Reabertura econômica de Bolsonaro reduziu a renda do trabalhador
A reabertura da economia do Brasil após os primeiros – e piores – picos da pandemia de Covid-19 impactou a renda dos trabalhadores. Entre 2020 e 2021, quando o País estava sob o governo negacionista de Jair Bolsonaro (PL), cresceu o número de empresas abertas, bem como o de postos de trabalho.
Esse “aquecimento”, no entanto, foi à custa da redução do salário médio dos brasileiros. Os dados são da pesquisa “Estatísticas do Cadastro Central de Empresas – 2021 (Cempre 2021)”, divulgada nesta quarta-feira (21) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O início da crise sanitária, em março de 2020, foi marcado por medidas rigorosas de distanciamento social, incluindo o “fechamento” da economia. Houve um segundo pico da pandemia, ainda mais fatal, no primeiro semestre de 2021. Mas, graças a avanços como a adoção da vacina anti-Covid, alguns números da economia começaram a melhorar.
O número de empresas sem empregados assalariados cresceu 7,7% entre aqueles anos 2021, chegando a 3,08 milhões de pessoas. Já a quantidade de empresas com um ou mais empregados assalariados subiu 3,6% e foi a 2,66 milhões.
Com isso, o contingente de trabalhadores assalariados disparou 4,9%, abrangendo 47,62 milhões de pessoas – 2,2 milhões de trabalhadores a mais do que em 2020. O avanço ajudou a recuperar o recuo de -1,8% registrado de 2019 para 2020. Da mesma maneira, o PIB brasileiro – que havia despencado 3,3% em 2020 – cresceu 5,5% no ano anterior.
Em contrapartida, o custo de vida disparou, asfixiando o poder de compras dos brasileiros. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, considerado a inflação oficial do Brasil), fechou 2021 em 10,06%. A taxa foi a maior no País em seis anos e quase o dobro do IPCA de 2020, que foi de 5,45%.
Em meio ao disparo inflacionário, o salário médio real caiu 2,6% – era de R$ 3.353 em 2020 e foi para R$ 3.266 em 2021. Os valores já consideram o impacto da inflação – que, segundo o analista da pesquisa Eliseu Oliveira, foi devastador. Além disso, muitos trabalhadores retornaram à ativa com salários mais baixos.
“Com a inflação, os salários nominais – que podemos entender como os valores expressos no contracheque ou holerite – não foram capazes de manter o padrão de consumo das famílias em 2021”, declarou Oliveira ao Valor Econômico. “Em segundo lugar, o que pode explicar a queda nos salários reais é a existência de trabalhadores que perderam seus empregos na pandemia e aceitaram salários menores”, agrega.
O aumento de trabalhos que demandam baixa qualificação fica claro em outra estatística. No final de 2021, trabalhadores com nível superior recebiam um salário médio de R$ 6.613 – três vezes mais do que os R$ 2.238 de salário médio dos trabalhadores sem nível superior.