Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

A inflação voltou a desacelerar em abril, a contragosto de Campos Neto, presidente do Banco Central, que tem projetado inflação mais alta para 2023 para contestar a redução da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% e desde agosto do ano passado. Em abril, o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação calculada pelo IBGE, registrou uma variação de alta de 0,57%, ficando abaixo dos 0,69% registrados em março deste ano, e inferior ao mesmo período do ano passado (1,73%).

No ano, o IPCA-15 acumula alta de 2,59%, estando bem abaixo do registrado para os acumulados dos quatro meses do ano passado (4,31%), de acordo com a série histórica do IPCA-15.

Para o acumulado dos últimos 12 meses, a inflação está em 4,16%, abaixo dos 5,36% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. No ano passado, o indicador registrava alta de 12,03%.

Variação do IPCA-15 em 12 meses, para os últimos quatro meses:

· Em janeiro, a variação do IPCA-15 foi de 5,87%, abaixo dos 5,90% observados nos 12 meses imediatamente anteriores;

· Em fevereiro, de 5,63%;

· Em março, de 5,36%;

· Em abril, de 4,16%.

Na última segunda-feira (24), no boletim Focus, do BC, os analistas de mercado voltaram a subir a projeção de inflação deste ano, passando de 6,01% para 6,04%, sendo a quarta alta seguida. Já a projeção para taxa de juros básica continuou em 12,50% – o que pela mediana das projeções, significa que metade das instituições ouvidas pelo BC indicaram uma taxa maior.

O chamado mercado – típico defensor dos juros altos no Brasil – está reagindo às incitações de Campos Neto, que nestas últimas semanas – com o aumento da pressão pela redução dos juros no Brasil – foi a público defender a manutenção dos juros altos. Em um de seus discursos, Campos Neto chegou a dizer que “a economia não gira em torno da Selic”.

Para o economista e presidente da Associação Brasileira de Investidores (Abradin), Aurélio Valporto, “as falas do presidente do Banco Central no Senado, ontem (26) comprovam que o raciocínio da autarquia sobre o processo inflacionário carece de um mínimo de coerência lógica”. Valporto alertou para a desconexão do BC com a realidade.

“Quando houve a queda da inflação e meses de deflação, provocados pela queda nos preços internacionais do petróleo e das commodities, no segundo semestre de 2022, o Banco Central manteve os juros em patamares estratosféricos alegando que o núcleo da inflação estava alto. A autoridade monetária criou a ‘teoria da deflação inflacionária’, quando os índices de inflação negativos de julho a outubro de 2022 foram a prova mais concreta de que não havia nenhuma pressão de demanda”.

“Parece que nosso Banco Central adotou modelinhos matemáticos de dinâmica da inflação com expectativas adaptativas que não guardam absolutamente nenhuma correlação com a economia real, tanto porque as simplificações dos modelos são sempre draconianas diante do número virtualmente infinito de premissas da economia real, quanto pelas atas do Copom e pelo discurso do presidente da instituição, (que) estão adotando premissas completamente equivocadas”, afirmou o especialista.

“Falta conexão do Banco Central com os grandes formadores de preço. Se fizesse isso, descobriria, por exemplo, que a Americanas, em sua recuperação judicial, argumentou que a demanda estava reduzida e que mesmo assim foi obrigada a aumentar preços por causa dos elevados custos financeiros. No final das contas, depois de criar a inacreditável teoria da deflação inflacionária, o nosso Banco Central, desconectado da realidade, conseguiu criar os juros inflacionários!”, observou Aurélio Valporto.

No mês de abril, a alta de 0,57% na prévia da inflação foi essencialmente puxada pelo preço dos combustíveis e passagens aéreas. A gasolina registrou alta de 3,47%, enquanto o etanol subiu 1,1%. Já as passagens aéreas tiveram um aumento de 11,96%. Segundo o IBGE, houve também uma alta de 1,86% nos produtos farmacêuticos, que foi influenciada pelo reajuste de 5,6% no preço dos remédios, autorizada pelo governo federal no final do mês passado. Nos últimos 30 dias, os planos de saúde também subiram 1,20%.

Por outro lado, houve uma desaceleração no grupo Alimentação e bebidas, de 0,20% em março para 0,04% em abril, puxada pela variação negativa da alimentação no domicílio (-0,15%). Destacam-se as quedas nos preços da batata-inglesa (-7,31%), da cebola (-5,64%), do óleo de soja (-4,75%) e das carnes (-1,34%). No lado das altas, o destaque foi o ovo de galinha, cujos preços subiram 4,36% em abril.

Veja a variação mensal do IPC-15 por grupo:

• Transportes: 1,44%

• Saúde e cuidados pessoais: 1,04%

• Habitação: 0,48%

• Vestuário: 0,39%

• Despesas pessoais: 0,28%

• Educação: 0,11%

• Artigos de residência: 0,07%

• Comunicação: 0,06%

• Alimentação e bebidas: 0,04%

Fonte: Página 8