Submarino nuclear USS Virginia | Foto: Marinha dos EUA

A China reagiu à ‘Declaração de Washington’ sobre a península coreana – pela qual o governo Biden anunciou a volta de submarinos nucleares norte-americanos a portos sul-coreanos, a criação de um ‘Grupo Consultivo Nuclear EUA-Seul’ para planejamento estratégico e ameaçou o governo de Pyongyang – advertindo na quinta-feira (27) que “os EUA, a fim de realizar seus próprios interesses geopolíticos e desconsiderar a segurança regional, insistiram em fazer uso da questão da península para criar tensão.”

Na véspera, Biden na Casa Branca recebeu o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, em uma visita de Estado, com todas as pompas. Em relação à península coreana, a política do governo Biden tem sido muito pior do que a do antecessor Trump, sem qualquer perspectiva de retomada de negociações.

O acerto Biden-Yoon na prática joga fora as tentativas de negociação com o regime norte-coreano, que levaram a três encontros entre o Trump e o líder coreano Kim Jong Un em 2018 e 2019, e que implicaram o reconhecimento oficioso do status de potência nuclear do Norte.

Sob o reacionarismo e submissão de Yoon, também voltaram à estaca zero as relações intercoreanas. A ‘Declaração’ foi apresentada quando se completa 70 anos do fim da Guerra da Coreia com um armistício.

“As ações dos EUA estão repletas de mentalidade de Guerra Fria, instigam o confronto em bloco, minam o sistema de não proliferação nuclear, prejudicam os interesses estratégicos de outros países, exacerbam as tensões na península, minam a paz e a estabilidade regional e vão contra o objetivo de desnuclearização da península. A China se opõe firmemente a isso, disse a porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.

Para Pequim, Washington se nega a colaborar para que uma solução pacífica entre as partes seja encontrada. “Todas as partes devem enfrentar o cerne da questão da península [coreana] e desempenhar um papel construtivo na promoção de uma solução pacífica para a questão”.

Foram exatamente as brutais pressões contra Pyongyang, com os EUA apostando na derrubada de seu governo socialista e pilhagem do país – o que ficou patente com o rótulo de integrante do ‘eixo do mal’, dado pelo governo de W. Bush -, que forçaram a Coreia Popular a realizar uma marcha forçada sob sanções draconianas até conquistar uma dissuasão nuclear própria e não sofrer o mesmo destino do Iraque ou da Líbia. E como forma de barganhar a desnuclearização pelo fim da ocupação no sul.

Mao instou ainda Washington e Seul a evitarem “provocar uma confrontação e fazer ameaças”. A implantação de um submarino com armas nucleares na Coreia do Sul não ocorria desde o início da década de 1980 e as armas nucleares que os EUA mantinham no sul foram retiradas no governo de Bush Pai.

O posicionamento de submarinos com armas nucleares em portos sul-coreanos também implica em uma ameaça evidente a China e a Rússia, embora quanto a isso a porta-voz diplomática haja preferido silenciar no momento.

Mas no Global Times, que serve com um porta-voz oficioso de Pequim para as questões internacionais, o assunto não passou em branco. “A implantação de submarinos com armas nucleares dos EUA na região tão perto do território da China é inaceitável. Se Washington pretende quebrar o equilíbrio, a situação regional ficará extremamente tensa”, disse Wang Junsheng, pesquisador de estudos do Leste Asiático na Academia Chinesa de Ciências Sociais em Pequim.

Ele observou ainda que, dos três fatores do conceito de “dissuasão estendida”, EUA e Coréia do Sul já realizam exercícios conjuntos e visitas regulares aos ativos norte-americanos, “e se os EUA derem um passo adiante para implantar armas nucleares, incluindo submarinos com armas nucleares, isso forçará a Coreia do Norte a aprimorar seu desenvolvimento de armas nucleares e mísseis balísticos”.

TAIWAN

A declaração conjunta Biden-Yoon contém, ainda, “alguns elementos que são provocativos para a China”, registrou Han Xiandong, professor de estudos coreanos na Universidade de Ciência Política e Direito da China, ao Global Times.

Segundo o comunicado conjunto divulgado na quarta-feira, os presidentes dos EUA e da Coreia do Sul reiteraram a importância de “preservar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan como elemento indispensável de segurança e prosperidade na região”. Eles se opuseram fortemente a qualquer tentativa unilateral de “mudar o status quo no Indo-Pacífico, inclusive por meio de reivindicações marítimas ilegais, a militarização de recursos recuperados e atividades coercitivas”.

A isso a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao, respondeu na quinta-feira dizendo que a questão de Taiwan é um assunto puramente interno da China e o cerne dos principais interesses da China. A resolução da questão de Taiwan é assunto do próprio povo chinês, e nenhuma força terá permissão para intervir.

“O verdadeiro status quo da questão de Taiwan é que ambos os lados do Estreito de Taiwan pertencem a uma China, Taiwan é parte da China e a soberania nacional e a integridade territorial da China nunca foram divididas”, e as forças separatistas, bem como as forças de interferência externa, são os “principais culpados por minar o status quo no Estreito de Taiwan”, disse Mao.

Declarações de Yoon antes de visitar os EUA, dizendo que Seul poderia rever sua posição de somente ajudar humanitariamente o regime de Kiev e poderia enviar armas no quadro de um agravamento da guerra, também causou reações em Moscou. “Há novos que querem ajudar nossos inimigos. O presidente sul-coreano, Yun Sok-yeol, disse que, em princípio, este estado está pronto para fornecer armas ao regime de Kiev. Além disso, até recentemente, os sul-coreanos garantiam veementemente que a possibilidade de fornecer armas letais a Kiev estava completamente descartada. Eu me pergunto o que os habitantes deste país dirão quando virem as últimas amostras de armas russas de seus vizinhos mais próximos – nossos parceiros da RPDC? — assinalou o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev.

Por sua vez, a oposição sul-coreana, que tem maioria no parlamento, repudiou o comentário de Yoon. “Antes da cúpula nos EUA, o presidente deveria ter reiterado que adere ao princípio da impossibilidade de fornecer assistência militar, e não insinuar sua possibilidade”, disse Pak Hong Geun, líder da facção parlamentar do Partido Democrático. Segundo ele, “o Partido Democrático não tolerará decisões unilaterais do governo que representem uma séria ameaça aos interesses nacionais e à segurança do país”.

Fonte: Papiro