Altos funcionários e conselheiros de segurança nacional de vários grandes países, participaram de uma reunião em Copenhague no fim de semana com um item na agenda: a paz na Ucrânia. No entanto, o silêncio em torno do evento parece dizer que o resultado não mereceu ser noticiado. O assessor especial e ex-chanceler Celso Amorim representou o Brasil e o presidente Luis Inácio Lula da Silva no encontro. Os americanos acabaram cancelando a participação.

A reunião ocorreu no mesmo final de semana em que a Ucrânia havia anunciado uma contraofensiva inédita contra a Rússia. Também foi o dia em que o líder do agrupamento Wagner, Yevgeny Prigojin, virou a casaca e resolveu marchar sobre Moscou, recuando no mesmo dia diante da fúria de Vladimir Putin. 

Todo um cenário armado para garantir uma reviravolta na opinião pública internacional e trazer os indecisos para o lado de Volodimir Zelensky, que foi quem tomou a iniciativa pela reunião. Como o chefe de gabinete de Zelenskyi, Andriy Yermak, confirmou, a reunião foi sobre a preparação do terreno para a paz entre a Rússia e a Ucrânia.

“Durante as consultas, mais uma vez informamos detalhadamente nossos parceiros internacionais sobre o plano de paz do presidente Zelensky”, escreveu Jermak no Twitter no domingo. Um plano de paz que teria condicionantes muito diferentes daquelas que estão inscritas, caso a derrota da Rússia se confirmasse.

Zelenskyy exige que a Rússia renuncie a todas as terras ocupadas. Não apenas as áreas que foram conquistadas desde que a Rússia iniciou a guerra em fevereiro de 2022. A Ucrânia também exige a devolução da península da Crimeia, que Vladimir Putin ocupou em 2014. 

Hoje, a Rússia ocupa cerca de 20% da Ucrânia. Putin dificilmente pode sair de mãos vazias da guerra que ele deflagrou e que deve garantir a continuidade de seu poder e a sobrevivência do regime.

No final do dia, não se fala mais nem da reunião em Copenhague, nem na poderosa contraofensiva armada, que também não deu os resultados esperados. Apenas no exílio melancólico do magnata russo que traiu a pátria e acabou se escondendo na Bielorrúsia, enquanto seus soldados deixavam os campos de batalha.

O conselheiro de segurança nacional americano Jack Sullivan teve que cancelar pouco antes da reunião porque teve que acompanhar o presidente Joe Biden ao acampamento militar de Camp David. Em vez disso, ele conduziu a reunião por meio de uma conexão de vídeo.

Silêncio em Copenhague

Pelas fotos, entre outros, participou Barbara Bertelsen, chefe do Departamento do primeiro-ministro da Dinamarca, e ocorreu em Eigtveds Pakhus no Ministério das Relações Exteriores em Copenhague. 

Entre outros, o correspondente de política de segurança do jornal dinamarquês Berlingske, Simon Kruse, está por trás dos parcos relatos sobre a reunião, com base em fontes diplomáticas.

“A reunião é uma iniciativa da Ucrânia. Tem sido sigiloso porque deve servir de preparação para uma cúpula futura com a participação dos chefes de estado e de governo dos países”, diz Simon Kruse.

Portanto, é no campo de batalha que a batalha está sendo travada agora. Mas, ao mesmo tempo, está sendo feito um trabalho muito árduo no nível diplomático para conseguir a paz em algum momento, quando e se for a hora certa. Aqui, segundo Simon Kruse, vale destacar quais países participaram do encontro de Copenhague.

“Entre outros, Brasil, Índia, África do Sul e Arábia Saudita participaram do encontro. É, portanto, um círculo mais amplo do que os países ocidentais que expressaram apoio inequívoco à Ucrânia. A China também foi convidada, mas atuou mais como observadora’, diz Simon Kruse.

Com exceção do Brasil, os países mencionados, ao contrário dos países da OTAN, não expressaram condenação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Os países são, portanto, importantes para a Ucrânia porque podem ajudar a pressionar a Rússia.

Kruse também diz que não é por acaso que aconteceu de ser Copenhague: “A Dinamarca tem sido uma apoiadora leal da Ucrânia e também pode ser uma vantagem o fato de ocorrer em um país que não é uma grande potência”, diz Simon Kruse. 

Não se sabe com o que a reunião terminou. Aliás, pouco se falou na mídia do evento, que teria outro papel caso as turbulências na Rússia fossem para onde se queria no Ocidente rico. Aparentemente, o esquecimento da reunião está relacionada com a apatia que deve ter dominado o evento.

Em um comentário sobre a reunião, o gabinete do primeiro-ministro escreve no domingo:

“Funcionários (conselheiros de segurança nacional e diretores políticos) da Ucrânia, do G7+UE e de um grupo selecionado de países amplamente representados se reuniram em Copenhague em 24 de junho. O objetivo da reunião foi uma troca de pontos de vista e uma discussão geral de um possível caminho a seguir para um processo de paz”. Ponto final.

Com informações do Berlingske

(por Cezar Xavier)