Campos Neto, presidente do BC | Foto: Pedro França/Agência Senado

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) mostrou mais uma vez menosprezo aos empresários e trabalhadores brasileiros que se encontram em dificuldades no país por conta dos juros altos, ao decidir manter, pela sexta vez consecutiva, a taxa básica da economia, a Selic, em 13,75% ao ano, nível em que se encontra desde agosto do ano passado.

“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho”, afirmou o Copom, no comunicado divulgado pelo BC, nesta quarta-feira (3).

Sendo direto, o desemprego hoje afeta mais 9,4 milhões de pessoas no Brasil. O contingente de pessoas consideradas subutilizadas na força de trabalho representa quase um quarto da população economicamente ativa do país. A indústria, o comércio e o setor de serviços estão em plena queda de desempenho das suas atividades frente ao baixo nível do consumo de bens e serviços no país. No entanto, o Copom, liderado por Roberto Campos Neto, quer derrubar ainda mais a já fraca demanda – o que levará o país à recessão, acelerando o desemprego, para garantir “não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz o comunicado.

Sem qualquer sinal de demanda aquecida, o BC disse que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

A decisão do Copom de manter os brasileiros pagando a maior taxa de juros real do mundo se dá dias após o presidente do BC, Campos Neto, ter participado do debate promovido pelo Senado Federal sobre juros, inflação e crescimento econômico, com a participação de representantes de entidades da indústria e do comércio, que reportaram no evento as dificuldades que o setor produtivo e o povo brasileiro vêm enfrentando nos últimos anos por conta dos juros altos.

“Hoje, descontada a inflação projetada pelo último Focus para 12 meses à frente, a Selic apresenta taxa real de 8%”, disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva. “Essa situação impede que a indústria – mas poderia incluir, sem receio de errar, todas as empresas no Brasil sem acesso a crédito favorecido – invista o necessário para se manter produtiva”, criticou Gomes da Silva.

“Se nós não temos uma inflação de oferta, onde é que está a demanda?, questionou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, ao presidente do BC. “Porque as nossas empresas, presidente Roberto Campos, estão sofrendo muito com uma demanda fraca. Nós estamos vendo aí setores que têm passado por diversas dificuldades. No setor automobilístico, recentemente, férias coletivas, desemprego, diversos setores que têm realmente enfrentado dificuldades porque não têm a demanda necessária”, afirmou o presidente da CNI.

O Banco Central mais uma vez usou os juros para interferir na política fiscal do governo. No comunicado, o BC afirmou que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco de inflação para acima da meta em ambas as direções, no caso do risco alto, está “a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos”, diz o trecho do comunicado.

O Copom tentou disfarçar sua ingerência afirmando que “enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal”, mas que “a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas”. Mas, no final dos fatos, o BC está querendo interferir no resultado do arcabouço fiscal, hoje em tramitação no Congresso Nacional, mandando a mensagem de que os juros não serão reduzidos tão cedo se o mercado financeiro sair frustrado da aprovação do arcabouço fiscal.

Enquanto o Banco Central projeta “persistência inflacionária” para tentar justificar o aperto monetário, em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador considerado a inflação oficial do país, fechou em 4,65% no acumulado dos últimos 12 meses até março, menor do que os últimos doze meses terminado em fevereiro (5,60%), sendo a menor taxa para 12 meses desde janeiro de 2021.

Em abril, a inflação voltou a desacelerar, segundo a prévia da inflação (IPCA-15) calculada pelo IBGE. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação ficou em 4,16%, abaixo dos 5,36% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. No ano passado, o indicador registrava alta de 12,03%.

Fonte: Página 8