Ex-ministro de Bolsonaro admite que não informou sobre joias à Receita
O caso das joias destinadas a Jair Bolsonaro (PL) ganha mais um novo elemento que torna a história ainda mais obscura e complicada para o ex-presidente. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, admitiu não ter informado à Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos que trazia um estojo com joias milionárias da Arábia Saudita, presenteadas a Bolsonaro.
Segundo a informação, revelada pelo jornal O Globo, Albuquerque só teria aberto a caixa que recebeu no dia seguinte à sua chegada, no ministério, local onde elas ficaram guardadas por cerca de um ano. Por serem um presente ao Estado brasileiro, as mesmas — assim como as demais joias recebidas — deveriam ter sido entregues imediatamente ao acervo do Palácio do Planalto.
Presentes como estes, aliás, costumam ser despachados como bagagem diplomática e não há cobrança de impostos por se tratarem de bens do próprio Estado.
Após liderar uma comitiva que viajou à Arábia Saudita, representando o presidente Jair Bolsonaro em outubro de 2021, no retorno ao Brasil, Marcos Soeiro, assessor de Bento Albuquerque, foi parado com um pacote de joias no valor de R$ 16,5 milhões. Por não ter sido declarado, nem despachado como presente ao país, o conjunto foi retido pela Receita Federal.
Ao ver que seu assessor havia sido abordado, Albuquerque retornou à alfândega do Aeroporto de Guarulhos e alegou que o presente era para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Segundo o depoimento que veio à tona agora, o ex-ministro admitiu que “não chegou a comentar que teria outra caixa na sua bagagem”. Este conjunto continha um relógio com pulseira em couro, par de abotoaduras, caneta rosa gold, anel e um de rosário islâmico.
“À PF, Bento Albuquerque afirmou que não avisou Bolsonaro sobre os presentes. O próprio ex-presidente, ao retornar a Brasília depois de uma temporada de três meses nos Estados Unidos, na semana passada, admitiu que tentou reaver as joias apreendidas em Guarulhos”, aponta O Globo. O depoimento do ex-ministro foi colhido pela PF no dia 14 de março.
Após o escândalo que está sob investigação vir a público, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução dos presentes, o que foi feito pela defesa do ex-presidente no dia 24 de março. Na ocasião, as joias foram entregues na sede da Caixa Econômica Federal em Brasília. Armas também presenteadas pelos Emirados Árabes a Bolsonaro foram entregues à PF.
Além desses dois estojos — um com joias femininas, outro com joias masculinas — Bolsonaro foi presenteado pessoalmente em outubro de 2019 com outro conjunto quando esteve no Qatar e na Arábia Saudita. O então presidente teria ordenado que este estojo fosse levado ao seu acervo privado, o que foi feito pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência. Ao todo, os três conjuntos valem cerca de R$ 18 milhões.
Nesta quarta-feira (5), Jair Bolsonaro irá depor à Polícia Federal sobre o caso das joias. Outros nove depoimentos também serão colhidos na ocasião.
(PL)