Confusão mental de Bolsonaro por morfina não procede
Os acontecimentos mais recentes envolvendo Jair Bolsonaro mostram que o ex-presidente se mantém fiel a uma de suas principais características: a de manipulador. Apesar de ser um bravateiro de carteirinha, quando a situação complica, gosta de fugir pela tangente e lança mão de explicações que só convencem os seus apoiadores mais fiéis.
A mais nova investida foi a do vídeo de conteúdo golpista publicado “sem querer” em seu perfil no Facebook, dois dias após os ataques de bolsonaristas às sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro. A postagem teria acontecido, segundo indica sua defesa, devido a algum tipo de “confusão mental”, supostamente consequência do uso de morfina.
“Ele teve uma crise de obstrução intestinal, foi submetido a tratamento com morfina, foi hospitalizado e só recebeu alta na tarde do dia 10 (de janeiro). Esta postagem foi feita de forma equivocada. Tanto que pouco depois, duas ou três horas depois, ele foi advertido e imediatamente retirou a postagem”, alegou o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, após o ex-presidente depor à Polícia Federal sobre o episódio.
Vale lembrar que na véspera do depoimento, conforme informado pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Bolsonaro treinou com seus advogados como responder aos questionamentos da PF, deixando tudo bem amarradinho.
Mas, será que essa tese da morfina procede? De acordo com a professora de farmacologia e ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Soraya Smaili, em declaração dada ao jornal O Globo, “é uma argumentação ruim porque a morfina causa mais constipação, ao provocar uma diminuição na motilidade gastrointestinal. É muito estranho”.
Smaili continuou explicando que em relação ao sistema nervoso central, “a morfina causa principalmente sonolência, uma certa depressão… Agora, confusão mental, só numa concentração muito alta”.
Ao UOL, o anestesiologista Guilherme Barros disse que “a pessoa pode ter comportamentos de sonolência, ficar mais letárgico para responder ao meio, de acordo com a dose administrada. Mas não a ponto de falar coisas em desacordo com a realidade, ou ter mudanças na capacidade de raciocínio. O paciente sonolento não diz algo que não acredita, apenas fala de maneira lenta”.
Internet não perdoa
Não à toa, a “central de memes” trabalhou a todo vapor nesta quarta (26), após a declaração do advogado. Não faltaram montagens como o “Bolso-Chaves”, com o famoso bordão “foi sem querer querendo”. E a frase “foi mal, tava doidão” pipocou nas redes e entrou nos trending topics. “Quer dizer que a nova é que Bolsonaro divulgou vídeo contestando o resultado das eleições porque estava doidão? A covardia é tanta que ele prefere passar por idiota do que assumir seus atos. Nem ele se leva mais a sério!”, disse o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), em suas redes.
Já a deputada federal e líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), destacou: “Quem aí acreditou no engodo do Bolsonaro? Novamente ele se apoia em supostos problemas de saúde para justificar postagem de vídeo golpista após 8/1. Só se esquece que mentira tem perna curta. Foram quatro (loooongos) anos de declarações golpistas, ataques às urnas eletrônicas e aos poderes da República. Ao perder, continuou a espalhar mentiras e a incentivar o golpe. Agora, mente mais uma vez à PF, para tentar escapar. Uma coisa é certa: quem planta golpe, colhe cadeia”.
Para o o jurista Renato Vieira, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), em declaração dada à coluna de Daniel Haidar, do portal Terra, “é um acinte um ex-presidente – que era porta-voz de todas as notícias mentirosas e é investigado inclusive por se dar ao trabalho de chamar 40 diplomatas estrangeiros para propagar mentiras sobre o sistema eleitoral – falar agora que foi sem querer porque perdeu a prerrogativa de foro. Antes de perder a prerrogativa de foro, nada era sem querer. Tudo era por querer. Ele se jactava de dizer isso”.
Com agências