Stedile aponta mesma ofensiva pela CPI do MST e contra o PL 2630
Na tentativa de desgastar o governo Lula, a oposição visa criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), que desde 2003 já foi investigado outras quatro vezes no Congresso.
Durante a IV Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece em São Paulo (SP), o fundador e membro da direção nacional do MST, João Pedro Stedile, conversou com a nossa reportagem.
Na entrevista, Stedile disse que extrema-direita transforma o Legislativo em cavalo de troia com CPI e elogiou a PL das Fake News, além de criticar a taxa de juros e os baixos recursos destinados à reforma agrária.
Qual expectativa para a CPI sobre o MST?
A CPI é um jogo de cena da extrema-direita. Como eles perderam a eleição no Executivo, estão transformando o Legislativo em um cavalo de troia para todo o tempo enfrentar o governo, enfrentar a esquerda, enfrentar qualquer proposta de mudanças no Brasil. O MST está sendo vítima dessa jogada da direita que tenta criar, com a CPI, um holofote sobre nós, para evitar que os crimes deles aflorem.
O MST é um dos grandes alvos de notícias falsas. Como enxerga o PL das Fake News relatado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB)?
O projeto do Orlando é revolucionário, é necessário, é super urgente. A democracia depende desse projeto. Vimos que a mesma ofensiva que fizeram conosco pela CPI eles fizeram contra o projeto, com um agravante, porque as Big Techs, Google, Facebook, Twitter, que justamente tem esse conluio com a extrema-direita, ajudam a difundir as fake news. Foram eles que lá no Legislativo se aliaram com esses deputados [bolsonaristas] e tentam boicotar o PL ou deformá-lo.
Eu não entendo dessas artimanhas parlamentares, mas pelo que eu ouvi foi importante ter recuado e não colocado o PL em votação para, inclusive, ajustar melhor o projeto e tentar de alguma maneira regular o que essas Big Techs estão fazendo. Elas são, na verdade, o quarto poder.
A presença de ministros e do vice-presidente na feira mostra que não houve distanciamento, mesmo com as falas críticas que os representantes do MST tiveram nos últimos dias e a atuação da grande mídia que joga combustível no debate. Como enxerga a situação?
A grande imprensa no Brasil representa interesses ideológicos e da classe dominante. Sabem que perderam a eleição e não querem mudanças. A sociedade inteira está estarrecida com a taxa de juros que está um absurdo e a grande mídia apoia o presidente do Banco Central. Então isso não nos assusta e não é novidade. O papel deles é defender os próprios interesses.
Tentaram criar cizânia entre o MST e o governo, mas na prática nunca mudamos nada nossa linha. Sempre dissemos para todo mundo, para a sociedade e para o governo que primeiro vamos defender o governo Lula. Não por sermos puxa-saco, ou porque pegamos algum cargo. Vamos defender dos inimigos que o governo tem. Os verdadeiros inimigos do governo são o capital financeiro, a Faria Lima, o agronegócio, a Agrishow.
Inclusive alguns jornais insistiram em rivalizar as feiras do MST e da Agrishow, opondo convidados e presenças em cada uma…
Os jornalistas são muto hábeis nas edições, sobretudo nas edições das manchetes. Mas vamos continuar com a mesma linha, defendendo o governo, tendo autonomia em relação ao governo, o que é fundamental para saúde de qualquer movimento popular. O movimento popular para ter futuro, ter vida longa, precisa caminhar com as suas próprias pernas. Por isso continuamos no papel de organizar o povo.
Sobre os R$ 500 milhões, inicialmente divulgado, para a reforma agrária. O valor não é pequeno demais?
É ridículo. Vamos fazer pressão para aumentar o orçamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Há várias formas de fazê-lo. Acredito que ao longo do ano oficialmente este valor será reposto. A nossa ideia é que o governo assente as 80 mil famílias acampadas.