Ações do PacWest caíram quase 30% em um único dia | Foto: Divulgação

As ações do banco PacWest caíram quase 30% na quinta-feira (11), após revelação de que só na semana passada perdeu mais 9,5% dos depósitos totais, com a maior parte do declínio ocorrendo entre 4 e 5 de maio, em uma demonstração explícita de que a corrida aos bancos nos EUA está longe de terminar, apesar das juras em contrário do Fed. Ao que tudo indica, o plantão extraordinário de fim de semana do Fed será cheio de emoções fortes.

Em 1º de maio de 2023, o First Republic Bank foi fechado pelos reguladores e imediatamente vendido para o JP Morgan Chase, no quinto banco a ir à bancarrota desde março, com o total de ativos de três bancos que faliram agora sendo maior do que o dos 25 bancos que quebraram na crise bancária de 2008.

Entre 28 de abril e 5 de maio, as ações do PacWest já haviam desabado 41%, de US$ 10,15 para US$ 5,96. A corrida da semana passada teve como estopim as manchetes dos noticiários financeiros de que o PacWest estava “explorando todas as suas opções e conversando com potenciais investidores e parceiros”.

Analistas apontam que outro ponto surpreendente do atual ciclo de dificuldades dos bancos norte-americanos foi a velocidade “sem precedentes” com que o colapso ocorreu. Em 2008, quando o Washington Mutual quebrou – então a maior falência de um banco norte-americano em ativos – os depositantes levaram oito dias úteis para sacar US$ 17 bilhões. Com o Silicon Valley Bank (SVB), US$ 40 bilhões foram sacados em um único dia, com mais US$ 100 bilhões agendados para serem sacados no dia seguinte, o que só não ocorreu por causa da intervenção do órgão regulador FDIC.

A causa subjacente à quebradeira dos bancos foi a mudança dramática no sistema financeiro quando o Fed passou de uma década de dinheiro ultrafácil para uma alta de 5 pontos percentuais na taxa de juros em um ano, a mais rápida elevação dos juros em 40 anos. Na outra ponta, está a monopolização, com os bancos que vão à lona – a parte ‘boa’ – sendo engolidos pelos megabancos sob condições favorecidas, enquanto a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, agência de seguros criada para segurar as pontas do sistema financeiro norte-americano) fica com as perdas.

O aumento da taxa de juros fez com que o valor de mercado dos ativos que possuíam — títulos do Tesouro no SVB e hipotecas para os ultra-ricos no First Republic — caísse drasticamente, causando um desbalanceamento entre ativos e passivos (estes, os depósitos dos clientes). E obrigando bancos a resgatar papéis antecipadamente ao vencimento, com prejuízo, na tentativa de atender aos depositantes em fuga, até a casa cair.

Analisando a questão, o professor de finanças da Universidade Stanford, Amit Seru, advertiu sobre a dimensão do problema, em artigo no New York Times que mostra que “o valor de mercado dos ativos do sistema bancário dos EUA é cerca de US$ 2 trilhões menor do que o sugerido por seu valor contábil”.

BOLHA DOS IMÓVEIS COMERCIAIS

Seru estimou que quase a metade dos 4.700 bancos dos EUA está sob intenso estresse. Para ele, há outro problema se avolumando, a crise nos imóveis comerciais, que constituem uma fração considerável dos ativos dos bancos médios – 25%. Esses empréstimos imobiliários comerciais totalizam US$ 2,7 trilhões. Muitos deles vencendo nos próximos anos, sob condições mais apertadas e risco de inadimplência maior.

Para o professor, já “são já visíveis os sinais de aflição”: o valor em bolsa das incorporadoras imobiliárias caiu 55% desde o início da pandemia, enquanto o valor dos edifícios de escritórios detidos por elas encolheu 33%. Durante a pandemia, houve uma redução no uso de imóveis comerciais, que ainda não voltou ao nível anterior.

Caso a inadimplência nos imóveis comerciais venha a atingir o patamar mais baixo observado no pós-crise de 2008, poderiam chegar até US$ 160 bilhões as perdas resultantes, de acordo com Seru, com “implicações significativas” para centenas de bancos regionais de pequeno e médio porte.

Naturalmente, não são esses os únicos dilemas presentes na economia nos EUA. Há ainda o aperto nas condições de liquidez no mercado de US$ 22 trilhões de títulos do Tesouro norte-americano, que é a base dos EUA e do sistema financeiro global; o impasse na elevação do teto da dívida pelo Congresso norte-americano, uma crise com data marcada; e o crescente questionamento ao dólar no mundo inteiro e ao “armamento” da moeda norte-americana, em consequência das sanções e confiscos ilegais decretados por Washington com o declarado objetivo de destruir a economia russa e vencer a guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia.

Fonte: Papiro