O juiz Clarence Thomas (em primeiro plano) e o colecionador de peças nazistas, Harlan Crow | Foto montagem de The Real Deal

Ao ser descoberto na semana passada recebendo subornos do bilionário texano e megadoador republicano Harlan Crow, o juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Clarence Thomas tentou reduzir o vergonhoso esquema de corrupção a uma generosa hospitalidade e benevolência.

Afinal, ponderou, como as benesses se reduziam a férias luxuosas, viagens de voo particular ou no mega iate por mais de duas décadas, o nome do benemérito deveria se manter sob sigilo, uma vez que “não era denunciável”.

Após tentar minimizar o escândalo a pequenos “presentes” do filantropo das causas ultraconservadoras, Thomas se complicou, pois um novo relatório da Justiça aponta que o juiz tentou encobrir dinheiro repassado pelas empresas de Crow – também a fim de calar sobre as razões da intimidade.

Um relatório divulgado na última quinta-feira (20) comprova que a relação entre Crow e Thomas vem de longa data e inclui a venda de um imóvel da família do juiz à empresa de Crow por US$ 133.363 (R$ 665.000) sem declarar a negociação quando lei norte-americana de 1972 obriga juízes a declarar qualquer venda ou aquisição de imóvel em valor superior a US$ 1.000.

“As revelações sobre juízes que não estão à altura das normas éticas esperadas seguem crescendo”, declarou o chefe do Comitê Judicial do Senado, Dick Durbin, esperando que já a partir do próximo dia 2 de maio comecem os depoimentos.

NOMEADO POR BUSH

Nomeado pelo presidente republicano George H. W. Bush, em 1991, foi confirmado no poderoso cargo apesar das acusações de assédio sexual da sua ex-assistente, Anita Hill.

Em 2014 uma das empresas do bilionário, colecionador de revistas nazistas, vasos com suásticas e até desenhos ditos do punho do próprio Hitler, comprou uma propriedades em Savannah, na Geórgia, de propriedade de Clarence Thomas e membros de sua família por um total de US$ 133.363. Só que, depois da “compra” realizada, a mãe de Thomas, de 94 anos, ficou morando generosamente no local. Antes da compra, empresa ligada a Crow, realizou obras na casa, incluindo cerca e portão de entrada e telhado. Questionado sobre a razão de “empreendimento” tão generoso, Crow declarou que investiu na propriedade porque tem planos de transformá-la em um museu em homenagem a Clarence Thomas, “um dos únicos juízes negros norte-americanos”.

O fato é que o formulário preenchido por Thomas tinha um espaço para relatar a identidade do comprador em qualquer transação privada, como um negócio imobiliário, que está casualmente em branco.

“Ele precisava relatar seu interesse na venda. Dado o papel que Crow desempenhou ao subsidiar o estilo de vida de Thomas e sua esposa, você deve se perguntar se isso foi um esforço para colocar dinheiro em seus bolsos”, questionou Virginia Canter, ex-advogada de ética do governo.

Especialistas em leis éticas se manifestaram em uníssono, destacando que, com o seu silêncio sobre a negociação, o juiz violou abertamente a lei, ele disse simplesmente que não tinha conhecimento das alterações legais ocorridas, ainda em 1972, depois do escândalo de Watergate que levara Nixon a se demitir.

Também é denunciado o envolvimento do juiz com tentativa de golpe. Em 2020, a esposa de Thomas, Ginni, reconhecida lobista e militante da ultradireita se envolveu na campanha do ex-presidente Donald Trump para ajudar a demonstrar, sem nenhuma prova, que a eleição presidencial teria sido fraudada. Após a divulgação de mensagens e e-mails enviados por Ginni foi constatado o “conflito de interesses” e solicitado o afastamento do marido de qualquer pendência envolvendo questões eleitorais.

Fonte: Papiro