Ex-colunista e escritora E. Jean Carroll e Trump | Foto composição/EFE

Um júri federal em Manhattan condenou o ex-presidente e atual pré-candidato à Casa Branca, Donald Trump, por abuso sexual e difamação da ex-colunista e escritora E. Jean Carroll e determinou o pagamento de US$ 5 milhões em danos compensatórios e punitivos.

O que o torna o primeiro presidente na história dos EUA a ser condenado por agressão sexual. Por se tratar de um caso civil, Trump não enfrenta consequências criminais; o crime já prescreveu.

Ao tribunal, Carroll disse que foi estuprada pelo bilionário na década de 1990 – ela não lembra a data ou o ano exato, registrou a CNN – durante um encontro fortuito em uma loja de departamentos de luxo e depois foi difamada ao tornar públicas as acusações.

Trump, que nega, optou por não testemunhar. Anteriormente, o bilionário alegara, supostamente para se contrapor à acusação de estupro, que Carroll “não fazia o seu tipo” – o tipo de explicação para cafajeste nenhum botar defeito. Ele acrescentara que a ex-colunista estava “inventando” tudo para aumentar as vendas de seu livro.

Os jurados – seis homens e três mulheres – deliberaram que as provas apresentadas configuravam abuso sexual e, a seguir, concluíram pela existência de difamação contra a escritora.

Trump disse na terça-feira que vai apelar da decisão do júri, que ele chamou de “desgraça” em sua plataforma de mídia social Truth Social. “Não podemos deixar nosso país cair neste abismo. Isso é vergonhoso”, se queixou.

VÍDEO DO ‘TRUMP ABUSADOR’

Como parte das provas da acusação, os jurados tiveram de ouvir trechos do famoso vídeo do “Trump apalpador”, oficialmente “Access Hollywood” de 2005 – que andou bombando nas redes sociais na eleição de 2016 – em que o bilionário confidencia a um entrevistador que as mulheres adoram deixá-lo as agarrar. “Historicamente, isso é verdade, com estrelas… se você olhar para os últimos milhões de anos”, disse Trump, que sempre negou as acusações de assédio sexual.

Nas alegações finais, a advogada de Carroll, Roberta Kaplan, afirmou que o vídeo de 2005 era a prova de que Trump havia agredido Carroll e outras mulheres.

Duas testemunhas depuseram no tribunal confirmando terem sido agredidas sexualmente por Trump. A ex-repórter da revista People, Natasha Stoynoff, relatou que o bilionário a encurralou em seu clube Mar-a-Lago na Flórida em 2005 e a beijou à força por “alguns minutos”, até ser interrompido por um mordomo. Por sua vez, Jessica Leeds testemunhou que durante um voo em 1979 Trump a beijou, apalpou e colocou a mão em sua saia.

De acordo com o depoimento de Carroll, ela esbarrou em Trump na loja Bergdorf’s, onde ele estava comprando um presente para outra mulher. A escritora concordou em ajudá-lo na escolha, e chegaram a olhar lingerie. Em seguida, após ter sido persuadida por Trump a ir a um provador, este bateu sua cabeça contra a parede e a estuprou.

A plausibilidade da acusação de Carroll foi questionada pela equipe de advogados de Trump, com base em que ela nunca levou o caso à polícia nem gritou durante o suposto incidente. Dois amigos da escritora testemunharam que, sim, ela lhes contou sobre o estupro na época, mas que tiveram de jurar segredo porque Carroll temia que Trump usasse sua fama e riqueza para persegui-la.

De acordo com Carroll o que a levou a quebrar o silêncio em 2017 foi o acolhimento, pela opinião pública, das denúncias de mulheres contra as violações cometidas pelo produtor de Hollywood Harvey Weinstein, o que estimulou dezenas de mulheres, inclusive ela mesma, a apresentar relatos de violência sexual por parte de homens poderosos. Trump ainda era presidente dos EUA.

O julgamento de Trump foi tornado possível por uma lei aprovada no estado de Nova York que torna imprescritíveis ofensas sexuais, sob o ponto de vista civil.

Não foi o primeiro processo, e menos ainda, o último, que aguarda o bilionário e pré-candidato à presidência dos EUA, com um leque variado de violações e trambiques. Do pagamento pelo silêncio, durante a campanha eleitoral de 2020, a uma ex-atriz pornô com que supostamente tivera um caso, às rotineiras fraudes comerciais e contra o imposto de renda. Além das investigações sobre a tentativa de golpe em 6 de janeiro de 2021 com a invasão do Capitólio.

A hashtag “Donald Trump é responsável por abuso sexual” obteve mais de 300 milhões de visualizações na China, na quarta-feira (10).

Para o jornal Global Times, para além da discussão sobre o episódio de há 30 anos, a condenação é uma “manifestação proeminente da polarização política nos EUA, bem como um reflexo das crescentes ofensivas políticas entre os dois partidos que dominam a agenda política doméstica dos EUA”.

Sobre como o veredicto influenciará as primárias e a candidatura presidencial de 2024, para o GT “ter um candidato presidencial importante que foi considerado responsável por abuso sexual possivelmente afastará alguns eleitores indecisos, mas acredita-se não afetará a base de Trump, porque os fundamentos morais dos políticos não são mais os fatores mais importantes na política dos Estados Unidos”.

Quando se trata de política eleitoral americana, desenterrar ou reproduzir escândalos sobre a vida privada dos políticos tornou-se “uma norma”, disse Li Haidong, professor da Universidade de Relações Exteriores da China. “Não há algo profundamente doentio na política eleitoral americana que gira em torno desses escândalos, em vez de como colocar o país no caminho certo e resolver os problemas domésticos que o afligem?”, ele questionou.

Embora o jornal chinês não tenha se referido a isso, uma bomba de igual poder explosivo vem sendo preparada pelos republicanos, com o iminente escândalo do ‘laptop do inferno’ do filho de Biden, Hunter, que a mídia e os serviços secretos norte-americanos conseguiram varrer em 2020 para debaixo do tapete para livrar o então candidato democrata. Enredo de filme: drogas, corrupção, tráfico de menores ucranianas, estrelado pelo filho desgarrado que, graças aos bons ofícios do então vice-presidente norte-americano e operador central do golpe de Kiev em 2014, se tornou diretor de uma corporação privada ucraniana do gás.

Fonte: Papiro