Coreanos lotam estádio na capital Pyongyang | Foto: AVA

120 mil trabalhadores e estudantes lotaram um estádio em Pyongyang para marcar o 73º aniversário da eclosão da Guerra da Coreia, registrou a agência de notícias da Coreia Popular (Norte), KCNA, e em repúdio à intervenção norte-americana e divisão do milenar país sob a ocupação que se seguiu à expulsão dos japoneses em 1945. Manifestantes exibiram cartazes de “Imperialistas dos EUA são os destruidores da paz”.

Com a retomada das manobras de ensaio de guerra na península coreana pelo Pentágono e pelo atual governo subserviente, a multidão também festejou a construção pela nação socialista de sua força nuclear de dissuasão sob as mais difíceis condições, após o governo de W. Bush ter pintado um alvo no país ao nomeá-lo como integrante do “eixo do mal”.

Como advertiram os manifestantes, se referindo ao desenvolvimento de sua détente, “todo o continente dos EUA está dentro do nosso campo de disparo”.

A reunificação e reconciliação coreana, em paralelo com a retirada das tropas e bases norte-americanas no sul, permanecem como uma tarefa a ser completada. Na Coreia do Sul, que viveu um intenso movimento de democratização e se industrializou, a direita pró-ianque voltou ao poder, depois de um governo pró-reconciliação. Washington vem tentando, com dificuldade, arregimentar Seul para sua política de contenção da China.

Enquanto Pyongyang comemora a façanha da “primeira derrota militar dos EUA na história”, hipocritamente países com dezenas e até centenas de satélites de uso militar repreendem a Coreia Popular por pretender repetir o teste de maio que falhou, de lançamento de seu primeiro satélite de vigilância militar. Acredita-se que o mais novo míssil balístico intercontinental norte-coreano pode atingir qualquer parte dos EUA.

A Coreia do Norte agora tem “a arma absoluta mais forte para punir os imperialistas dos EUA” e os “vingadores nesta terra estão queimando com a vontade indomável de retaliar o inimigo”, disse a KCNA.

Recentemente, os EUA anunciaram o ingresso de submarinos nucleares em portos sul-coreanos e montaram uma coordenação nuclear “conjunta” com Seul. Pyongyang advertiu que os EUA estão “fazendo esforços desesperados para desencadear uma guerra nuclear”. As Coreias do Norte e do Sul permanecem tecnicamente em guerra porque seu conflito de 1950-53 terminou em uma trégua, não em um tratado.

PRIMEIRA DERROTA MILITAR DOS EUA

A Guerra da Coreia eclodiu no dia 25 de junho de 1950 – nove meses após a vitória da Revolução na vizinha China – e terminou com um armistício no dia 27 de julho de 1953, uma espécie de Vietnã 20 anos antes.

Quanto a isso, foi o próprio general norte-americano que assinou o Armistício, Mark Clark, que reconheceu: “Ao executar as instruções de meu governo, ganhei a distinção nada invejável de ser o primeiro comandante dos Estados Unidos na História a assinar um armistício sem vitória”.

Foi uma guerra bárbara, de terra arrasada, em que praticamente nada ficou de pé ao norte do paralelo 38 sob os brutais bombardeios dos EUA, em que 4,2 milhões de coreanos foram mortos. Com massacres de camponeses que antecederam em 20 anos chacinas como Mi Lai; guerra bacteriológica; e ameaça, pelo general McArthur, de usar a bomba nuclear.

Foram tempos em que, celebremente, o patriarca do renascimento nacional coreano, Kim Il Sung, disse que “mesmo que o céu desabe, encontraremos uma saída”. Os imperialistas japoneses haviam anexado militarmente a Coreia no início do século passado e proibiram até o uso do idioma e dos nomes coreanos.

Em 15 de agosto de 1945, com a rendição japonesa, a Coreia estava libertada da anexação, depois de uma dura luta de guerrilhas encabeçada pelos comunistas. No dia 8 de setembro desse ano, as tropas norte-americanas ocuparam o sul do país e deram início à divisão da milenar nação asiática trazendo o fascista e corrupto Syngham Rhee para servir de fantoche. Somente três anos depois, as forças comunistas e patrióticas realizariam a fundação da República Popular Democrática da Coreia.

Então secretário de Estado dos EUA, John Foster Dulles era o arquiteto da política de “reversão” do comunismo no mundo, desencadeada em paralelo com a onda de histeria anticomunista interna que passou para a história como “macarthismo”.

Também conhecido por ter ganho muito dinheiro com negócios com o Partido Nazista alemão nos anos 30, Dulles estava resolvido a tornar a península coreana em uma cabeça de ponte contra a revolução na Ásia.

Washington armou e financiou a formação de um exército fantoche sul-coreano, com o número de tropas equipadas e treinadas da maneira americana chegando a mais de 100.000 em setembro de 1949. Em 26 de janeiro de 1950, os EUA concluíram o Tratado de Defesa Mútua EUA-Coreia do Sul.

Em 14 de abril de 1950, uma diretiva secreta do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, a NSC 68, autorizou o início do conflito. O próprio Dulles visitou a Coreia do Sul dias antes de iniciada a agressão. Antes disso, o norte havia sido atacado mais de duas mil vezes enquanto a maior parte do exército de marionetes sul-coreanos tinha sido posicionada ao longo do Paralelo 38.

No início da manhã de 25 de junho, as forças sul-coreanas, sob o comando do Grupo Consultivo Militar Americano, iniciaram o ataque à Coreia do Norte. O 17° Regimento do exército sul-coreano avançou em Taetan e Pyoksong e a 1ª Infantaria atacou na área de Kaesong. Eles avançaram 12 km no território da RPDC. A Coreia do Norte exigiu a interrupção dos ataques, mas foi ignorada – e só depois resolveu lançar uma contraofensiva, após várias advertências.

Os EUA exigiram, então, uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, o que aconteceu sem a presença da União Soviética e da jovem República Popular da China, que, naquele período, foi mantida fora de seu assento legítimo. Ninguém da RPDC foi autorizado a apresentar o seu caso perante o Conselho.

Em vez disso, o órgão publicou uma resolução culpando a Coreia do Norte por iniciar a guerra e autorizou o uso da força de nações membros da ONU – o que violava a própria Carta da ONU, que estabelecia que a organização não podia intervir nos assuntos internos de nações soberanas. No caso da Península Coreana, havia dois governos estabelecidos, portanto, a ONU não poderia interferir à favor de um deles como fez. Sob essa fachada, os EUA jogaram tudo na guerra, inclusive atraindo países satélites, a exemplo da Grã-Bretanha.

A União Soviética e a República Popular da China deram suporte à luta coreana contra os imperialistas, inclusive com um exército de voluntários chineses. Durante os três anos da Guerra de Libertação da Pátria coreana, os imperialistas perderam mais de 1,5 milhão de homens, sendo 405 mil de suas próprias forças armadas, mais 12.200 aeronaves, 560 navios de guerra e navios em geral, 3.200 tanques e blindados, 13.350 caminhões e 7.690 peças de artilharia.

A perda sofrida pelos EUA foi 2,3 vezes maior do que a dos quatro anos da Guerra do Pacífico durante a Segunda Guerra. Estatísticas oficiais dos EUA mostraram que, durante cada um dos três anos da Guerra da Coreia, eles perderam o dobro do número de soldados mortos em cada ano da Guerra do Vietnã.

Fonte: Papiro