Lula salienta papel da Amazônia como patrimônio ambiental e econômico
Em consonância com um dos pontos centrais do evento Novo Pacto Financeiro Global, em Paris, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva salientou em seu discurso, nesta sexta-feira (23), o compromisso do governo com o fim do desmatamento e o papel da preservação da Amazônia para mitigar a crise climática e ao mesmo tempo, superar desigualdades.
Numa fala ao mesmo tempo propositiva sobre o papel do Brasil e contundente em relação ao dos países ricos no debate ambiental, Lula deixou claro que é preciso ir além dos discursos e tratados nunca cumpridos pelas potências, mas cobrados por estas em relação às nações em desenvolvimento, como aconteceu com as regras de punição estabelecidas pela União Europeia como condição para a assinatura do acordo com o Mercosul. O assunto, aliás, foi um dos pontos mais criticados e abordados por Lula nesta viagem ao continente.
“Nós queremos fazer disso (a Amazônia) um patrimônio não apenas de preservação ambiental, mas um patrimônio econômico, para ajudar os povos que moram na floresta. Nessa floresta brasileira, nós temos 400 povos indígenas. E, desses 400 povos indígenas, nós temos 300 idiomas”, destacou o presidente após falar das dimensões e importância do bioma e da realização da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, COP-30 em Belém, no Pará, em 2025.
Lula também salientou que no dia 12 de agosto, os presidentes de países sul-americanos que compõem a Amazônia se encontrarão também na capital paraense para fechar uma proposta comum a ser levada na COP-28, que acontece nos Emirados Árabes de 30 de novembro a 12 de dezembro.
O presidente lembrou, ainda, das adversidades da região amazônica, que têm sido combatidas desde que tomou posse. “Nós enfrentamos o garimpo, nós enfrentamos o crime organizado. E nós enfrentamos muitas vezes pessoas de má-fé querendo tentar fazer com que nessa floresta se plante soja, se plante milho, se crie gado, quando na verdade não é necessário fazer isso”, apontou.
Lula disse, ainda, que “a questão climática não é uma coisa secundária” e enfatizou: “vamos colocar isso como questão de honra, de até 2030 acabar com o desmatamento na Amazônia. O Brasil tem 30 milhões de hectares de terras degradadas, não precisa cortar uma árvore para plantar um pé de soja, um pé de milho ou criar gado. É só recuperar as terras degradadas”.
Quanto às iniquidades que atingem milhões de pessoas no planeta, Lula disse: “somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo”.
Ao falar sobre o papel dos organismos internacionais, como a ONU, e a necessidade de reformá-los para adequá-los à realidade atual, o presidente brasileiro declarou: “se nós não mudarmos essas instituições, a questão climática vira uma brincadeira. E por que vira uma brincadeira? Quem é que vai cumprir as decisões emanadas dos fóruns que nós fazemos? É o Estado Nacional?”.
Lula continuou colocando em xeque o comportamento, sobretudo, dos países ricos: “Vamos ser francos: quem é que cumpriu o Protocolo de Quioto? Quem é que cumpriu as decisões da COP-15, em Copenhague? Quem é que cumpriu o Acordo de Paris? E não se cumpre porque não tem uma governança mundial com força para decidir as coisas e a gente cumprir”.
“Se cada um de nós sair de uma COP e voltar para aprovar as coisas dentro do nosso Estado Nacional, nós não iremos aprovar. Então é preciso ter clareza que se nós não mudarmos as instituições, o mundo vai continuar o mesmo. Quem é rico vai continuar rico, quem é pobre vai continuar pobre. É assim. E falo isso com pesar”, pontuou.