Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Uma pesquisa da Sociedade de Economia da Família e do Gênero (Gefam), com base em dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE, mostra que as mulheres ainda sofrem, de forma mais acentuada do que os homens, os efeitos econômicos da pandemia no mercado do trabalho.

Fortemente atingidas pelo desemprego e com mais dificuldades de retomar a busca por uma ocupação, 26,1 milhões de mulheres estavam excluídas do mercado de trabalho, ou seja, não estavam nem procurando emprego, no final de 2022. O índice representa dois terços do total de brasileiros, com os homens somando 12,7 milhões.

A pesquisa, divulgada pelo Jornal O Globo, mostra que, enquanto os homens já voltaram ao patamar de participação no mercado de trabalho do período pré-pandemia, as mulheres encontram mais barreiras. Conforme os dados do estudo, a População Economicamente Ativa (PEA) – pessoas que trabalham ou procuram emprego – de homens, em 2019, era de 55,5 milhões. Com a pandemia, caiu para 21,7 milhões em 2020. E no ano passado, o índice superou o patamar pré-pandemia e chegou a 55,8 milhões. Entre as mulheres, eram 45 milhões em 2019, caindo para 39,5 milhões em 2020. Em 2022, o índice permanece abaixo da pré-pandemia, com 44,6 milhões.

Segundo a pesquisa do Gefam, o que mais pesa para as mulheres desistirem de procurar trabalho são o cuidado com os filhos e o trabalho doméstico. Em 2022, quase 44% das que se afastaram do mercado de trabalho disseram que precisaram ficar em casa. Entre os homens, esse índice foi de apenas 10%.

Uma outra pesquisa, intitulada “Licença maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, realizada pela Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV EPGE), também revela que, sem suporte para o cuidado com os filhos, cai a participação das mulheres no mercado de trabalho. A pesquisa aponta que metade das mulheres com a trajetória profissional analisada no estudo estava fora do mercado de trabalho 12 meses após o início da licença-maternidade.

De acordo com a doutora em economia e professora da UFF (Universidade Federal Fluminense), Lucilene Morandi, “dos 25 aos 44 anos, as mulheres perdem competitividade no mercado de trabalho, já que saem dos empregos para cuidar das crianças, quando não têm apoio para esse cuidado ou condições financeiras para pagar por isso; ou partem para empregos de menor qualificação, ou de período parcial”.

É o que também revela a pesquisa do Gefam, segundo a qual o cenário é ainda pior para mães solo com filhos pequenos, muitas vezes as únicas responsáveis pela renda de subsistência de suas famílias. Os dados mostram que “a participação desse grupo no mundo profissional vinha aumentando desde 2015, mas voltou a cair”.

Dados do 3º trimestre de 2022 da Pnad Contínua revela também que o rendimento médio real mensal das mulheres ocupadas nesse período era 21% menor do que o dos homens. “Os indicadores mostraram o que se vivencia na prática: um contingente de mulheres que ganha menos se insere de forma precária e leva mais tempo em busca de colocação no mercado de trabalho. Esse quadro faz com seja perpetuada a situação de vulnerabilidade não só da mulher chefe de família, mas de todos os familiares, com a transferência de milhares de crianças e jovens da escola para o mercado de trabalho, para que contribuam com a renda da família”, afirma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Fonte: Página 8