Trabalhador Bocha e estudante Mijael perdem olho na repressão a protestos em Jujuy | Fotocomposição

Numa brutal repressão que deixou ao menos 170 pessoas feridas, 69 presas, duas mutiladas e uma lutando pela vida, a polícia de Jujuy, cumprindo ordens do governador Gerardo Morales, agiu para deter protestos contra as medidas que visam permitir a usurpação de minas de lítio localizadas em reservas indígenas da região.

A repressão desencadeada nesta sexta-feira (16) inclui operações ilegais, pois são “devidamente acompanhadas por veículos sem identificação e perseguições em residências e bairros”, como informou o jornal Página12. A agressão à população sublevada segue até esta quinta-feira (22).

O papel que Morales chama de “Constituição” foi aprovado sem debate às 5:30 da madrugada do dia 20, sob protesto de parte dos parlamentares locais.

Além disso, a nova “legislação” reprime o direito de protesto; regulamenta – em favor dos assaltantes à posse das terras das comunidades indígenas onde se encontram recursos naturais como o lítio -, impõe novos mecanismos de seleção de juízes e até modifica órgãos de controle.

Convocada em defesa do seu patrimônio e de seus direitos, milhares se manifestam contra o esbulho de Morales.

O funcionário municipal conhecido como Bocha perdeu um olho e corre o risco de perder o outro após ser baleado no rosto pela Infantaria, sob o comando do secretário de Segurança de Jujuy, Guillermo Corro. Também vítima das balas policiais, um rapaz de 17 anos, Mijael Lian Lamas, perdeu um olho.

Mais recentemente, o dirigente partidário Nelson Mamani ficou gravemente ferido, perdendo muito sangue, e se encontra entre a vida e a morte após ter sido atingido com um disparo pela repressão.

Conforme um dos organizadores do protesto, Eduardo Belliboni, a situação é grave pois “a polícia mirava nas cabeças”, uma vez que comunidades indígenas, sindicatos e partidos políticos “rechaçam tanto a forma como o conteúdo da proposta do governo provincial”.

Como denunciaram as entidades, os inúmeros problemas e o andamento do projeto de Morales geraram a ira das comunidades que se organizaram para viajar do norte da província até a capital. Esse objetivo foi anulado após a aprovação do novo texto “constitucional” imposto na madrugada anterior à sua chegada. A votação foi comandada pelo próprio Morales, após uma sessão viciada, na calada da noite.

Imagens de espancamentos, apedrejamentos e prisões proliferaram pela internet ao longo de todo o final de semana, incluindo a prisão de dois profissionais da imprensa, cuja libertação foi exigida pelo Fórum de Jornalistas Argentinos (Fopea).

Em carta ao governador de Jujuy, nesta quarta-feira (21), o Prêmio Nobel da Paz e chefe do Serviço de Justiça e Paz (Serpaj), Adolfo Pérez Esquivel, defendeu que os habitantes do local sejam respeitados. “A repressão desencadeada pelas forças de segurança da província nos remete aos tempos de autoritarismo e repressão que vivemos durante a ditadura militar. Isso não contribui para o fortalecimento da democracia, dos direitos humanos e dos direitos do povo”, sublinhou Esquivel.

Fonte: Papiro