Lula reafirma foco no desenvolvimento sustentável com inclusão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta segunda-feira (24), do Fórum Empresarial Portugal-Brasil: Parcerias para a Inovação, realizado em Matosinhos, região do Porto, em Portugal. No evento, ele reforçou a importância da parceria com Portugal, destacou que não vai privatizar empresas brasileiras, reafirmou que o Brasil quer garantir desenvolvimento sustentável com inclusão social e protagonismo internacional e voltou a criticar as altas taxas de juros.
O fórum contou com cerca de 200 empresários dos dois países e teve a presença do primeiro-ministro português, António Costa, da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e do presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, além de outras autoridades.
Em seu discurso, Lula defendeu que entre os componentes necessários para que o Brasil possa atrair capital externo estão a estabilidade política, social e jurídica e a credibilidade. Também destacou que no Brasil “não vamos vender empresas públicas. O que queremos é convidar os empresários a fazerem parcerias conosco naquilo que a gente precisa criar de novo”.
O presidente lembrou ainda que nos últimos seis anos, no Brasil, “se vendeu muito patrimônio público não para construir outro patrimônio ou para construir outro ativo, mas simplesmente para pagar juros da dívida pública. Ou seja, se desfizeram do nosso patrimônio, o nosso patrimônio ficou menor e a qualidade do serviço não melhorou”.
Outro ponto colocado pelo presidente foi a convergência entre desenvolvimento social e econômico e a questão ambiental. “A prioridade no meu governo é retomar o desenvolvimento e a inclusão social no país de forma sustentável. A transição ecológica energética é também uma oportunidade de fazermos isso com empregos verdes na área de energia renovável, onde temos imenso potencial solar e eólico, no reaproveitamento de resíduos e na recuperação de 30 milhões de hectares em pastagens e terras degradadas. Estamos voltando ao combate ao desmatamento e voltamos a prevenir, de verdade, os crimes ambientais”.
Resgatando a marca de seus primeiros meses de governo, o presidente salientou: “Quando dizemos que o Brasil voltou, é porque o Brasil esteve afastado do mundo praticamente durante seis anos. (…) Vocês se lembram que o Brasil não recebia nenhum presidente e o nosso presidente não viajava para nenhum país porque ninguém tinha nenhum interesse em conversar com pessoas que não se comportavam de forma civilizada”.
Ao falar sobre o legado de destruição deixado pelo governo de Jair Bolsonaro, Lula lembrou que nesses primeiros meses de mandato, “o que fizemos foi preparar o Brasil para dar o salto de qualidade que queremos dar. Tivemos de recuperar todas as políticas de inclusão social que foram desmontadas. O que fizemos em 13 anos foi desmontado em quatro anos. Até a fome, que tinha sido reconhecida como eliminada no Brasil pela ONU, voltou e hoje temos 33 milhões de pessoas passando fome. Uma coisa que tinha acabado em 2012. Significa que teremos de fazer muita coisa que já tínhamos feito”.
Lula explicou, no entanto, que o Brasil “está preparado para voltar a ser um país grande, importante, atraente e quer construir políticas de parceria. Não queremos relações hegemônicas com ninguém. (…) Queremos construir parcerias com as empresas portuguesas e queremos que os empresários portugueses construam parcerias com as nossas empresas”.
O presidente voltou a criticar a taxa de juros e a defender que sua redução ajudará na retomada do crescimento. “Nós temos um problema no Brasil, que Portugal não sei se tem. É que a nossa taxa de juros é muito alta. No Brasil, a Selic, que é a referencial, está em 13,75%. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%, ninguém. E não existe dinheiro mais barato”, declarou Lula.
O presidente apontou que o país precisa de dinheiro, que tem de circular “não penas na mão de poucos, mas na mão de todos”. Lula reafirmou que “a solução do Brasil é a gente voltar a colocar o pobre no orçamento, é a gente garantir que as pessoas pobres possam participar. Porque quando eles virarem consumidor, eles vão comprar; quando comprarem, o comércio vai vender; quando o comércio vender, vai gerar emprego e vai comprar mais produtos nas fábricas. E assim a gente vai gerar mais emprego e mais salários. É a coisa mais normal a roda da economia funcionando e todo mundo participando. Já fizemos isso uma vez e vamos fazer novamente”.
Por fim, pontuou: “O Brasil está de volta e está de volta para ser protagonista internacional. Por isso estou me dedicando, inclusive, em tentar parar de falar em guerra e construir a paz para que a gente possa produzir para a humanidade viver melhor”.
Parceria Brasil-Portugal
A agenda desta segunda-feira (24) compõe a série de compromissos que o presidente Lula e sua comitiva cumprem em Portugal desde a sexta-feira (21). O fórum empresarial foi realizado no Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Portugal, instituição que colaborou com a Embraer no projeto do avião cargueiro KC-390 e mantém parcerias com diversas empresas e entidades brasileiras ligadas à tecnologia e inovação no Brasil.
Segundo informou a Agência Brasil, os investimentos feitos pela Embraer em Portugal, na OGMA Indústria Aeronáutica de Portugal, e em duas fábricas no Parque Industrial de Évora, alcançam US$ 500 milhões. Um contrato entre a Embraer e o governo português prevê a entrega de cinco aeronaves KC-390 à Força Aérea Portuguesa. Uma por ano, a partir de 2023, pelo montante de 872 milhões de euros.
O comércio entre Brasil e Portugal foi de US$ 5,26 bilhões em 2022, um aumento de 50,8% em relação ao ano anterior. Portugal é hoje o 17º país que mais importa produtos do Brasil, e o 45º na lista de países que mais exportam para o Brasil.