Aloizio Mercadante | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

“O Banco Central está cada vez com mais dificuldade em encontrar argumentos para justificar o injustificável”, afirmou o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, em entrevista à colunista de economia do Jornal da Band, Juliana Rosa.

“Como a inflação está caindo os juros estão aumentando. As empresas estão ficando sufocadas. Você tem 70 milhões de pessoas inadimplentes, que não conseguem pagar as contas”, destacou.

Na avaliação do presidente do BNDES, o Brasil voltou a “respirar, a taxa de crescimento aumentou, a inflação caiu fortemente, contra todas as previsões”. Porém, “o Brasil hoje é um cavalo louco para correr na pista, para crescer, mas que tem um jóquei que fica segurando e não deixa o cavalo crescer”, declarou Mercadante fazendo críticas ao Banco Central (BC), comandado por Campos Neto.

“A pergunta é simples, por que o Brasil que tem uma das inflações mais baixas da economia mundial tem a maior taxa de juros?, questionou Mercadante. “Ao contrário do que se escreve nos jornais, do que o mercado diz, não é uma taxa de juros que está estável em 13,75%. Não. Como a inflação está caindo, a taxa de juros real está aumentando. Quer dizer, a taxa de juros chegou a 13,75% e a inflação era de 12%. Então, ela era de 1,75% [juros reais]. Quando a inflação está chegando em 4%, nós vamos ter 9,75% [de Juros reais]. É isso que nós estamos falando, a taxa de juros está aumentando em termos reais. Não faz nenhum sentido na minha visão”, criticou o presidente do BNDES.

“Mas era a previsão do mercado. Se era a previsão do mercado, os bancos estão reconhecendo que erraram. O Itaú acaba de emitir uma nova análise de economia, vai crescer mais do que eles esperavam, a inflação vai ser menor do que eles esperavam. Só que a correção que eles fizeram é de 65%. Isso tem que ser refletido na taxa de juros”, argumentou Mercadante.

“O Brasil hoje é um cavalo louco para correr na pista, para crescer, mas que tem um jóquei que fica segurando e não deixa o cavalo crescer. O cavalo não vai ganhar a corrida nunca assim. Tem que dar pista pro cavalo correr, tem que ter crédito. Tem que ter um juro mais competitivo. Todas as previsões de futuro do mercado, a taxa de juros do futuro já caiu. O câmbio já voltou, o arcabouço fiscal está sendo aprovado – foi aprovado na Câmara e vai ser aprovado no Senado. Então, nós estamos no momento de virada da economia”, observou Mercadante.

O presidente do BNDES também desmontou a narrativa criada por Campos Neto de que o crédito direcionado está entre os fatores que geram os juros altos no Brasil.

“A potência da política monetária, eu vi o argumento do presidente do Banco Central dizendo assim, ‘42% do crédito é público é isso que dificulta [a queda da taxa de juros]’. O crédito público, uma parte, é crédito livre. Por exemplo, se você pegar um cartão de crédito do Banco do Brasil ou da Caixa é igualzinho ao Bradesco, do Santander e tal. Não tem diferença na taxa, no preço, no juro, é o mesmo mecanismo. Quer consignado, é o mesmo mecanismo”, explicou.

“O crédito direcionado é 11% apenas do volume total de crédito”, seguiu o presidente do BNDES. “Agora, crédito direcionado não é crédito subsidiado. O crédito subsidiado é 7,6% do total de crédito. E o que é subsidiado: habitação popular (Minha Casa Minha Vida) e agricultura. Alguém vai retirar esses subsídios? Não. O BNDES é um e meio por cento do total do volume de desembolso. Então, como é que um e meio interfere na potência da política monetária?, questionou Mercadante. “Nós estamos falando de um volume de crédito de quatro trilhões e 700 milhões de reais. Isto não é razoável”.

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