico. Esse fato de não ter nada, é realmente surpreendente que eles tenham conseguido mergulhar antes nessa profundidade. Ele controlava os motores, tem as hélices, e esse joystick controlava, provavelmente por bluetooth, mas é muito frágil. Quem controlava era o piloto do próprio submersível, não era remoto”.

“O submersível mergulhou antes em várias profundidades. O que pode ter acontecido é que esse casco foi sofrendo deformações com o uso em altas deformidades, e quando eles mergulharam dessa vez, chegaram em uma pressão crítica que fez com que o casco implodisse”, assinalou Paulo em uma avaliação preliminar. Para ele, o instante da implosão foi “logo quando perdeu as comunicações”.

CASCO “FINO DEMAIS”?

Desde 2018, havia indícios de problemas com a segurança do submersível, segundo dois ex-funcionários da OceanGate Expeditions, que levantaram preocupações sobre a espessura do casco do Titan, que seria mais fino que o recomendado. David Lochridge, que foi diretor de operações marítimas da empresa e foi demitido, afirmou ter levantado questionamento de que nenhum teste não-destrutivo foi realizado no casco do Titan para verificar “delaminações, porosidade e vazios de adesão suficiente da cola usada devido à espessura do casco”.

Outro ex-funcionário da OceanGate, que falou à CNN sob condição de anonimato, disse ter ficado preocupado quando o casco de fibra de carbono do Titan chegou, ecoando as preocupações de Lochridge sobre sua espessura. Segundo ele, o casco foi construído com apenas pouco mais de 12 centímetros de espessura, enquanto os engenheiros da empresa teriam recomendaram cerca de 17 centímetros de espessura.

“Em nome da guarda costeira dos EUA dou os pêsames para as famílias. Só consigo imaginar como isso tem sido para eles e espero que essa descoberta traga algum conforto nesse momento tão difícil”, disse o contra-almirante John Mauger, comandante do Primeiro Distrito da Guarda Costeira, em entrevista à imprensa.

Fonte: Papiro