Bairros de Paris rebelados | Vídeo

“A polícia francesa matou um adolescente que havia se recusado a parar seu carro nos arredores de Paris, terça-feira (27), o que causou comoção e questionamentos sobre a disposição das forças de segurança em apertar o gatilho”, descreveu o jornal Le Monde, explicando a raiz da fúria das milhares de pessoas que foram às ruas da capital e de várias cidades do país para exigir “Justiça para Nahel”.

Diante da noite de confrontos que se multiplicaram logo após o assassinato de Nahel M. de apenas 17 anos, o clima era de profunda irritação e indignação com a impunidade dos tais “justiceiros”.

Com ao menos 24 presos e mais de duas dezenas de policiais feridos, as autoridades francesas foram obrigadas a ir aos meios de comunicação pedir calma, com pronunciamentos de luto e desculpas proferidos. Foi assim desde o chefe do Estado, Emmanuel Macron, que denunciou o ato como “indesculpável” e “inexplicável”, até a primeira-ministra Élisabeth Borne, que descreveu as imagens da execução como “chocantes”. “Mostram um tipo de ação que, evidentemente, não cumpre com as regras de intervenção das nossas forças policiais”, acrescentou Borne.

“Sinto-me mal pela minha França. Uma situação inaceitável”, protestou u Kylian Mbappé, estrela do Paris-Saint-Germain (PSG) e capitão da Seleção francesa de futebol.

Em homenagem ao jovem Nahel, parlamentares e membros do governo solicitaram um minuto de silêncio no início da tarde de quarta-feira à Assembleia Nacional.

Inicialmente, tentando criminalizar a vítima, “fontes” policiais alegaram que o adolescente havia sido alvejado após o seu veículo ter atropelado dois motociclistas em Nanterre, no departamento de Hauts-de-Seine (oeste de Paris). A versão foi logo desmentida por um vídeo divulgado nas redes sociais, já que um dos dois policiais manteve o motorista sob a mira de uma arma e disparou à queima-roupa. Ainda se escuta “Você vai levar um tiro na cabeça”, sem que se possa identificar o autor da frase.

Como os protestos continuaram, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou a mobilização à noite de dois mil policiais em Paris e nos subúrbios, 800 a mais do que na noite anterior. Em Nanterre, onde os confrontos foram os mais violentos, informou a prefeitura, “vários edifícios, incluindo escolas, sofreram danos significativos e inaceitáveis, por vezes irreparáveis, numa espiral destrutiva”.

Em Nantes (oeste) e Lille (norte), manifestantes também se somaram em frente às prefeituras para repudiar os “crimes policiais” e houve informação de veículos queimados.

Com 38 anos, o autor fardado dos disparos, suspeito do homicídio doloso, será interrogado pela equipe de Inspeção-Geral da Polícia Nacional e encontra-se sob custódia.

“Esses assassinatos envolvem a autoridade do Estado! Esta polícia deve ser totalmente refundada e seus assassinos punidos”, declarou o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon.

Fonte: Papiro