Putin se dirige à plenária do Fórum de São Petersburgo | Foto: Sputnik

“O inerentemente ruim sistema internacional neocolonial está deixando de existir e uma ordem mundial multipolar está sendo consolidada. Este é um processo inevitável”, afirmou o presidente Vladimir Putin, na sexta-feira (16), ao se dirigir à plenária do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPEIF).

Neste sentido, acrescentou: “Falando desta tribuna no ano passado, apresentei minha visão dos desafios que a Rússia e praticamente o mundo inteiro enfrenta. Falei detalhadamente naquela ocasião sobre nossas ações destinadas a garantir o desenvolvimento soberano, confiante e de longo prazo do país e hoje, é possível dizer com confiança: a estratégia escolhida pelo Estado e pelas empresas na Rússia funcionou”.

“As mudanças no mundo em todas as suas áreas são cardeais, profundas e irreversíveis. Isso é o que importa. Nessas condições, só podemos avançar, e isso significa que precisamos de uma política econômica proativa que possa ser construída e aplicada em colaboração estreita com os representantes do empresariado, com os nossos empresários. No fundo, estamos falando da transição para um nível de desenvolvimento qualitativamente novo, de uma economia soberana que não só reage às condições do mercado e tem em conta a procura, mas que o configure ela mesma e com base nos interesses de toda a sociedade”, assinalou Putin.

O presidente russo chamou a política macroeconômica estável de uma vantagem da Rússia e destacou que a inflação no país é menor do que no Ocidente, perto do mínimo histórico. “O desemprego está em 3,3%. Nunca esteve tão baixo antes”, disse.

O SPIEF 2023 – que entrou em seu terceiro dia de atividades nesta sexta-feira (16) – é um evento econômico e de negócios global com importante foco na desdolarização — palavra cada vez mais usada entre os países que buscam abandonar a hegemonia do dólar norte-americano que funciona como um garrote restringindo as possibilidades de manobras monetárias na economia para o estímulo do crescimento nos países emergentes.

O grupo de países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem liderado o movimento. Uma moeda comum é um dos passos que está sendo pensado entre outras ferramentas que o bloco, que reúne as maiores economias em desenvolvimento do mundo, tem à sua disposição para desenvolver uma economia soberana para estes países.

“Os EUA perseguem objetivos políticos oportunistas e, assim, enfraquecem seu próprio poder, inclusive nas finanças mundiais”, denunciou ainda Putin. “Isso também se aplica ao dólar, que Washington está usando como ferramenta de luta. Se a tendência para os pagamentos não em dólar ganhar força, será o início do fim dessa moeda”, sublinhou, acrescentando que as reservas das principais economias mundiais em dólares estão diminuindo, assim como as liquidações em euros.

“Aqui, na Rússia, muitas marcas estrangeiras vendem há muito tempo produtos que são inteiramente manufaturados em instalações aqui sediadas. Em essência, são produtos russos, apenas com logotipos estrangeiros, portanto, sua produção não será interrompida com a saída dos proprietários da marca, apenas o logotipo muda, e os lucros desse negócio permanecem em nosso país”, adicionou.

REPRESENTANTES DE 130 PAÍSES

Segundo os organizadores, participam do Fórum representantes de 130 países. Este evento reúne líderes de organizações internacionais, figuras públicas de renome, acadêmicos de destaque, especialistas e a mídia.

Diante dessa abrangente presença, Putin esclareceu as razões do seu país quanto ao conflito em curso na Ucrânia: “Recentemente me reuni com nossos correspondentes de guerra e, respondendo a uma pergunta semelhante, lembrei a eles que a guerra na Ucrânia foi iniciada pelo regime ucraniano com o apoio de seus patrocinadores no Ocidente em 2014. Mas ninguém quer falar sobre isso no Ocidente. Mas tenho que lembrar: foram usados tanques, a aviação e artilharia no noroeste contra o Donbass. O que é isso senão uma guerra? É uma guerra. E ela já dura quase nove anos”, destacou Putin.

“Em breve, a Ucrânia deixará de usar suas próprias armas, não resta a eles mais nada. Tudo aquilo com que eles lutam, tudo o que eles usam, eles trazem de fora. Não é possível lutar por muito tempo dessa maneira”, opinou.

Foi a falta de vontade de Kiev e de seus aliados ocidentais de resolver pacificamente a situação em Donbass que motivou o começo da operação especial, disse ainda o presidente, adicionando que “eles [os países ocidentais] acham que se beneficiam da crise atual na Ucrânia. Essa é uma desculpa para encobrir seus erros econômicos, tanto na área energética, quanto financeira”.

Um dos eventos da programação do SPIEF foi o projeto Amigos Para a Liderança (Friends For Leadership), que reúne jovens de todo o mundo em caráter permanente para promover iniciativas econômicas, culturais e humanitárias em formato multilateral, dimensão do evento que conta com a participação de uma representativa delegação brasileira.

“Estamos com a maior delegação brasileira da história do Friends For Leadership, com seis delegados”, relatou o cofundador e vice-presidente da Organização Russo-Brasileira de Jovens Compatriotas e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Boris Zabolotsky, à Sputnik Brasil.

Além do Brasil, países como África do Sul, Chile, China, Filipinas, Índia, Nepal, Quênia, Zimbábue, entre outros, estão representados no projeto Friends for Leadership.

Segundo Zabolotsky, a delegação brasileira teve agenda intensa de seminários e reuniões com autoridades russas, como o chefe da Agência Federal de Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes, de Compatriotas no Exterior e Cooperação Internacional Humanitária da Rússia (Rossotrudnichestvo), Yevgeny Primakov, e a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.

Durante sua participação no fórum, Zabolotsky apresentou o projeto Jornada pela Língua Russa, que coordena em parceria com o Rossotrudnichestvo e a Organização dos Jovens Compatriotas no Brasil. O projeto fornece curso de língua russa gratuito com professores nativos para jovens brasileiros durante três meses.

Outro projeto apresentado pela delegação foi o do Clube de Negócios Brasil-Rússia, encabeçado por Vera Gers Dmitrov, presidente do Conselho de Compatriotas Russos no Brasil.

“O Clube de Negócios é uma iniciativa voltada para que a juventude, startups e pequenas empresas que não têm como pagar o acesso às Câmaras de Comércio possam acessar espaços de negócios gratuitamente”, disse Vera. “O Clube cria um espaço seguro para prospectar parceiros comerciais e selar novos negócios”, informou.

Zakharova, porta-voz do MRE da Rússia (à esquerda) e Vera Gers, presidente do Conselho de Compatriotas Russos no Brasil.

O clube está em operação há três anos e conta com o apoio do Ministério da Agricultura e do Ministério da Indústria e Comércio da Rússia.

“O interesse russo no Brasil aumentou drasticamente”, revelou. “O Clube de Negócios está crescendo muito, e fornecendo palestras formativas para empresas russas que querem acessar o nosso mercado.”

No âmbito da reunião do Conselho Empresarial Rússia-Brasil para o diálogo empresarial do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, representantes de empresas e instituições públicas de ambos os países debateram as questões da cooperação em várias esferas, incluindo o complexo agroindustrial, a área farmacêutica, energética e bancária.

Durante a seção aberta da reunião, as partes envolvidas trocaram pontos de vista sobre uma cooperação mais estreita entre os países, que, nas condições de sanções coletivas dos países ocidentais, só expandiu as oportunidades para a troca de mercadorias.

Por exemplo, em 2022, o volume de negócios atingiu níveis recordes, que aumentaram 31%, em relação a 2021, alcançando US$ 9,8 bilhões (R$ 47,47 bilhões). O presidente da Associação Russa de Fabricantes de Fertilizantes, Andrei Guriev, observou que isso foi possível graças ao” desejo combinado de nossos círculos empresariais e políticos” de desenvolver e apoiar interesses comuns russo-brasileiros.

Observaram-se também algumas dificuldades que afetaram o volume de negócios em 2023. As duas principais razões são o cálculo mútuo e as dificuldades logísticas. As partes, durante a reunião, concordaram em encontrar “ferramentas” para criar um sistema confortável para o trabalho e desenvolvimento do setor empresarial dos dois países.

Fonte: Papiro