Contratorpedeiro dos EUA no Estreito de Taiwan em águas de soberania chinesa | Foto: Divulgação

Em pronunciamento no Fórum Dialogo de Shangri-La, que se encerra neste domingo (4) em Cingapura, o ministro da Defesa da China, general Li Shangfu, advertiu Washington sobre o incidente da véspera no Estreito de Taiwan, enfatizando que a China irá “impedir as tentativas de usar [patrulhas de] liberdade de navegação, aquela passagem inocente, para exercer a hegemonia da navegação”.

No sábado, um navio de guerra chinês chegou a 137 metros do contratorpedeiro americano USS Chung-Hoon e de uma embarcação canadense com a qual realizava exercícios, após ter seu alerta aos intrusos de que estavam entrando em águas territoriais chinesas, ignorado.

O navio chinês arremeteu na direção do contratorpedeiro norte-americano e avisou que haveria uma colisão se este não mudasse de rumo, de acordo com o Global News do Canadá, cujos repórteres, a bordo do HMCS Montreal, testemunharam o quase acidente.

No último momento, o navio de guerra chinês alterou seu curso e evitou a colisão. Falando na mesma conferência no sábado, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, chamou de “passagem inocente” as incursões a milhares de quilômetros dos EUA no Estreito de Taiwan e no Mar da China Meridional e disse que Washington não recuaria “diante de bullying ou coerção”.

O ministro da Defesa chinês reiterou que os EUA e seus aliados eram responsáveis ​​pelo aumento das tensões na região e aconselhou Washington a cuidar “bem de seu próprio espaço aéreo e águas territoriais”. Ele acrescentou: “Na China, sempre dizemos: ‘Cuide da sua vida’”.

Considerada a principal plataforma para debater questões de segurança da região Ásia-Pacífico, o Diálogo de Shangri-La é organizado regularmente desde 2002 pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think tank independente com sede no Reino Unido.

No seu primeiro discurso internacional desde que se tornou ministro da Defesa da China em março, Li também enfatizou a posição de Pequim em relação a Taiwan, chamando-a de “o centro de nossos principais interesses” e disse que nunca hesitaria em “defender nossos direitos e interesses legítimos”. Ao estabelecer relações diplomáticas com a China no governo Carter, os EUA se comprometeram a respeitar a política de ‘Uma China’, isto é, o reconhecimento de Taiwan como parte inalienável do território chinês, cuja reunificação é considerada por Pequim como etapa essencial do rejuvenescimento da milenar nação chinesa.

De 1949 até 1971, o governo do partido Kuomitang em Taiwan usurpou no Conselho de Segurança da ONU a representação da nação chinesa, o que foi corrigido pela Assembleia Geral da ONU, com a devolução da representação à República Popular da China.

No final de maio, em outro incidente decorrente das investidas dos EUA no Mar da China Oriental, um avião de reconhecimento militar norte-americano RC-135 se aproximou da área de exercício do grupo do porta-aviões chinês Shandong, e foi devidamente afastado pela aviação chinesa. Pentágono chiou que o chega-pra-lá no avião-espia seria “manobras perigosas e não-profissionais” e perturbara seu direito divino de monitorar o “espaço aéreo internacional”.

Outra reclamação de Washington é que Pequim vem se negando a atender os telefonemas do Pentágono e as conclamações para uma reunião entre Austin e Li.

Aparentemente, o Pentágono tinha a expectativa de realizar a reunião bilateral agora em Cingapura. A recusa da China tem como causa a hipocrisia norte-americana que, enquanto diz desejar um diálogo, mantêm o ministro da Defesa Li na lista de sancionados desde 2018.

Não há como ignorar a deterioração da situação de segurança na região, decorrente do acirramento por Washington dos confrontos em Taiwan, estabelecimento de novas bases militares dos EUA nas Filipinas e Papua Nova Guiné, bem como a criação do bloco anti-chinês AUKUS e de outras estruturas de militarização do que Washington chama de Indo-Pacífico.

Fonte: Papiro