Foto oficial dos chefes de delegação dos países membros e convidados do G7. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na manhã deste sábado (20) durante reunião da cúpula do G7 em Hiroshima, no Japão. Entre outros pontos, ele atacou os dogmas do neoliberalismo, defendeu o Estado como indutor de políticas públicas e o combate à pobreza com desenvolvimento e proteção ambiental. Também salientou a necessidade de haver maior representação dos países emergentes nos principais órgãos de governança global, inclusive no Conselho de Segurança da ONU, e criticou os “blocos antagônicos”. 

O Brasil participa do evento como convidado. A cúpula tem a participação de lideranças políticas de 15 países, além da União Europeia. Ao iniciar sua fala, Lula lembrou da última vez em que participou da reunião, em 2009, e destacou que naquele momento a crise financeira mundial trouxe reflexos catastróficos e “expôs a fragilidade dos dogmas e equívocos do neoliberalismo”. O presidente completou dizendo que “o ímpeto reformador daquele momento foi insuficiente para corrigir os excessos da desregulação dos mercados e a apologia do Estado mínimo”. 

Trazendo o debate para os dias atuais, Lula argumentou que “o mundo hoje vive a sobreposição de múltiplas crises: pandemia da Covid-19, mudança do clima, tensões geopolíticas, uma guerra no coração da Europa, pressões sobre a segurança alimentar e energética e ameaças à democracia”. 

Para enfrentar os atuais desafios, pontuou a necessidade de que o sistema financeiro global esteja “a serviço da produção, do trabalho e do emprego. Só teremos um crescimento sustentável de verdade direcionando esforços e recursos em prol da economia real”. 

Neste sentido, acrescentou, “desemprego, pobreza, fome, degradação ambiental, pandemias e todas as formas de desigualdade e discriminação são problemas que demandam respostas socialmente responsáveis. Essa tarefa só é possível com um Estado indutor de políticas públicas voltadas para a garantia de direitos fundamentais e do bem-estar coletivo”. 

Lula defendeu que “a falsa dicotomia entre crescimento e proteção ao meio ambiente já deveria estar superada” e que “o combate à fome, à pobreza e à desigualdade deve voltar ao centro da agenda internacional, assegurando o financiamento adequado e transferência de tecnologia”. 

Considerando o caráter sistêmico e global das atuais dificuldades enfrentada pelos povos, o presidente salientou que “a solução não está na formação de blocos antagônicos ou respostas que contemplem apenas um número pequeno de países”. 

Assim, disse, “não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as ‘crises múltiplas’ que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global”. 

O presidente brasileiro afirmou, ainda, que “coalizões não são um fim em si, e servem para alavancar iniciativas em espaços plurais como o sistema ONU e suas organizações parceiras. Sem reforma de seu Conselho de Segurança, com a inclusão de novos membros permanentes, a ONU não vai recuperar a eficácia, autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas do século XXI”. 

Ao finalizar seu discurso, Lula enfatizou: “Um mundo mais democrático na tomada de decisões que afetam a todos é a melhor garantia de paz, de desenvolvimento sustentável, de direitos dos mais vulneráveis e de proteção do planeta. Antes que seja tarde demais”.