Brasil agiu contra fraude nas apostas de futebol, antes de casos mais sérios
Um grupo criminoso aliciava jogadores e combinava lances em campo para beneficiar um grupo de apostadores. Bruno Lopez, líder do grupo que aliciava e pagava os jogadores, foi preso em casa, em São Paulo. Outros dois suspeitos, Thiago Chambó e Romário Hugo dos Santos, também foram presos. Sete jogadores foram denunciados pelo Ministério Público de Goiás na 2ª fase da Operação Penalidade Máxima.
A Operação, subsidiada pelo MP desde novembro de 2022, divulgou áudios e vídeos que expõem a fraude nas apostas nos oito jogos do Campeonato Brasileiro da Série A, uma partida da Série B, duas do Campeonato Paulista e duas do Gaúcho, de 2022 e também em alguns jogos de estaduais deste ano e alguns duelos da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha, deste ano.
O caso ganhou repercussão nacional depois que o Ministério Público de Goiás encontrou indícios de que jogadores venderam o resultado do primeiro tempo de uma partida do campeonato goiano no início de 2023.
Para o membro do Conselho de Administração do Comitê Olímpico do Brasil e ex-ministro do Esporte (2016), Ricardo Leyser, o MP e o governo estão sendo ágeis ao investigar e desbaratar a fraude no esquema de apostas.
“O país está agindo antes de ter virado um problema mais sério, antes de afetar resultados mais importantes. No futuro, sem regulamentação, sem acompanhamento, poderia acontecer e prejudicar e jogar descrédito sobre todo o sistema”, avaliou.
Ele criticou que, desde 2018, as casas de aposta pela internet foram legalizadas no governo Temer e abandonadas à própria sorte, sem uma regulamentação. “O governo brasileiro acordou para essa necessidade só esse ano. Já se sabia que podia ter esse tipo de problema. Não foi regulamentado, não foi fiscalizado. Só agora, no Governo Lula, que foi retomada a questão da regulamentação.
Reação política
O Ministro da Justiça, Flávio Dino, pediu à Polícia Federal que abra inquérito para ajudar na investigação. E o governo federal está preparando uma medida provisória para regulamentar as apostas esportivas.
As empresas de apostas em resultados esportivos se estabeleceram no Brasil sem que houvesse uma regulamentação adequada. Com o agravante de estarem à distância de um toque de celular, podendo envolver até crianças.
A legalização dos sites de apostas ocorreu no governo Temer e se multiplicou no de Bolsonaro, conforme os sites se espalharam. Um mercado que se estabeleceu operando fora do país, sem regulamentação e sem pagamento de impostos. Os sites ocuparam um lugar de destaque no futebol nacional: suas marcas estão espalhadas nas placas de patrocínio à beira dos gramados, nos uniformes dos times.
O cenário põe em risco a credibilidade do futebol, com políticos pedindo a suspensão de jogos. “Era uma coisa já anunciada”, observa Leyser, considerando que este não é apenas um problema brasileiro. “É um desafio de todo o mundo esportivo. Esse não é um problema apenas nacional, mas internacional do futebol. Pode ameaçar a integridade do esporte como um todo”, completou.
A criação de uma CPI das Apostas Esportivas será discutidas na reunião de líderes prevista para o fim da tarde desta segunda-feira (15), conforme afirmou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)
“A Câmara já votou regulamentação dos jogos, está esperando deliberação do Senado há mais de 1 ano (…) Está claro a influência dessas apostas online, que hoje patrocinam 100% dos clubes brasileiros, a própria CBF, na influência de resultados”, disse Lira.
Nesta semana, também deve ser criada e instalada a Comissão dos Esportes (CE) no Senado, para tratar da regulamentação das apostas esportivas.
Leyser diz que este é um tema que precisa ser muito bem acompanhado e normatizado para que não ponha em risco a atividade esportiva.
Ele considera viável a fiscalização do sistema, algo que não há, até o momento. “Tem regulamentação que vai desde contribuição e impostos, mas também que estabeleça uma fiscalização da atividade por parte do governo, para que esse tipo de coisa não se torne regra”, defendeu.
Segundo Layser, a fiscalização pode ser eletrônica, com uso de inteligência artificial, não há necessidade de fiscais presenciais. É feita em torno da movimentação das apostas e suas margens de risco. É possível sim”, garantiu ele.
Ele acredita que a MP que o governo está propondo ouviu vários grupos interessados e prevê os mecanismos de controle necessários.
(por Cezar Xavier)