Biden, líder sitiado, avalia o jornal NYT | Vídeo

Às vésperas da cúpula do G7, o jornal The New York Times registrou em dois artigos as inusitadas circunstâncias em que esta se realiza, chegando a apontar que “a principal ameaça à estabilidade econômica mundial são os EUA” e colocando o presidente Joe Biden como um “líder sitiado”, forçado a voltar para casa por causa do impasse sobre o teto da dívida e risco de inadimplência do governo norte-americano.

No artigo “Para Biden, a crise interna complica a diplomacia no exterior”, o megafone de Wall Street se preocupa que a volatilidade política e econômica dos EUA esteja se tornando um risco para o resto dos países do mundo.

“O presidente Biden partiu para o Japão na quarta-feira para participar de uma reunião dos líderes das sete principais democracias industriais que se reúnem todos os anos para tentar manter a economia mundial estável. Mas acontece que a principal ameaça potencial à estabilidade econômica global este ano é nos Estados Unidos”, relata o NYT, referindo-se ao impasse do teto da dívida, à crise bancária e ao onipresente desenvolvimento da China.

“Ao invés de ser o comandante indiscutível da superpotência mais poderosa (…), o Sr. Biden será um líder sitiado, forçado a voltar para casa para evitar uma catástrofe causada pelos próprios Estados Unidos”, diz o jornal, que acrescenta que a inadimplência abalaria não apenas a economia dos EUA, mas também a de outros países, enfraquecendo ainda mais sua posição no cenário global.

Sobre o declínio norte-americano, o artigo cita Jane Harman, uma ex-democrata da Califórnia e que serviu como presidente do Woodrow Wilson International Center for Scholars. “Acho que nossa maior ameaça somos nós (…) Nossa liderança no mundo está sendo corroída por nossa disfunção interna”.

“EUA DISFUNCIONAL”

O outro artigo se debruça sobre a repercussão do cancelamento das viagens oficiais do presidente dos Estados Unidos à Austrália e Papua Nova Guiné, previstas para ocorrerem após a cúpula do G7, mas suspensas no último minuto por causa da crise do teto da dívida.

“O que o cancelamento significa, em termos mais amplos, é que a política interna dos EUA está minando sua política externa em um momento crucial, em uma região crítica. Analistas e diplomatas alertam que o medo de uma América disfuncional e não confiável agora reacenderá na Ásia e no Pacífico, onde os Estados Unidos só recentemente começaram a ganhar impulso em seus esforços para conter a influência chinesa”.

O artigo cita Hal Brands, professor de assuntos globais da Universidade Johns Hopkins, sobre as consequências da desmarcação das visitas. A mensagem da China aos países da região será: “Eles não podem contar com um país que nem sequer pode desempenhar funções básicas de governo”.

No mais, o NYT volta à costumeira linha de assustar o povo norte-americano sobre o desenvolvimento da China, dizendo que o corpo diplomático da China em todo mundo “é agora maior do que o dos Estados Unidos e está fortemente focado na Ásia”. Fazendo de conta não saber das 750 bases norte-americanas no mundo inteiro, e essencialmente cercando a China e a Rússia, o Times tenta assustar os leitores com a história de que a China “tem a maior marinha e guarda costeira do mundo”. Além de que suas estatais estariam tomando conta “das indústrias de construção e mineração em muitos países em desenvolvimento”, inclusive Fiji e Papua Nova Guine.

Nem todos em Washington fazem a mesma leitura do novo episódio da crise do teto da dívida. Para o respeitado economista James K. Galbraith, “o drama do teto da dívida é encenação”. “Lembre-se: o Tesouro dos EUA é obrigado a fazer pagamentos. O resto é ótica”.

“Como se o planeta não estivesse em chamas ou à beira de uma guerra nuclear, a Casa Branca, o Tesouro, o Congresso e a imprensa lançaram outra rodada do jogo de salão favorito de Washington – Desastre da Dívida!™”, registrou Galbraith. Ele cita um articulista do Vox, Dylan Matthews, que explica que o que está realmente em questão é um resultado “com o qual ambos possam conviver”.

“A demanda inegociável do presidente Biden é por um aumento limpo no teto da dívida. A demanda do presidente da Câmara, Kevin McCarthy, é por grandes cortes nos gastos federais – aos quais Biden não tem nenhuma objeção de princípio. Esses objetivos não são incompatíveis, o que significa que ambos serão alcançados. O resto é encenação, tempo, ótica e rotação”.

“Para reafirmar alguns pontos-chave: Primeiro, por lei, o Tesouro dos EUA é obrigado a fazer pagamentos. O teto da dívida não se sobrepõe a essa obrigação. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, não tem poder legal para interromper os pagamentos ou escolher quais fazer e quais adiar. Se os pagamentos pararem de sair, ela estará infringindo a lei – e seu juramento de posse. Por isso, ela poderia e deveria ser cassada”.

“O teto da dívida também é uma lei. Ela não ordena que o Tesouro pare de fazer pagamentos, mas que pare de emitir títulos além do limite de US$ 31,4 trilhões. Yellen também pode sofrer impeachment por ignorar esse limite e emitir mais títulos de qualquer maneira, o que violaria a Constituição, ao passo que continuar fazendo pagamentos, não. Mas nenhum júri na América jamais a condenaria, certamente não o Senado dos EUA”.

“Romper o teto também é desnecessário. A moeda de platina de um trilhão de dólares resolveria o problema – sem empréstimos adicionais e sem violação do limite da dívida”.

“Resumindo: Biden e Yellen estão jogando o drama da dívida não porque enfrentamos algum Armagedom financeiro, mas para fazer uma vitória vazia no último minuto parecer um grande negócio. Quando isso acontecer, todos os envolvidos darão um grande suspiro de alívio. Debt Disaster!™ será embalado e colocado de volta na prateleira, até que os netos impressionáveis ​​venham visitá-lo novamente”.

“Com uma recessão se aproximando, um ano de cortes de gastos – em assistência médica, vale-refeição, seguro-desemprego, ajuda a estados e cidades – é apenas o bilhete para entregar o Senado de volta a Mitch McConnell e a presidência a Donald Trump. McCarthy sabe disso. Biden? Provavelmente. Mas com seus índices de aprovação pouco melhores do que os de Gerald Ford ou Jimmy Carter, talvez alguns jogadores importantes de sua equipe estejam menos focados na eleição do que em se preparar para o próximo cargo”, adverte o economista Galbraith, via The Nation.

Fonte: Papiro