Trump é indiciado em Tribunal de Manhattan por 34 fraudes
Com o mundo, segundo alguns, ameaçado de uma crise dos mísseis nucleares 2.0, agora no Mar Negro, e o Banco Mundial advertindo sobre uma década perdida para a economia global, a campanha a presidente dos Estados Unidos de 2024 começou espetacularmente na terça-feira (4), com o ex-presidente Donald Trump indiciado em um tribunal de Manhattan, distrito de Nova York, sob 34 acusações de fraudes de documentos usados para se favorecer na eleição de 2016, em que pagamentos feitos a uma atriz pornô, uma modelo da Playboy e um porteiro, dinheiro em troca de silêncio, foram posteriormente computados pela Trump Organization como “honorários advocatícios”.
Trump se disse “inocente” de todas as acusações diante do tribunal, persistiu em se dizer vítima de uma “caça as bruxas” política ou de lawfare e já está de volta à sua mansão em Mar-a-Lago, enquanto manifestantes a favor e contra dividiram o espaço diante do tribunal, mais policiais a rodo e jornalistas. Anteriormente, só o presidente Grant, em 1872, enfrentara um processo criminal, por excesso de velocidade em sua carruagem puxada por cavalos em Washington.
As duas beldades alegavam casos extraconjugais com o bilionário e um porteiro dizia que Trump tinha um filho fora do casamento. A atriz pornô Stormy Daniels foi o pivô do recebimento de US$ 130.000, pagos pelo então faz-tudo de Trump, Michael Cohen, rompido com o bilionário após acordo para livrar sua cara na longa ficha de delitos que pilotara. Mesmo que Trump fosse condenado por esse tribunal estadual, isso não o impediria de ser candidato e, inclusive, de ser eleito.
A fraude nos registros por si só seria uma contravenção [estadual], mas a promotoria alega que o ato foi cometido para acobertar outro crime, um crime eleitoral [federal], de compra de silêncio para evitar que o fato chegasse ao conhecimento dos eleitores.
A fraude propriamente dita foi cometida ao longo de 2017, quando ele já era presidente, e foram consideradas 34 acusações, uma para cada parcela em que o suposto pagamento de “honorários” havia sido dividido.
“TRUMP SE ENTREGA”
A mídia pro-Biden caprichou na descrição do périplo de Trump pelo tribunal. “Trump se entrega às autoridades para enfrentar acusações”, estampou o Washington Post. “Os pagamentos foram para uma atriz pornô, uma modelo da Playboy e um porteiro”, deliciou-se The New York Times. “Trump se entrega para acusação em caso de dinheiro por silêncio”, registrou o Wall Street Journal.
No mais, sem fotos e sem algemas, mas Trump teve suas digitais recolhidas. Por enquanto, o juiz não decretou ordem de silêncio sobre o caso a ele, mas alertou contra “agitação” nas redes sociais. Trump, que passou duas horas no tribunal, terá que retornar dentro de um mês.
O NYT admitiu que “as acusações contra Trump são todas de crimes de classe E, a categoria mais baixa de crimes criminais em Nova York”. De acordo com a lei do estado, “falsificar registros comerciais geralmente é uma contravenção. Mas os promotores podem agravar a acusação quando acreditarem que uma pessoa falsificou registros comerciais para cometer outro crime ou ocultar o cometimento de um crime.” Enquanto contravenção, inclusive já estaria prescrita, porque já se passaram quase sete anos.
A promotoria alega que a razão pela qual ele cometeu o crime de falsificação de registros comerciais foi, em parte, para “promover sua candidatura”. Entretanto, não chegou a acusá-lo de conspiração criminosa.
ATALHO
Nem todos se mostram convencidos que esse caminho para barrar Trump seja o mais eficaz, havendo até quem ache que arrisca a funcionar contra, dada a falta de escrúpulos do bilionário e o desatino de seus seguidores.
“Depois de incitar uma insurreição no Capitólio dos EUA, pressionar autoridades locais para anular a eleição de 2020, receber propinas financeiras de potências estrangeiras e vários outros crimes durante sua presidência, é embaraçoso e irritante que a primeira acusação contra Trump seja sobre… Stormy Daniels, alertou Adam Green, co-fundador do Comitê de Campanha de Mudança Progressiva, em um comunicado.
“O Comitê Seleto de 6 de janeiro e líderes corajosos como [o deputado] Jamie Raskin fizeram seu trabalho”, disse ele. “É hora de Merrick Garland [ministro de Biden] e o Departamento de Justiça fazerem o deles”, ele convocou.
Em suma, com tantos crimes da maior gravidade cometidos por Trump, e aos quais não é difícil acrescer outros, como matança em terra alheia e violação de acordos de paz assinados pelo antecessor, apostar em escândalos sexuais – ainda mais num país que tem como antecedente Bill Clinton – é malversar o patrimônio.
Desconfiança que alcança até as hostes republicanas. O ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, que sonha em ser candidato à presidência, disse não estar “preocupado com [o promotor] Alvin Bragg prejudicando Donald Trump. Estou preocupado com o fato de Alvin Bragg beneficiar Donald Trump”, disse Bolton ao programa “Face the Nation” da CBS no domingo. Ele disse temer que o indiciamento seja usado por Trump como “combustível de foguete” para impulsionar sua terceira candidatura.
No caminho para o indiciamento, Trump postou em sua rede social Truth Social debochadamente “uau, vão me prender!”, acrescentando que sua ida ao tribunal parecia “surreal”. Na véspera, ele registrara que “o promotor corrupto não tem um caso. O que ele tem é um lugar onde é IMPOSSÍVEL para mim ter um julgamento justo” (Trump teve 1% dos votos no distrito de Manhattan, segundo agências de notícias).
Aproveitando o fato do indiciamento, Trump lançou um apelo por doaçoes de campanha, e angariou em poucos dias mais sete milhões de dólares. Desde que a acusação foi divulgada, Trump melhorou sua margem sobre a possível candidatura do governador da Flórida, Ron DeSantis, ampliando de 43% a 31% para 51% a 21%, de acordo com Zero Hedge.
A promotoria promete fazer o seu melhor e já anunciou a intenção de convocar como testemunha Stormy Daniels. A estrela pornô disse que não tem medo de enfrentar o ex-presidente no tribunal: “Eu o vi nu. Não há como ele ser mais assustador com suas roupas”, registrou o portal Common Dreams.
Como, no lado de Joe Biden, tem um telhado de vidro do tamanho do Himalaia – seu filho, Hunter, o dono do “laptop do inferno” e conviva dos crimes dos EUA pós-golpe de 2014 na Ucrânia – tudo leva a crer que o nível do debate na campanha eleitoral será verdadeiramente abissal.
Fonte: Papiro