Fiéis e padres da Igreja Ortodoxa se unem contra a invasão do monastério milenar em Kiev | Foto: AFP

O conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podoliak, pediu, em entrevista ao canal de TV Ucrânia 24, a eliminação da Igreja cristã ortodoxa Ucraniana (UOC) – nas palavras dele, “limpeza física” – e comparou a religião de milhões de ucranianos e russos a “um abscesso que deve ser fechado cirurgicamente”.

A “sugestão” genocida dessa modalidade de limpeza étnica ocorreu enquanto religiosos e paroquianos se recusavam no final de semana a deixar o principal mosteiro do cristianismo ortodoxo apesar do cerco policial, o Mosteiro das Cavernas (Kiev-Pechersk Lavra), que existe desde o século 11. E seu líder, o bispo metropolitano Pavel, teve sua prisão domiciliar decretada por dois meses, após sua residência ser invadida e revistada.

A perseguição a Pavel está sendo feita sob a folha de parreira de dois artigos do Código Penal ucraniano – incitamento ao ódio e cooperação de religiosos com o “país agressor” -, cada um deles ameaçando com mais de um ano de cárcere.

O governo Zelensky havia arbitrariamente anunciado que os 220 monges deveriam deixar o mosteiro, por supostamente não estar mais valendo acordo de usufruto, a menos que os religiosos se filiassem à Igreja pró-Maidan instituída durante o governo Poroshenko, a UCO, uma igreja “ucraniana pura”. Em 19 de janeiro, o regime de Kiev apresentou um projeto de lei para banir qualquer igreja que fosse acusada de “ligação com a Rússia”.

No ano passado, o regime de Kiev organizou a maior onda de perseguição na história recente do país contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana, com a qual milhões de fiéis se identificam. Com o apoio oficial, neonazistas e ‘cismáticos’ pró-Maidan atacaram religiosos e crentes e confiscaram igrejas e mosteiros.

O Patriarca Kirill de Moscou e de Toda a Rússia chamou a perseguição à Igreja Ortodoxa Ucraniana de uma “zombaria” do princípio dos direitos e liberdades humanos e instou os líderes religiosos e personalidades internacionais a “impedirem o fechamento do Mosteiro das Cavernas de Kiev”.

Já para Zelensky, a perseguição de seu regime aos cristãos ortodoxos da UOC visa proteger a “independência espiritual” da Ucrânia – que, certamente, não estaria ameaçada nem por neonazistas nem pela vassalagem a Washington.

“Uma oportunidade única, quando tudo poderia ser resolvido de forma muito rápida e indolor, foi durante os primeiros três a seis meses da guerra. Então foi possível simplesmente limpar fisicamente muitos pró-Rússia, hoje é um pouco mais difícil. Mas, novamente, um pouco mais difícil não significa impossível”, disse Podoliak, sem o mínimo pudor ao defender sua “solução final” contra os cristãos ortodoxos ucranianos de fala russa.

Em 26 de março, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos publicou um relatório sobre o ataque à liberdade religiosa na Ucrânia, advertindo sobre a “discriminação” contra a Igreja Ortodoxa Ucraniana (UOC) e registrando que padres foram submetidos a interrogatório pelo Serviço de Segurança e tiveram suas residências revistadas.

O porta-voz do Patriarcado de Moscou, Vladimir Legoida, denunciou pelo Telegram que “colocar o metropolita Pavel em prisão domiciliar sob acusações falsas é uma continuação lógica, infelizmente, da ilegalidade perpetrada hoje pelas autoridades ucranianas”. “Este é o seu ‘diálogo’ com os representantes da maior denominação cristã na Ucrânia”, advertiu.

No domingo, outro episódio da perseguição aos cristãos ortodoxos. Na cidade de Khmelnitsky, a catedral foi invadida por arrivistas pró-regime e rezadeiras de Maidan, e declarada confiscada pela UCO.

PAPA CONDENA PERSEGUIÇÃO

Por sua vez, o papa Francisco, no dia 15 de março, se manifestou contra a expulsão dos religiosos da Igreja Ortodoxa Ucraniana de seus mosteiros, em unidade com o patriarca Kirill, conforme registrou o Vatican News.

“Penso nos monges ortodoxos da Lavra de Kiev. Peço as partes em conflito que respeitem os locais sagrados. Os monges consagrados, as pessoas consagradas à oração de qualquer confissão, são o sustento do povo de Deus”, disse o pontífice ao final da Audiência Geral, na praça São Pedro.

O complexo monástico de Kiev-Petchersk existe desde o século 11 e é o local ortodoxo mais reverenciado da Ucrânia. Foi declarado em 1990 Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, junto com a Catedral de Santa Sofia de Kiev.

Na sexta-feira (31), a resistência de fiéis e religiosos impediu a consumação do esbulho. Monges espargiram água benta nos provocadores que, gritando slogans nazistas, foram até o mosteiro. À noite, os fiéis permaneceram de guarda para proteger os santuários da invasão. O que se repetiu na segunda-feira.

Fonte: Papiro