Putin em visita a centro militar | Vídeo

Pesquisa do Centro Levada de Moscou, dito como ‘o mais importante instituto de opinião da Rússia’, registrou índice de aprovação do presidente Vladimir Putin de 81%, sondagem concluída na terça-feira (27). A variação de dois pontos para menos em relação a maio foi considerada irrelevante.

O que indica que não funcionou a cruzada da mídia de Washington e de Bruxelas, nem o recente alarde de um “Putin enfraquecido”, no pós-fracasso do motim do oligarca Prigozhin no fim de semana passada.

As pesquisas do Centro Levada são tidas no Ocidente como “independentes”. A instituição recebe até fundos externos para seu funcionamento desde 2016.

Desde que Putin chegou ao poder em 2000, o Centro Levada já realizou mais de 270 pesquisas sobre o nível de aprovação de seu governo.

Para Alexey Levinson, diretor de pesquisas desde 2003, a atitude dos russos em relação a Putin não se trata de “adoração, nem culto de personalidade, nem carisma, ou mesmo atração pelo pulso de ferro”.

Os russos “têm nostalgia pelo tempo em que eram todos uma família e um grande Estado”, ele aponta, acrescentando que o poder de Putin “é simbólico”.

“Ele representa o homem soviético. Não é uma questão da etnia russa. O mais importante é a adoração ao Estado. O Estado é o valor supremo dos russos. É o que eles realmente valorizam. Putin representa a glória da Rússia, que parece crescer quando contestada pelos EUA e pelo Ocidente”.

Levinson acaba captando a rica experiência de construção da União Soviética, da democracia socialista em contraposição ao império czarista. A importância do enfrentamento e derrota da besta fera nazista da conhecida Grande Guerra Pátria; de sua nação se tornar o horizonte no planeta inteiro para aqueles que lutavam contra o colonialismo e a predação imperialista, o Estado como “valor supremo”.

Mas o importante é que, mesmo Levinson, haja tido que admitir que essa “adoração” à vida coletiva e à comunhão dos povos soviéticos ainda exista em tal grau na Rússia, depois de quatro décadas do fim da URSS e do socialismo e da destrutiva ascensão de Yeltsin e Gaidar, cujos resultados funestos Putin vem buscando, a duras penas, superar.

Para Levinson, “as empreitadas militares” ajudam Putin, citando 2008 (na Geórgia), 2014 (na Ucrânia) e agora a operação militar especial russa.

Uma concepção míope, que não enxerga o pano de fundo desta aprovação: desde 2007, na Conferência de Segurança de Munique, Putin deixou claro sua posição, com seu célebre discurso quando disse que a ordem unipolar sob Washington estava falida e alertou que a Rússia não admitiria a expansão da Otan até a Ucrânia e a Geórgia. Na Geórgia, inclusive os europeus na época reconheceram, foi um fantoche dos EUA que começou o tiroteio.

Em 2014, a CIA deu um golpe para “desrrussificar e descomunizar” a Ucrânia, o que provocou o levante no Donbass historicamente russo, e que Putin tentou resolver com os Acordos de Minsk.

Em 2022, o regime de Kiev havia anunciado que não respeitava os Acordos de Minsk, que iria entrar na Otan e ter armas nucleares, enquanto EUA e Otan se recusaram a negociar acordo proposto pela Rússia de restauração do princípio de Helsinki de “segurança coletiva e indivisível” na Europa.

Levinson lembrou que em fevereiro do ano passado a aprovação de Putin “atingira o nível mais baixo, 60%” – aliás, um patamar praticamente inalcançável para qualquer “líder” dos países centrais – nem Biden, nem Scholz, nem Macron, nem von der Leyen, ainda menos Sunak estão nesta faixa de aprovação.

Nos três casos (2008, 2014 e agora), a luta contra as guerras da Otan adicionou aprovação de 12 a 20 pontos percentuais para Putin, fato também reconhecido por Levinson. Só em um momento nesses 16 meses de invasão, em setembro de 2022, quando foi declarada a mobilização de soldados, houve perda de sete pontos, mas, mesmo esta, com rápida recuperação, em dois meses.

As pesquisas do Centro Levada também perguntam que setores sociais Putin representa. A resposta mais popular sempre foi “as forças de segurança” – que é a origem do presidente. Em seguida, os “oligarcas”, isto é, como explica Levinson, “banqueiros e capitalistas”. Ou seja, não há ilusões entre os russos com relação às limitações de Putin, mas sim o reconhecimento patente de seu papel na defesa da soberania nacional.

Isso é verificado por Levinson. Os russos “não têm ilusões” e Putin não é visto como representante das pessoas comuns diz ele. “Não é pai dos pobres. Eles entendem quem ele é e o apoiam. E expressam desejo que continue no poder mesmo depois de 2024”, quando serão as próximas eleições.

Fonte: Papiro