Empresa RANDON. Fabricação de semi-reboque tanque de combustível. ngelo/CNI

Após dois meses consecutivos de queda, a produção industrial do país registrou 1,1% em março, na comparação com fevereiro. Uma “melhora gradual” do setor, na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que pondera que o avanço, contudo, não salva o primeiro trimestre de 2023. A produção do setor como um todo ficou estagnada (0%) na passagem do 4º trim/22 para o 1º trim/23. “Embora positivo, este resultado não foi suficiente para salvar o primeiro trimestre do ano, que se manteve em um quadro de estagnação que já se arrasta por algum tempo”, avalia o Instituto.

De janeiro a março, a produção industrial ficou negativa em -0,4%. A indústria também permanece produzindo em níveis 1,3% abaixo do período pré-pandemia e 17,9% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.

Em relação a março de 2022, a produção industrial variou 0,9% e no acumulado de 12 meses segue estagnada em 0,0%. Os dados foram divulgados pela Pesquisa Mensal Industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (10).

A perspectiva de trajetória de crescimento, na avaliação do Iedi e de representantes das indústrias, não se sustenta no atual cenário de juros a 13,75%, o mais alto do mundo, asfixiando a produção e o consumo das famílias.

O próprio IBGE, na divulgação dos resultados da pesquisa, destaca que “ainda permanecem no nosso escopo de análise as questões conjunturais, como a taxa de juros em patamares mais elevados, que dificultam o acesso ao crédito, a taxa alta de inadimplência e o maior nível de endividamento por parte das famílias, assim como o grande número de pessoas fora mercado de trabalho e a alta informalidade”.

De acordo com o Iedi, “como a indústria produz muitos bens duráveis, seja para o consumo seja para investimento, o atual ambiente de elevadas taxas de juros tende a comprometer mais seu desempenho. O mesmo vale para alguns ramos do varejo, cujas vendas dependem do crédito”.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) destaca em seu site, ao analisar o resultado de março, que apesar do resultado positivo, a indústria andou de lado, e diz que “a piora das condições financeiras restritivas predomina pelo lado negativo e devem continuar pesando sobre a atividade industrial em 2023”. A entidade alerta para os impactos do “alto patamar dos juros sobre os canais de crédito, aumento da inadimplência, e comprometimento da renda das famílias e das empresas com encargos financeiros”.

Nesse cenário, a Fiesp projeta queda de 0,5% da atividade industrial em 2023, que, se confirmada, será a sétima em 10 anos. “Do ponto de vista macroeconômico, o quadro de fraco dinamismo da atividade industrial pode ser amenizado com uma redução forte da taxa de juros”, afirma.

O resultado de março aponta variação positiva em três dos cinco macrossetores industriais e em 64% dos 25 ramos acompanhados pela pesquisa. Bens de capital (6,3%), bens duráveis (2,5%) e bens intermediários (0,9%) foram os que cresceram. Em sentido contrário, as duas categorias restantes apresentaram recuo: bens semiduráveis e não duráveis (-0,5%) e bens de consumo (-1,2%) – justamente as que são mais sensíveis à taxa de juros da economia nas alturas, que compromete o custo do crédito e pressiona o endividamento das famílias. Na categoria de bens de consumo duráveis, onde se enquadram, por exemplo, os móveis, eletrodomésticos e automóveis, a produção atual se encontra 16,8% abaixo do patamar pré-pandemia.

Dentre os ramos, tiveram dados positivos na passagem de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%), máquinas e equipamentos (5,1%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (6,7%). Por outro lado, confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,7%), ramos de móveis (-4,3%) e de produtos de metal (-1,0%) registraram queda.

Fonte: Página 8