Cela imunda onde Thompson morreu comido por percevejos | Foto: Escritório Harper de Advocacia

Em uma semana, fotos que foram tornadas agora públicas por familiares e advogados expuseram a crueldade extrema que vigora no sistema carcerário dos EUA, o de maior população do mundo, e todo o cinismo do palavrório de Washington sobre “direitos humanos”: dois doentes mentais, Lashawn Thompson e Joshua McLemore, presos arbitrariamente e sem julgamento, morreram de fome e maus tratos na solitária.

Literalmente “comido vivo” por percevejos, denunciou o advogado Michael D.Harper, sobre Thompson.

As imagens do homem negro de 35 anos chocaram os EUA, mostrando-o abandonado em uma cela repugnante da “ala de saúde mental” da Cadeia do Condado de Fulton, na Geórgia, seu corpo coberto de feridas, insetos e lesões.

A cela de Thompson “estava imunda com sujeira e refugo, imprópria para um animal doente”, acrescentou o advogado. Ele morreu em setembro do ano passado, três meses após ser tirado de um banco de praça onde dormia, por policiais.

“Lashawn Thompson morreu com os olhos abertos. Está documentado nos registros médicos… eles o viram declinando e não fizeram nada”, disse Harper.

“É de partir o coração”, disse seu irmão caçula, Brad McCrae, em entrevista ao Washington Post. “As fotos são realmente horríveis, são difíceis de olhar.”

Em um processo aberto também na semana passada, a família de Joshua McLemore, um branco de 29 anos, diagnosticado anteriormente com esquizofrenia, afirmou que ele morreu de fome na prisão do condado de Jackson, no sul de Indiana, em agosto de 2021, depois de mantido em confinamento solitário por quase 20 dias.

“Tortura sancionada pelo Estado”, disse o advogado de direitos humanos, Steven Donzinger.

Essas fotos perturbadoras foram também comentadas pelo premiado jornalista australiano John Pilger no Twitter: “Olhe e recue para as fotos abaixo. Eles foram levados para o bárbaro sistema prisional para o qual o Reino Unido, os Estados Unidos e a Austrália conspiram para enviar Julian Assange, um homem inocente cujo único ‘crime’ é o jornalismo real.”

Para muitos, parecia “Abu Graib”. Thompson e McLemore jamais foram condenados por qualquer coisa, nem sequer julgados. De McLemore sequer tiraram as digitais. Não receberam assistência médica, ou qualquer cuidado: duas sentenças de morte expedidas como se nada fosse.

Thompson supostamente teria cuspido no policial que o abordou, e dali foi levado para a morte horrenda. Já McLemore, que sofria de psicose grave após consumir metanfetamina, estava no pronto-socorro quando um policial fora de serviço o testemunhou agarrar o cabelo de uma enfermeira.

Dali foi levado para a cadeia do condado e jogado em uma cela sem janelas que não tinha cama. Ao longo de 20 dias, McLemore ficou sozinho, as lâmpadas fluorescentes acesas 24 horas por dia, a porta do banheiro trancada, obrigando-o se aliviar no mesmo recinto em que dormia e comia. De acordo com uma investigação da polícia estadual, ele quase não comia ou bebia, e perdeu quase 20 quilos.

Apesar do incômodo do cadáver na solitária, o promotor do condado de Jackson, Jeffery Chalfant, asseverou “que nenhum crime foi cometido por funcionários da prisão do condado de Jackson relacionado à morte de Joshua A McLemore”. Ou seja, carimbou que a impunidade, no que depender dele, está garantida.

O advogado de direitos civis Ben Crump, que também representa a família de Thompson, disse que a equipe jurídica vai buscar uma autópsia independente. Ele mostrou uma foto post-mortem ampliada de Thompson com os olhos abertos, as pálpebras cercadas por insetos. Ele teve mais de 1.000 picadas e insetos foram encontrados em sua boca, orelhas, nariz e em todo o corpo.

Embora as condições a que Thompson e McLemore foram sujeitados fossem particularmente ultrajantes, essas e outras aberrações se repetem regularmente no sistema prisional dos Estados Unidos, o recordista mundial do encarceramento em massa – dos erros judiciais flagrantes à violência institucionalizada, passando pela negação de assistência médica e até mesmo trabalho em condições análogas à escravidão para grandes corporações.

Fonte: Papiro