Pence tentou evitar o depoimento, mas teve que comparecer | Foto: Erin Schaff/AFP

O ex-vice-presidente Mike Pence testemunhou na quinta-feira (27) perante um grande júri federal que investiga a tentativa do ex-presidente Donald Trump de subverter a eleição de 2020 e evitar a transferência de poder para Joe Biden, segundo duas pessoas familiarizadas com o assunto.

O depoimento marca um momento crucial na investigação criminal conduzida pelo advogado especial Jack Smith e é a primeira vez na história moderna que um vice-presidente foi obrigado a testemunhar sobre o presidente ao lado do qual cumpriu mandato.

Foi um testemunho a portas fechadas, que durou cerca de cinco horas, tendo como foco as pressões de Trump sobre Pence para que propiciasse uma fachada ‘constitucional’ para seu golpe, que culminaram com a invasão do Congresso norte-americano por suas turbas no 6 de janeiro de 2021, forçando o então vice e os congressistas a terem de se esconder. Inclusive no assalto ao Capitólio, as hordas trumpistas berravam “enforquem Pence”.

Horas antes, um tribunal federal de apelações havia rejeitado uma interpelação de Trump para impedir Pence de testemunhar ou limitar o escopo das possíveis perguntas dos promotores. “Não há nada a esconder”, comentou Pence sobre a decisão judicial, segundo o portal Politico.

A decisão da corte de apelações favorável ao depoimento foi por unanimidade, sendo que dois juizes haviam sido nomeados por Obama e o terceiro, pelo próprio Trump. Anteriormente, Pence havia se recusado a testemunhar perante o comitê seleto da Câmara que investigou a invasão do Capitólio, mas publicou um livro de memórias em que apresenta sua versão sobre os fatos de 6 de janeiro. Vários ex-assessores da Casa Branca também depuseram no comitê seleto.

Como vice-presidente, era função de Pence presidir a sessão conjunta do Congresso norte-americano que oficializaria a contagem dos votos no colégio eleitoral que atestavam a vitória de Biden.

PENCE SE ESQUIVA DO GOLPE

Trump e seus advogados encenavam que teria havido fraude, e a pressão sobre Pence visava fazê-lo rejeitar os votos do colégio eleitoral ou atrasar sua contagem. Mas Pence se recusou, argumentando que não tinha poder para decidir quais votos eleitorais contar ou rejeitar.

No livro, Pence escreveu que pediu a seu conselheiro geral um briefing sobre os procedimentos da Lei de Contagem Eleitoral depois que Trump em um telefonema de 5 de dezembro “mencionou contestar os resultados das eleições na Câmara dos Representantes pela primeira vez.”

Durante o almoço em 21 de dezembro, escreveu Pence, Trump rechaçou seu pedido para que ouvisse o conselho da equipe de advogados da Casa Branca, em vez de advogados externos. No dia de Ano Novo, em telefonema a ele, Trump teria dito lhe que “você é honesto demais”, acrescentando que seria odiado por “centenas de milhares” e ia ser considerado “estúpido”. Sua resposta teria sido de que “não questionava que houve irregularidades e fraudes”, e que se tratava apenas de “uma questão de quem decide e, segundo a lei, é o Congresso”.

Fonte: Papiro