Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A inadimplência entre os idosos é a que mais cresce no Brasil, segundo dados da Serasa Experian. Entre abril de 2019 e abril de 2023, o número de idosos inadimplentes aumentou 34,7%, enquanto a média da população avançou 12,9%. Nesse mesmo período, a inadimplência entre pessoas de 41 a 60 anos cresceu 15,9%; entre as 26 e 40 anos, a alta foi de 4,6%, e até 25 anos, de 2,3%.

Levantamento da Serasa mostra que, diferentemente de outras faixas etárias, as contas de água, luz e gás, por exemplo, representam o principal segmento das dívidas não pagas entre os idosos, respondendo por 39,7% do total de pendências. Na média dos inadimplentes de todas as faixas etárias, as dívidas com contas básicas representam 22%.

Muitas vezes o idoso é o membro da família que tem uma renda mensal certa, pela sua aposentadoria ou pensão. Diante das necessidades familiares, os mais velhos vão socorrendo aqui e ali as contas a pagar.

Como em grande número de lares, os orçamentos ficam frequentemente no vermelho, a busca por crédito acaba se impondo, na esperança de mais à frente conseguir melhores condições, pagar os empréstimos e conseguir pagar também as despesas do dia a dia.

Com a economia estagnada, desemprego, renda apertada e os juros elevados, corroendo grande parte do orçamento das famílias, de acordo com a Serasa, em abril deste ano 71,4 milhões de brasileiros estavam inadimplentes. Os idosos, acima de 60 anos compõem 12,8 milhões desse contingente.

Um dos recursos buscados pelos aposentados e pensionistas é o crédito consignado, que ainda mantém altas taxas de juros comprometendo grande parte da renda do idoso, que além das contas básicas têm os gastos com saúde, que incluem os medicamentos, muitos deles de uso contínuo.

As despesas com saúde e cuidados pessoais acumularam alta de 9,21% em 12 meses até março, muito acima da inflação geral da terceira idade, que aumentou 4,06% no mesmo período, segundo pesquisa da inflação da terceira idade medida pelo IPC-3i, apurado pela Fundação Getúlio Vargas.

Os dados da Serasa, divulgados em reportagem do Estadão, chamam a atenção pelo fato de que, ao mesmo tempo, em que os idosos têm a melhor pontuação de crédito – o pagamento da parcela do empréstimo é descontada diretamente no holerite -, por outro lado, os idosos são também os que mais têm deixado de pagar as contas básicas em dia.

“Se um idoso está utilizando crédito consignado, sua renda mensal cai ainda mais e ele pode acabar ficando sem recursos para quitar outras dívidas, com as contas básicas (água, luz, telefone), por exemplo”, diz Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian.

Os empréstimos, mesmo os consignados, nas suas três versões: para aposentados, a servidores públicos e empregados pela CLT estão muito altos. Um empréstimo de R$ 8.700,00 para pagar em 24 meses, respeitando o limite máximo de R$ 462,00 no comprometimento da renda mensal, para quem recebe salário mínimo, embutem juros de 2% por cento ao mês.

Se os juros fossem de 1,2% o empréstimo obtido seria de R$ 9.590,00, ou seja, os interessados pegariam, com uma taxa menor, R$ 890,00, quase 10% a mais para suas necessidades.

E por que uma taxa menor, como usado no exemplo, não pode ser praticada? Especialmente entre os aposentados e pensionistas, o risco de inadimplência é zero. Mesmo no falecimento o banco recebe o seguro.

Acontece que uma taxa de 1,2% ao mês, equivale a 15,38% ao ano. Quem vai emprestar dinheiro nessas condições, se aplicar em títulos da dívida ganha 13,75% ao ano, garantidos pelo Tesouro, sem qualquer outro custo, com apenas alguns cliques.

Fonte: Página 8