Japoneses protestam contra cúpula imperialista: "Não ao G7", "Não à Guerra Nuclear" | Vídeo

Biden reúne o G7, desta vez tendo como meta a expansão da guerra provocada por Washington na Ucrânia e como alvo o mundo multipolar que floresce estimulado pela China e Rússia.

Pretende, além da pose para foto, fechar os trabalhos com mais sanções contra Moscou, ameaça de sanções secundárias aos demais países que resistam à sua guerra por procuração para anexar a Ucrânia.

Quanto à China, cúmulo do cinismo, Biden tenta imputar suposta “coerção econômica”. Isso, partindo daqueles que sancionam e pilham boa parte do planeta, recorrendo à guerra sempre que o saque lhe é contestado.

O cenário não poderia ser mais apropriado: Hiroshima, o alvo da primeira bomba atômica norte-americana, com suas dezenas de milhares de civis vaporizados ou mortos depois pela radioatividade. Ao chegar ao Japão, a primeira coisa que Biden fez foi prometer ao primeiro-ministro Fumio Kishida um “guarda-chuva nuclear”, ou seja, enfiar suas bombas na casa daqueles que destruiu. Nada de pedido de desculpas.

Recentemente, se tornou público que, por paridade de poder de compra, o PIB dos BRICS já supera o do G7. A economia real da China já é maior do que a dos Estados Unidos, e as brechas tecnológicas estão sendo cobertas rapidamente. Um historiador norte-americano, especializado em Ásia-Pacifico, James Bradley, considerou a cúpula do G7 uma “dança kabuki” de apoio fingido ao confronto dos EUA contra a China.

Bradley disse ainda que a viagem de Biden a Hiroshima é apenas uma “sessão de fotos, e o assunto principal da sessão de fotos é a China”. “Então, quando os países asiáticos disserem: ‘adeus, senhor presidente’ e ele for embora, eles vão se voltar para a China. Esse é o parceiro comercial número um deles.”

Até mesmo The New York Times chamou Biden de “líder isolado” e sitiado pela confluência, nos EUA, da crise do teto da dívida, da crise bancária e das ameaças de pouso forçado de sua economia, sob a alta de juros do Fed. Biden teve de desmarcar reuniões pós-G7 já agendadas com a Austrália e Nova Guiné Papua, pois a inadimplência continua rondando a Casa Branca e o teto da dívida está prestes a desabar. Aliás., até o NYT já admitiu que os EUA são a “principal ameaça à estabilidade econômica mundial”.

Da última vez que as coisas chegaram a esse ponto, em 2011, Obama acabou fechando um acordo com os republicanos que implicou em cortes de ponta a ponta, divididos entre defesa e o resto.

Não honrar os títulos do Tesouro dos EUA – tido pelos círculos especulativos como o ativo ‘livre de risco’ -, entre outros desastres respingaria para o status de reserva de ativos denominados em dólares e teria repercussões quanto à desdolarização. Com eleição marcada para o próximo ano, a discussão está no fio da navalha, com os cortes dos programas sociais na mira da Câmara republicana, no afã de gestar sua plataforma de campanha de olho em voltar à Casa Branca.

PEQUIM REPUDIA SANÇÕES UNILATERAIS

Sobre a principal medida anunciada pelo G7 contra a Rússia – e os países que desobedecem as sanções de Washington/Bruxelas -, o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, disse que “a China sempre se opôs a sanções unilaterais e jurisdições extraterritoriais que não são baseadas no direito internacional e não são sancionadas pelo Conselho de Segurança da ONU”.

Na quarta-feira, o Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que os EUA apresentarão ao G7 um pacote de medidas “com foco no fim das redes de evasão de sanções”. Ou seja, com foco em ameaçar com punições terceiros países que comerciam com a Rússia.

O segundo ponto da pauta de Biden é o “desacoplamento” da economia chinesa, que até aqui avançou essencialmente por meio da guerra tecnológica e tarifária, o que agora passou a ter como mote a provocação contra a China em Taiwan. Tema no qual, anteviu o Wall Street Journal, nenhum país será “citado nominalmente”, e que se traduz na acusação de que é a China, que é o maior parceiro comercial de grande parte dos países do mundo, quem pratica a “coerção econômica”.

Sobre isso, Pequim divulgou previamente um relatório em que aponta os EUA como “os verdadeiros instigadores da diplomacia coercitiva, com uma ‘história sombria’ vergonhosa que causou imenso sofrimento ao mundo, particularmente aos países em desenvolvimento, que suportaram o peso de suas ações. Mesmo os aliados e parceiros dos EUA não foram poupados disso”.

“Hoje, a diplomacia coercitiva é um instrumento padrão na caixa de ferramentas da política externa dos Estados Unidos. De sanções econômicas e bloqueios técnicos a isolamento político e ameaça de força, os EUA demonstraram o que é diplomacia coercitiva para o mundo por meio de suas próprias ações”, afirma o relatório “A Diplomacia Coerciva da América e Seu Mal”, que desvenda os sérios danos causados pelos EUA “ao desenvolvimento de todos os países, estabilidade regional e paz mundial”.

“Violando o princípio do comércio justo e impondo tarifas à China, o bloqueio tecnológico contra a China no setor de semicondutores, usando o poder estatal para suprimir as empresas de alta tecnologia da China…, até mesmo coagindo seus aliados ocidentais”, acrescenta o relatório.

“Os países em desenvolvimento não são suas únicas vítimas. Os EUA não mostraram nenhuma piedade em aplicar tal diplomacia coercitiva em seus aliados. Na década de 1980, quando o PIB do Japão atingiu metade do dos EUA, Washington forçou Tóquio a assinar o ‘Acordo de Plaza’, que acabou levando à estagnação de longo prazo da economia japonesa”.

“Nos últimos anos, os EUA exerceram o controle das tarifas na Europa e interferiram na competição do mercado. Em 2018, o governo dos EUA impôs tarifas de até 25% e 10% sobre produtos de aço e alumínio em regiões como a UE. Em janeiro de 2021, para melhorar a vantagem competitiva da Boeing, os EUA anunciaram tarifas de até 15% sobre as importações da França e da Alemanha, incluindo peças de aeronaves, envolvendo um valor total de US$ 7,5 bilhões”.

Concluindo, o relatório reiterou que a essência da “diplomacia coerciva“ dos EUA reside na ideia “de que ‘ou você está conosco ou contra nós. Os EUA devem liderar e seus aliados devem seguir, e os países que se opõem à supremacia dos EUA sofrerão’”.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, foi ainda mais direto ao ponto, assinalando que a diplomacia ocidental não existe mais, substituída por “chantagens, ameaças e sanções diretas” para forçar os países a seguirem suas ordens, especialmente em relação à Ucrânia.

Lavrov observou que a perda de habilidades diplomáticas pelo Ocidente começou muito antes do início da operação militar russa, especificamente após o golpe de 2014 na Ucrânia. “Sem nenhuma nuance, o Ocidente, está protegendo o regime que chegou ao poder como resultado de um golpe inconstitucional sangrento e ilegal” e que deu guarida a nazistas.

Além disso, ele enfatizou que o Ocidente “fez sua escolha e diz que ‘a Rússia deve sofrer uma derrota estratégica’”, bem como as autoridades ucranianas “afirmaram repetidamente que seu objetivo é a destruição física dos russos que vivem na Crimeia e nas Repúblicas Populares de Donbass e Lugansk”. Este regime – destacou – está “matando os russos, a cultura russa, o mundo russo em qualquer uma de suas manifestações, destruindo fisicamente os russos que eram seus cidadãos”.

Segundo o chanceler russo, a última tentativa de abordagem diplomática foram os Acordos de Minsk. “Na época [quando os acordos foram assinados] muitos disseram que a Rússia havia aceitado um compromisso que não beneficiava os cidadãos da Ucrânia associados ao mundo russo. Apesar do documento ter sido aprovado por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU, todos os signatários, a ex-chanceler alemã Angela Merkel, o ex-presidente francês François Hollande e o ex-presidente ucraniano Piotr Poroshenko, – exceto o presidente russo, Vladimir Putin – admitiram que tinham intenção de nada fazer”. “Então a ‘diplomacia da mentira’ é o que restou desse período”, concluiu.

Lavrov sublinhou que a Europa “perdeu completamente sua autonomia”. Apesar das declarações de alguns líderes europeus, como as do presidente francês Emmanuel Macron, sobre “autonomia estratégica”, a Europa “cedeu todas as suas posições” à OTAN. “Assim, os americanos decidirão quando e como usar a Europa a seu favor. Você pode ver que a parte mais afetada (além do povo ucraniano) do que está acontecendo na Ucrânia são os europeus”, atingidos pelos efeitos das sanções anti-russas em setores como energia ou economia.

Questionado sobre as declarações dos países ocidentais sobre o isolamento da Rússia, o chefe da diplomacia russa disse: “A alegação de que o Ocidente ‘isolou’ a Rússia indica apenas uma coisa: que ele se considera o ‘centro da Terra’”.

Fonte: Papiro