Manchete de cama do New York Times diz que "Brasil vota para barrar Bolsonaro do cargo por acusações de fraude eleitoral", num texto que remete diretamente aos episódios envolvendo Donald Trump

Jornais de todo o mundo mostraram como Brasil lida com abusos contra a democracia. O julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que levou a inelegibilidade de Jair Bolsonaro deu uma demonstração da solidez das instituições democráticas brasileiras ao atacar fake news e desinformação eleitoral disseminada pelo ex-presidente.

Mas a imprensa estrangeira também observou a força da direita e do conservadorismo no Brasil, ao apontar a encruzilhada em que a condenação coloca esse campo político, ao perder seu principal líder. Americanos e europeus já avaliam como a direita se movimenta para absorver os votos bolsonaristas. 

Alguns veículos já consideraram o fato do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já fazer um apelo aos eleitores de Bolsonaro e um suposto clima de perseguição ao seu líder. “Podem acreditar que a injustiça de hoje será capaz de revelar o eleitor mais forte da nação.” 

Vários veículos observam o baque que sofre o campo político do bolsonarismo com esta decisão judicial. Nos EUA foi inevitável a comparação entre Bolsonaro e Donald Trump.

Veja, abaixo, como a notícia repercutiu na imprensa internacional

Estados Unidos

The New York Times diz que a decisão do TSE “remove um dos principais candidatos da próxima disputa eleitoral” no Brasil e desfere um golpe significativo no movimento da extrema direita.

“A decisão é uma repreensão afiada e rápida do Sr. Bolsonaro e seu esforço para minar as eleições do Brasil. Há apenas seis meses, o Sr. Bolsonaro era presidente de uma das maiores democracias do mundo. Agora, sua carreira como político está em risco.”, diz o NYT.

The Washington Post se referiu a Bolsonaro como “Trump dos Trópicos”. No Brasil, Bolsonaro repetiu movimentos do trumpismo para se eleger em 2018, investiu na disseminação de fake news e teorias da conspiração, além de levantar suspeitas sobre o processo eleitoral. O Post diz que a decisão vira de ponta cabeça a carreira política do ex-presidente, “possivelmente eliminando as chances de ele voltar ao poder.”

“Ninguém no Brasil mostrou a capacidade de Bolsonaro de energizar a direita. Mas seus aliados já estão buscando seu substituto. Eles esperam que lançar o ex-presidente como vítima de um sistema corrupto fortaleça sua causa. Um candidato para sucedê-lo, dizem os apoiadores, é sua esposa, Michelle Bolsonaro”, diz o Post.

The Wall Street Journal afirma que a decisão “pode deixar ainda mais tenso o cenário político na maior nação da América Latina.”

A Bloomberg diz que os esforços de Bolsonaro para semear dúvidas sobre as eleições de 2022 agora colocam em risco seu futuro político.

Europa

A rede britânica BBC destacou que Bolsonaro resistiu em reconhecer publicamente sua derrota.

Financial Times, também britânico, afirma que a maioria pela inelegibilidade “acaba com as esperanças do populista de direita voltar rapidamente ao poder.”

O inglês The Guardian também diz que “a marginalização de Bolsonaro, a figura dominante na direita brasileira, gerou especulações sobre quem pode herdar os formidáveis 58 milhões de votos que recebeu no ano passado.

O espanhol El País classificou o ex-presidente de “ultradireitista” e lembrou que ele enfrenta outros processos judiciais.

Corriere Della Sera, da Itália, relembrou o histórico do ex-presidente. “Bolsonaro fez declarações falsas e distorcidas sobre o sistema eleitoral, afirmando se basear em dados oficiais, mas sem fornecer nenhuma prova, além de desacreditar os próprios ministros do TSE”, afirma o jornal.

A TV francesa France24 chama a decisão de “um raio na política brasileira.”

O francês Le Monde, como vários outros veículos, mencionou a frase do Ministro da Justiça, Flávio Dino, de que ”a democracia venceu seu teste mais difícil em décadas”. Apesar disso, lembram que a extrema-direita no Congresso é mais forte, agora, que no tempo de Bolsonaro. 

Diário de Notícias, de Portugal, destacou os planos de Bolsonaro e do PL para as eleições municipais de 2024. Eles devem criar uma campanha sob o mote “perseguição política” para angariar mais votos, conforme já antecipou Valdemar da Costa Neto.

América Latina

O argentino La Nación afirma que a decisão abre “uma corrida pela liderança da direita no Brasil, por enquanto sem alternativas claras”.

Na Colômbia, El Tiempo pontuou toda a argumentação dos ministros do TSE para justificar a condenação. Um cuidadoso levantamento de todos os abusos contra a democracia. 

O La Nación, do Chile, como a maioria dos veículos de todo o mundo, apenas pontuou as acusações relacionadas com o evento de Bolsonaro para Embaixadores, atacando as urnas eletrônicas. Apresentou os argumentos principais e as reações da defesa, que deve recorrer, sem chance de reverter o quadro.

A Aljazira lembrou como Bolsonaro incitou a seus eleitores para rejeitar sua derrota, levando aos ataques de 8 de janeiro, em Brasília. Observou também que, aos 68 anos, a punição é um duro golpe na carreira política. O jornal árabe também destaca o fato da popularidade do ex-presidente ainda ser alta entre setores conservadores, embora sua luta mais urgente, seja para evitar a prisão.

O News24 da África do Sul diz que “A carreira de Bolsonaro foi destruída quando a maioria do tribunal brasileiro votou para impedi-lo por 8 anos”. “O julgamento do TSE faz parte de um acerto de contas mais amplo no Brasil com as consequências da eleição mais dolorosa do país em uma geração. Enquanto o ex-presidente enfrenta o escrutínio do tribunal eleitoral, muitos de seus ex-aliados estão sendo questionados por legisladores em uma investigação do Congresso sobre os distúrbios de 8 de janeiro”, avalia o jornal sul-africano.

(por Cezar Xavier)