O primeiro-ministro Anthony Albanese e Julian Assange | Foto: Mick Tsikas/AAP Photo e foto/Wikipedia

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, manifestou na última quinta-feira (4) sua frustração diante da atitude da diplomacia dos Estados Unidos com as sucessivas tentativas de diálogo para a libertação de Julian Assange, australiano e fundador do WikiLeaks.

Albanese alertou para sua preocupação, particularmente diante do agravamento da saúde do jornalista de 51 anos, que após passar sete anos cercado na Embaixada do Equador em Londres, onde ficou em asilo diplomático, foi entregue pelo governo de Moreno para ser enviado à penitenciária de alta segurança de Belmarsh, em Londres, local em que se encontra preso há mais de 1.000 dias.

Em entrevista à ABC, o líder australiano disse ter deixado sua posição muito clara para o governo estadunidense sobre o processo de extradição do Departamento de Justiça contra Assange. “Continuo a dizer em particular o que disse publicamente como líder trabalhista e o que disse como primeiro-ministro, basta!”, afirmou Albanese, para quem “isso precisa ser levado a uma conclusão”. “Precisa ser trabalhado, estamos trabalhando por meio de canais diplomáticos, estamos deixando muito claro qual é a nossa posição no caso do senhor Assange”, acrescentou.

Na última quarta-feira, 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, apoiadores do jornalista realizaram uma manifestação de solidariedade a Assange em Washington em que denunciaram sua prisão como uma prova incontestável de que a “liberdade’ de imprensa é permitida, é tolerada, desde que o jornalista ou editor não ameace o apoio público ou mesmo a conscientização pública da realidade dos EUA na política externa”.

Como criador e principal responsável pelo WikiLeaks, Assange encabeçou uma das mais importantes reportagens jornalísticas do século. Comprometido com a verdade, trouxe à tona centenas de milhares de arquivos do Pentágono descrevendo os crimes de guerra dos Estados Unidos e da sua aliança, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), no Afeganistão, no Iraque e no campo de concentração de Guantánamo.

Nos documentos foram divulgadas trocas de mensagens que levaram aos acontecimentos que tiveram lugar durante o governo W. Bush, que vão desde a violação da jurisprudência de Nuremberg e da Carta das Nações Unidas, até a legalização da tortura nos EUA e achincalhe dos direitos democráticos e da própria constituição norte-americana por meio dos chamados ‘Atos Patrióticos’.

Diante da divulgação destas verdades, os Estados Unidos vêm tentando extraditar Assange do Reino Unido por 18 acusações relacionadas à publicação de dezenas de milhares de documentos militares e diplomáticos que comprovam o envolvimento de Washington em crimes contra a Humanidade.

O Reino Unido concordou com sua extradição, mas a defesa do fundador do WikiLeaks está apelando dessa decisão nos tribunais.

“Sei que é frustrante. Compartilho a frustração. Não posso fazer mais do que deixar muito claro qual é a minha posição”, assinalou Albanese, frisando que “o governo dos Estados Unidos certamente está muito ciente de qual é a posição do governo australiano”.

Questionado se debateria o tema com o presidente dos EUA, Joe Biden, quando ele visitar a Austrália este mês para a cúpula dos líderes do Quad, Albanese tergiversou: “A maneira como a diplomacia funciona provavelmente não é prever as discussões que você terá ou teve com líderes de outras nações”.

Segundo o primeiro-ministro, há “alguns problemas” com o que Assange publicou e entendeu as preocupações levantadas nos EUA de que vazamentos de informações confidenciais poderiam “levar a consequências para as pessoas envolvidas em uma atividade”. No entanto, reconheceu que a punição de Assange foi desproporcional.

O alto comissário australiano Stephen Smith visitou Assange pela primeira vez na prisão de Belmarsh somente no mês passado, dizendo que gostaria de “verificar sua saúde e bem-estar”. “Estou preocupado com a saúde mental do senhor Assange. Houve uma decisão judicial aqui no Reino Unido que foi anulada em apelação e que também afetou a saúde do senhor Assange, e estou preocupado com ele”, sublinhou.

Fonte: Papiro