Migrantes se arriscam ao escalar muro para atravessar a fronteira sul dos EUA | Foto: Pedro Pardo/AFP

Centenas de soldados norte-americanos foram deslocados para a fronteira sul dos Estados Unidos desde terça-feira, enquanto o governo Biden avançava com planos de realizar expulsões em massa de migrantes que entram no país, com o término às 23h59 da noite de quinta-feira da vigência do chamado Título 42 da saúde pública – que permitia a deportação alegando o perigo da Covid –, que não pode mais ser usado porque a epidemia oficialmente acabou. Só que agora ressuscitam o artigo 8 para seguir deportando em massa.

Implementadas pelo governo Trump no início da pandemia de coronavírus, 2,4 milhões de migrantes que procuravam entrar nos EUA, muitos deles solicitantes de asilo, foram deportados de volta para seu país de origem ou para o México, em violação de seus direitos fundamentais de imigração.

Segundo o secretário de imprensa do Pentágono, brigadeiro-general Pat Ryder, a função dos soldados e marines será de ajudar a monitorar a fronteira, prestar suporte e liberar o pessoal da Alfândega e Imigração, asseverando que as tropas não irão “de forma alguma interagir com os migrantes”.

Também o governador do republicano do Texas, Greg Abbott, que tem enviado às cidades de maioria democrata ônibus repletos de imigrantes, anunciou a mobilização de unidade de elite da Guarda Nacional, a Texas Tactical Border Force, para El Paso e outros locais ao longo do Rio Grande. “Eles serão implantados em pontos críticos ao longo da fronteira para interceptar, repelir e fazer retroceder” os migrantes ilegais, afirmou.

A apreensão e a expulsão em massa propriamente dita de dezenas de milhares de migrantes que começam a chegar diariamente à fronteira caberá ao pessoal da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP).

Nos últimos 28 meses, o governo Biden intensificou as expulsões e usou o Título 42 de forma agressiva, enquanto afirmava se opor às suas regras repressivas. Agora a Casa Branca está substituindo o procedimento que expira por um regime não menos draconiano de deportação acelerada.

Falando em uma coletiva de imprensa em Brownsville, o chefe do Departamento de Segurança Interna (DHS), Alejandro Mayorkas, disse que “estaremos usando nossas autoridades de remoção aceleradas sob o Título 8 do código dos EUA.” Todos os removidos sob o Título 8 “serão proibidos de entrar nos EUA por cinco anos e, se tentarem entrar antes disso, estarão sujeitos a processo criminal”, acrescentou. A fronteira “não está aberta”.

A tropa de choque de Abbott também foi encarregar de colocar “quilômetros de arame farpado” ao longo do lado texano do Rio Grande. Para estimular o clima de xenofobia e terror, Abbott posou diante de quatro jatos de carga C-130 da Força Aérea, enquanto os soldados embarcavam, carregando rifles M-16 e equipamento tático.

Não se pode dizer que tal mensagem de ódio passou despercebida. No domingo, em Brownsville, um homem lançou seu SUV contra uma multidão de imigrantes, matando oito pessoas, incluindo crianças. No sábado, o neonazista Mauricio Garcia massacrou oito pessoas com um rifle de assalto em um shopping center em Allen, Texas.

Segundo Oscar Leeser, prefeito de El Paso, vizinha de Juarez, no México, entre “10.000 a 12.000” esperam do outro lado da fronteira para entrar. Outra caravana de 3.500 pessoas está chegando. Em El Paso, há atualmente 2.500 migrantes, muitos deles vivendo nas ruas em acampamentos improvisados.

Em uma coletiva de imprensa do DHS na quarta-feira, Mayorkas justificou a repressão aos imigrantes como uma resposta necessária à inação do Congresso, referindo-se a um “sistema de imigração falido”. Ele disse: “Depois de dois anos de preparação, esperamos ver um grande número de encontros em nossa fronteira sul nos dias e semanas após 11 de maio”.

Mayorkas continuou: “Como você pode ver pelas imagens diante de nós de voos de remoção e encontros com nossos agentes de patrulha de fronteira, estamos deixando bem claro que nossa fronteira não está aberta, retrocruzamento irregular é contra a lei e que aqueles que não são elegíveis para liberação serão devolvidos rapidamente.” Após falar de passagem dos “caminhos seguros e legais” para os migrantes entrarem nos EUA, Mayorkas se concentrou no que interessa, ainda mais no ano anterior à eleição, os ‘procedimentos’ de remoção. Pelas novas regras, “aqueles que não usam vias legais para entrar nos Estados Unidos não são elegíveis para asilo”, enfatizou. Ele acrescentou que as novas normas permitem aos EUA “remover indivíduos que não demonstrem um medo razoável de perseguição no país de remoção”.

Fonte: Papiro