Campanha pela liberdade do jornalista Assange | Foto: Andy Rain/EFE/EPA

O mais notável preso político do mundo na atualidade, o jornalista Julian Assange, divulgou, na véspera da coroação de Charles III, uma carta em que o convidou a visitá-lo na prisão. “Na coroação de meu senhor, achei apropriado estender-lhe um convite cordial para comemorar esta ocasião importante visitando um reino dentro de seu próprio reino: a Prisão de Sua Majestade em Belmarsh”, começa a carta do fundador do WikiLeaks.

“É aqui que 687 de seus súditos leais estão detidos, apoiando o recorde do Reino Unido como a nação com a maior população carcerária da Europa Ocidental”, observa Assange.

“Como prisioneiro político, mantido a bel prazer de Sua Majestade em nome de um soberano estrangeiro embaraçado, sinto-me honrado em residir dentro dos muros desta instituição de classe mundial”, acrescenta sarcasticamente, sobre a instalação que é tida como a ‘Guantánamo britânica’ e sobre o empenho de Joe Biden pela extradição.

Assange teve sua extradição pedida pelos EUA, sob acusação de ‘espionagem’, por ter trazido a público, junto com alguns dos maiores jornais do planeta, os arquivos do próprio Pentágono e do Departamento de Estado sobre os crimes de guerra cometidos no Iraque e no Afeganistão – massacres, bombardeios, tortura -, bem como interferências em terra alheia. Se extraditado, será levado para o ‘tribunal da CIA’ na Virgínia, sujeito a 175 anos de cárcere – ou coisa pior.

Antes, o jornalista sofreu uma perseguição feroz de Washington, que o forçou a se refugiar na embaixada do Equador, e também foi submetido a uma operação de ‘assassinato de reputação’. O que, para o Relator especial da ONU, Nils Melzer, equivaleu à tortura. O governo Trump discutiu seu sequestro e assassinato.

Quando Washington conseguiu de um vassalo no poder no Equador a retirada do status de refugiado de Assange, ele foi arrancado da embaixada e há quatro anos está encarcerado nessa prisão britânica de segurança máxima.

O pedido de extradição foi aprovado pela alta corte britânica, apesar da primeira instância a ter recusado, por temer pela vida de Assange, sob as condições iníquas do sistema prisional norte-americano. Em seguida, a extradição foi carimbada pelo governo britânico, e só não foi executada devido a ações impetradas pela defesa.

“CABEÇAS DE ATUM”

Assange também convidou Carlos III a experimentar as “delícias culinárias” oferecidas na real prisão, confeccionadas “com um generoso orçamento de duas libras esterlinas por dia” (a fortuna pessoal de Charles III foi estimada em quase $2 bilhões de libras).

“Prove as cabeças de atum misturadas e as onipresentes formas reconstituídas supostamente feitas de frango”, descreve Assange, que também fala na carta sobre a administração aos encarcerados de drogas de serventia duvidosa e até sobre o suicídio de um detento prestes a ser deportado.

Além disso, “aqui você ficará maravilhado com as regras sensatas projetadas para a segurança de todos, como a proibição do xadrez, ao mesmo tempo em que permite o jogo de damas, muito menos perigoso”, continua Assange. “E se você vier na primavera, poderá até ter um vislumbre dos patinhos deixados pelos patos selvagens desonestos dentro da prisão. Mas não demore, porque os ratos vorazes garantem que suas vidas sejam curtas”.

“Eu imploro a você, Rei Charles, que visite a prisão de Sua Majestade em Belmarsh, pois é uma honra digna de um rei. Ao embarcar em seu reinado, lembre-se sempre das palavras da Bíblia: ‘Bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão a misericórdia’ (Mateus 5:7). E que a misericórdia seja a luz guia de seu reino, dentro e fora das paredes de Belmarsh.”

Fonte: Papiro