Ações do First Republik no despenhadeiro | Foto: Reprodução

Com a derrocada do First Republic Bank fazendo suas ações despencarem 43% só na sexta-feira (28) e 75% na semana, a Reuters considerou “iminente” uma intervenção do órgão regulador federal norte-americano, o FDIC, à medida que as esperanças em um resgate privado se esvaem. As ações do FRB, que eram negociadas a US$ 120 no início de março, agora estão em irrisórios US$ 1,20 e desde a quebra do Silicon Valley Bank o FRB já perdeu mais de US$ 100 bilhões em depósitos.

Segundo o Wall Street Journal deste sábado (29), a captura pelo governo do First Republic seguida por sua venda, “podem ocorrer ainda neste fim de semana”. Grandes bancos, incluindo o JPMorgan e o PNC, estão avaliando a compra, acrescenta.

Na véspera, o portal especializado em cobrir o Congresso dos EUA, The Hill, havia apontado que o FRB podia ser a próxima instituição financeira a entrar em colapso e concluiu que “a crise bancária do mês passado ainda não acabou”, referindo-se à quebra do Silicon Valley Bank e do Signature Bank.

Na bolsa, a negociação das ações do FRB precisou ser interrompida várias vezes durante a semana, devido à ladeira abaixo. O colapso do FRB reedita os do SVR e do Signature, que vieram ao chão sob uma corrida para retirada de depósitos, com os dois bancos tendo de vender antes do vencimento e com pesado prejuízo títulos do Tesouro que mantinham como garantia, devido à acelerada elevação dos juros pelo Federal Reserve. Nos últimos doze meses, o Fed realizou a mais rápida alta dos juros desde o “Choque Volker’ do final dos anos 1970.

O ex-secretário do Tesouro, Lawrence Summers, criticou os reguladores de Washington e os gigantes do setor bancário dos EUA por ainda não terem descoberto uma solução para o sitiado First Republic Bank.

“Estou surpreso e desapontado com o fato de esta situação continuar a durar tanto tempo, com as ações do banco caindo 95%” e os indicadores de crédito se deteriorando, disse Summers na “Wall Street Week” da Bloomberg Television.

“Espero que entre os bancos, o FDIC, as outras autoridades públicas, o melhor caminho a seguir seja encontrado na próxima semana ou 10 dias”. O ex-secretário acrescentou que “são coisas como incêndios florestais, é muito mais fácil evitá-los do que contê-los depois que começam a se espalhar”. “Precisamos descobrir a resposta para essa pergunta o mais rápido possível e seguir em frente.”

De acordo com uma reportagem do Financial Times (FT) sobre o “alarme em Washington” causado pela crise do First Republic, o governo Biden estava ficando “cada vez mais preocupado” com o fato de o banco estar ficando sem tempo para tranquilizar depositantes e investidores.

IMPACTO

Segundo analistas, o colapso iminente do First Republic – um banco regional fortemente envolvido no mercado de empréstimos hipotecários de alto padrão – pode ser mais preocupante do que o do SVB, que operava em uma área especializada – empresas de alta tecnologia e startups apoiadas pela entrada de dinheiro de firmas de capital de risco.

Na operação de resgate do SVB, o FDIC não só executou sua incumbência legal de garantir depósitos até US$ 250.000, como foi além, cobrindo todos os depositantes, invocando uma cláusula de “isenção sistêmica” de forma inédita.

A prolongada crise bancária tem implicações para a economia dos EUA. Os bancos regionais, como o First Republic, são os principais credores para as empresas do setor. Mesmo os bancos que não estão sob pressão vêm reduzindo seus empréstimos para reduzir o risco, prejudicando a capacidade dos empregadores de contratar e crescer.

Assim como ocorreu com o SVB, os bancos regionais compartilham fraquezas semelhantes, incluindo uma grande proporção de depósitos não garantidos e grandes participações em títulos de longo prazo que perderam valor de mercado quando o Fed aumentou as taxas de juros de curto prazo.

O Financial Times citou comentários de Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da empresa de inteligência financeira CRA Research, que advertiu sobre mais estresse para os bancos regionais.

“Acho que, em geral, os investidores acreditam que [o First Republic] é um evento isolado, mas, ao mesmo tempo, no minuto em que dizem estão olhando por cima do ombro para garantir que nenhum outro banco os esteja espionando. É como a teoria da barata: se você vir uma, vai ver mais de uma”, disse.

NA BEIRA DO PRECIPÍCIO

Conforme a Reuters, que cita três fontes familiarizadas com a situação, as autoridades norte-americanas estão coordenando negociações urgentes para resgatar o banco regional sitiado, já que os esforços do setor privado até aqui não deram em nada.

A exaustão dos depósitos do First Republic não parou nem mesmo após um grupo de megabancos tentar calçá-lo com um empréstimo de três meses na forma de US$ 30 bilhões em depósitos.

Segundo o Financial Times, uma proposta que pode ser parte de uma solução final é que alguns dos bancos comprem alguns dos ativos de longo prazo do First Republic por mais do que seu preço de mercado atual, permitindo que o credor diminua suas perdas. Mas pessoas familiarizadas com a situação dizem que isso provavelmente não seria suficiente para estabilizar o First Republic.

Como destacou o portal Zero Hedge, tendo em mente que os mega bancos “têm $30 bilhões em depósitos no banco em apuros… então o FDIC já tem um problema”. O ZH registrou ainda, que a participação do First Republic Bank no índice S&P 500 de Wall Street pode estar em risco depois que as ações do banco em dificuldades atingiram uma nova mínima histórica na quarta-feira, que empurrou brevemente sua capitalização de mercado para menos de US$ 1 bilhão. Como observa a Bloomberg, para inclusão ou manutenção no índice, as empresas devem ter um valor de mercado de pelo menos US$ 12,7 bilhões.

Fonte: Papiro