Bagdá sob bombardeio norte-americano em março de 2003 | Foto: Arquivo

O número de mortos no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria e Iêmen nas guerras desencadeadas pelos EUA desde o 11 de Setembro – a mal denominada, por W. Bush, ‘Guerra ao Terror’ – vai a 4,5 milhões, segundo o recém lançado relatório do projeto “Custos da Guerra”, do Instituto Watson de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade Brown.

O Projeto Custos da Guerra vem sendo realizado pela universidade norte-americana desde 2010, com uma equipe de 50 acadêmicos, juristas, defensores dos direitos humanos e médicos, e estimou em US$ 8 trilhões a quantia que os EUA torraram nessas guerras de devastação. “As guerras geralmente matam muito mais pessoas indiretamente do que em combate direto, principalmente crianças pequenas”, disse em comunicado Stephanie Savell, codiretora do projeto e autora do relatório.

Pela pesquisa mais recente, o total de mortos nessas zonas de guerra pode ser “de pelo menos 4,5-4,6 milhões e contando, embora o número preciso de mortalidade permaneça desconhecido”.

VÍTIMAS CIVIS

Entre as causas pode-se notar a disseminação de doenças após a destruição pela guerra do sistema de saúde de um país, bem como a fome causada pelo desemprego. Morreram diretamente na guerra mais de 906 mil pessoas, incluindo 387 mil civis, segundo o estudo. 38 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas ou se tornaram refugiadas.

Exponencialmente mais pessoas, especialmente crianças e as populações mais empobrecidas e marginalizadas, destacou Savell, foram mortas pelos efeitos da guerra – pobreza crescente, insegurança alimentar, contaminação ambiental, o trauma contínuo da violência e da destruição da saúde, infraestrutura pública e dos meios de subsistência.

Como manifestação disso, o relatório cita um estudo de 2012 que descobriu que mais da metade dos bebês nascidos na cidade iraquiana de Fallujah entre 2007 e 2010 tinham defeitos congênitos. Entre as mulheres grávidas pesquisadas no estudo, mais de 45% sofreram abortos espontâneos no período de dois anos após os ataques dos EUA em Fallujah em 2004 em que foram usados projéteis com urânio empobrecido.

As leituras do contador Geiger de locais contaminados em áreas urbanas iraquianas densamente povoadas mostraram consistentemente níveis de radiação que são 1.000 a 1.900 vezes mais altos que o normal. Aliás, o mesmo uso de projéteis de urânio empobrecido está, agora, em curso na Ucrânia, fornecido pela Inglaterra.

O portal Sputnik observa que os autores do relatório não tentam responsabilizar ninguém, mas sim mostrar as consequências duradouras das hostilidades. Enfoque que tem como objetivo, no entender dos autores do relatório, aumentar a conscientização sobre o custo humano das guerras e encorajar os Estados Unidos e outros países a fazerem sua parte para aliviar o sofrimento de milhões de pessoas cujas vidas foram afetadas por conflitos.

VIOLAÇÕES MADE IN USA

Questionado sobre o relatório, o professor Bai Zhang, do Instituto de Ciência Política e Direito da Southwestern University, advertiu que dissuadir as guerras e promover reformas e construir a governança global, reconhecendo o custo das guerras, continua sendo “uma tarefa muito difícil” para a comunidade internacional.

Os países hegemônicos – em suma, os EUA – muitas vezes tentam manipular a noção do custo da guerra para travar confrontos militares ou transferir sistematicamente a responsabilidade pela reconstrução do pós-guerra para a comunidade internacional, observou o acadêmico.

No início do ano passado, a Sociedade Chinesa de Estudos de Direitos Humanos divulgou um relatório sobre Violações de Direitos Humanos dos EUA no Oriente Médio e em outros lugares, detalhando como os militares dos EUA cometem sistematicamente crimes graves contra os direitos humanos e as liberdades.

Os especialistas apontaram que os EUA ignoram completamente as normas internacionais e nunca assumiram sua responsabilidade. Os autores do documento queriam dar a máxima publicidade ao problema da impunidade da política militar dos EUA em terceiros países.

Em sua opinião, em 2022, quando os conflitos regionais mais uma vez engolfaram o mundo, “a natureza hegemônica dos EUA e sua política de poder bárbara, brutal e maliciosa ficaram totalmente expostas” e as pessoas ao redor do mundo tornaram-se mais conscientes da hipocrisia de Washington sobre ‘democracia americana’ e ‘direitos humanos americanos’.

O relatório destaca que “os crimes cometidos pelos Estados Unidos não apenas levam à continuação da guerra e ao caos no Oriente Médio e em outros lugares, mas também levam a violações dos direitos da população local à vida, à saúde e à liberdade”. Cabe registrar que os números do “Custos da Guerra” da Universidade Brown não incluem a guerra por procuração dos EUA contra a Síria, que em uma década matou pelo menos 350 mil pessoas e tornou refugiados mais de 12 milhões, segundo a ONU.

Fonte: Papiro