Representante de 46 mil residentes, Associação Médica Britânica exige aumento real de salário | Foto: AFP

Exigindo a reposição das perdas e aumento real de salário, os médicos residentes anunciaram na sexta-feira (23) paralisação do Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido.

Conforme a Associação Médica Britânica (BMA), que representa 46 mil residentes, houve um brutal corte de 35% nos salários em termos reais da categoria nos últimos 15 anos, pois o poder de compra não acompanhou o ritmo de crescimento da inflação. Eles reivindicam que os salários sejam restaurados aos níveis de 2008-2009.

Os residentes representam cerca de metade de todos os médicos hospitalares ingleses e um quarto de todos os médicos que trabalham em consultórios de clínica geral.

INTRANSIGÊNCIA GOVERNAMENTAL

Convocada logo após o Serviço de Saúde marcar o seu 75º aniversário, a greve segue uma paralisação de 72 horas realizada em oposição à recusa do governo em apresentar uma proposta de reajuste superior a 5%. “Depois de uma paralisação de três dias de médicos residentes já neste mês, forçando a remarcação de mais de 100 mil procedimentos e consultas (mais de 651 mil no total desde dezembro) e com enfermeiras, radiologistas e consultores – que poderiam entrar em greve por dois dias em julho – sendo votado também, este número está fadado a aumentar em muitos milhares mais”, assinalaram.

Os médicos reiteraram que é fundamental que o governo esteja informado e atue com responsabilidade diante do comunicado, uma vez que milhares de profissionais irão se ausentar por cinco dias, começando na manhã de 13 até 18 de julho.

De costas ao problema, o porta-voz do primeiro-ministro Rishi Sunak disse encarar o comunicado como um novo ataque “extremamente decepcionante”. Tentando transferir para os médicos a responsabilidade do baixo orçamento destinado, acrescentou que a greve “coloca em risco a segurança do paciente e nossos esforços para reduzir as listas de espera”.

Robert Laurenson e Vivek Trivedi, que presidem conjuntamente o comitê de médicos residentes da BMA, denunciaram que, ao que tudo indica, a intenção do governo é deixar o serviço de saúde “declinar até o ponto de colapso”.

Uma recente pesquisa da BMA apontou que mais da metade dos cerca de dois mil médicos que responderam avisaram terem recebido ofertas para se mudarem ao exterior apenas nos últimos quatro meses. Um dos exemplos de ofertas de melhores empregos, explicaram, é o governo da Austrália, que até pagou para que caminhões de publicidade fossem enviados para os piquetes oferecerem melhores salários para quem migrasse.

É a intransigência e a falta de diálogo, enfatizaram os dirigentes dos residentes, que está forçando a que seja realizada “a mais longa paralisação de médicos da história do NHS”. Mas ainda há tempo do governo corrigir o rumo, alertaram. A greve pode ser evitada se forem abertas negociações e apresentadas “ofertas confiáveis”. “Este não é um recorde que precisa entrar nos livros de história”, sublinharam.

Separadamente, o Sindicato dos Enfermeiros também rejeitou a oferta de reajuste de 5% e está consultando seus filiados para uma nova greve.

Na Escócia, após negociações com o governo, foi oferecido um aumento salarial de 14,5% aos residentes em um período de dois anos. Da mesma forma, a BMA Escócia anunciou que três dias de greve ocorreriam entre 12 e 15 de julho caso a proposta não seja melhorada.

Muitos outros setores, de transporte, educação e serviços de emergência do Reino Unido ampliaram a pressão e anunciam paralisações por aumento real de salário, já que os níveis de inflação provocaram uma alta no custo de vida.

Fonte: Papiro