Porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov | Foto: Divulgação

Enquanto China, Brasil, União Africana e Vaticano anunciam novas iniciativas pela paz, o chefe da ‘diplomacia europeia’, Josep Borrell, confirmou a escalada da guerra por procuração dos EUA contra a Rússia na Ucrânia com o envio de aviões F-16, anunciando que os pilotos do regime de Zelensky já estão treinando em “vários países” europeus. “Na Polônia, por exemplo, já começou”.

Falando a caminho de uma reunião de ministros da Defesa da União Europeia em Bruxelas na terça-feira (23), Borrell disse que o adestramento “levará tempo, mas quanto mais cedo melhor”.

Na sexta-feira, o aval aos F-16 fora dado pelo próprio presidente Joe Biden, na véspera da cúpula do G7 de Hiroxima, conforme declarou seu assessor de Segurança Nacional, Jake Sullivan: Washington “apoiará esforços conjuntos para o treinamento de pilotos ucranianos no manuseio de caças de quarta geração, incluindo o F-16”. Nos dias anteriores, o primeiro-ministro inglês Rishi Sunak havia se comprometido com o presidente-ator Zelensky em criar uma “frota de F-16”.

Quanto a isso fazer alguma diferença efetiva no campo de batalha, boa parte dos observadores dúvida, dada a experiência pregressa com outras ‘armas maravilhosas’ providas pela OTAN, que já viraram um monte de sucata retorcida, dos Himars aos tanques Leopard, até às baterias antiaéreas Patriot.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, advertiu no sábado Washington e seus vassalos sobre “enormes riscos para si mesmos” com o envio de caças F-16 a Kiev, segundo a agência de notícias russa TASS.

“Vemos que os países ocidentais continuam aderindo ao cenário de escalada. Isso envolve enormes riscos para eles mesmos”, afirmou Grushko, à margem de uma reunião do Conselho Russo de Política Externa e de Defesa. “De qualquer forma, isso será levado em consideração em todos os nossos planos, e temos todos os meios necessários para atingir as metas traçadas”, acrescentou.

Na semana passada, tanto a vitória em Artyomovsk quanto a destruição de uma bateria de mísseis antiaéreos Patriot em Kiev por um míssil hipersônico russo haviam evidenciado os percalços na “contraofensiva” do regime ucraniano, cantada em prosa e verso na mídia da OTAN.

Ao fazer seu anúncio, Borrell, que vem sendo ridicularizado como “o jardineiro”, por ter comparado a Europa a um “jardim”, enquanto o resto do mundo [colonizado aliás pelos europeus] seria uma “selva”, previu que o fornecimento dos F-16 seguiria o mesmo roteiro do envio dos tanques alemães Leopard 2. Com muitos países “relutantes” no início, mas depois veio “a decisão” – leia-se, ordem – “de fornecer esse apoio militar porque é absolutamente necessário”.

Como antes, o novo degrau na escalada não vem sem avisos. “Não há infraestrutura para a operação do F-16 na Ucrânia e também não há o número necessário de pilotos e pessoal de manutenção”, disse o embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, em comentários publicados no canal de mensagens no Telegram da embaixada.

“O que acontecerá se os caças americanos decolarem dos aeródromos da OTAN, controlados por ‘voluntários’ estrangeiros?” Antonov disse que qualquer ataque ucraniano na região da Crimeia seria considerado um ataque à Rússia. “É importante que os Estados Unidos estejam totalmente cientes da resposta russa”, disse o embaixador.

Ele acrescentou que a transferência de jatos F-16 para a Ucrânia levantaria a questão do papel da Otan no conflito. “Washington subordinou completamente os membros do G7 à sua própria política” na Ucrânia”, observou Antonov, apontando a gana dos EUA por uma “derrota estratégica” da Rússia.

Na segunda-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Mille, reiterou que o envio de caças F-16 para o regime de Kiev é uma “prioridade” para Washington. “O presidente Biden deixou muito claro que começaremos a treinar os militares ucranianos para pilotar os F-16 e trabalharemos com nossos aliados e parceiros para fornecer [essas aeronaves] à Ucrânia”.

“Não tenho nenhum anúncio sobre quando ou como isso vai acontecer ou sobre quais países vão intervir, mas essa é a prioridade para nós e vamos começar a implementá-la nos próximos meses”, acrescentou.

À guisa de álibi, o porta-voz alegou que Washington não encoraja ataques ucranianos dentro das fronteiras russas. “Deixamos muito claro para Kiev que não facilitamos ou encorajamos ataques contra alvos além das fronteiras ucranianas”, disse Miller. Ao mesmo tempo, ele acrescentou que as decisões sobre como e quando realizar operações militares permanecem “nas mãos de Kiev”.

Indagado por jornalistas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov disse que as entregas de novas armas a Kiev, incluindo aeronaves, não são capazes de mudar fundamentalmente o curso da operação russa de desnazificação e desmilitarização da Ucrânia e de proteção aos russos étnicos da limpeza étnica.

Sobre a escalada agora anunciada, Peskov comentou que tomaram a decisão de “também entregar aeronaves. Mas, como todos os outros ramos de armas, este não é capaz de mudar fundamentalmente a situação na frente”. Ele considerou “óbvios” os riscos inerentes a tal abordagem, acrescentando que “os países do Ocidente coletivo estão cada vez mais envolvidos neste conflito.”

Fonte: Papiro