Chanceler da UE defende espião-jornalista preso na Rússia e ignora prisão de Assange
A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, instou, “pela decência do equilíbrio”, Josep Borrell a “defender Julian Assange” e o editor-chefe da Sputnik Lituânia, Marat Kassem, preso desde janeiro, após o chefe da diplomacia europeia condenar a detenção do cidadão norte-americano Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, que foi preso na quinta-feira na Rússia pelos serviços de segurança russos FSB, sob a acusação de espionagem.
“Prove seu ponto, Josep, pelo menos em palavras – defenda Julian Assange e Marat Kassem. Pela decência do equilíbrio”, assinalou Zakharova.
Para a porta-voz, o comentário de Borell não passa de uma demonstração de flagrante hipocrisia e duplo padrão.
Já sobre o fundador do Wikileaks, que enfrenta 17 acusações de “espionagem” nos Estados Unidos, estando prestes a ser extraditado para um calabouço da CIA por denunciar – e provar com milhares e milhares de documentos – os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão, o mais completo silêncio e omissão de autoridades europeias, quando não aberta cumplicidade.
Quanto à prisão de Kassem, acusado de “espionagem” pela Letônia, Bruxelas não viu o menor problema. Mais um russo malvado punido.
Mas agora se trata de que, na quinta-feira passada, os serviços de segurança russos (FSB) “interromperam as atividades ilegais do cidadão norte-americano Evan Gershkovich”, especificando que o repórter do The Wall Street Journal era “suspeito de espionar no interesse do governo americano”.
Stella Assange, esposa de Julian, respondeu ao tweet de Borell afirmando que “se os EUA não tivessem processado Assange sob a Lei de Espionagem, o Sr. Gershkovich ainda poderia estar livre. Não há moral elevada a menos que a UE condene processos políticos igualmente.”
De acordo com o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) a detenção de Gershkovich se deu porque ele foi flagrado tentando obter informações classificadas sobre uma fábrica de defesa localizada nos Urais russos. O crime de que ele é acusado é punível com até 20 anos de prisão.
Com sua costumeira fina ironia, Zakharova havia antes respondido ao porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, que, após a prisão do jornalista do WSJ Gershkovich, orientou os americanos a deixarem a Rússia: “Parece-me que John esqueceu de adicionar espionagem antes da palavra ‘americanos’. Deve ter sido dito nas entrelinhas.”
Como registrou a RT, a retórica do Ocidente sobre a liberdade de expressão global contradiz seus atos à luz de sua severa repressão a jornalistas em todo o mundo, de que a cruzada contra Assange constitui o auge.
BLINKEN E LAVROV
Washington deve respeitar as decisões tomadas pelas autoridades russas de acordo com as próprias leis e obrigações internacionais do país, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no domingo, em telefonema cuja iniciativa partiu de Washington, em que foi discutido o caso do correspondente do WSJ.
Gershkovich foi “pego em flagrante” tentando obter segredos de Estado sob o disfarce de jornalismo, disse Lavrov a Blinken, conforme comunicado russo. Moscou também informou à Embaixada dos EUA sobre sua prisão “através de um procedimento estabelecido”, acrescentou.
A Rússia considera inaceitável que as autoridades de Washington e a mídia dos EUA estejam tentando retratar o caso como político, disse o chanceler russo.
Segundo comunicado do Departamento de Estado, Blinken “transmitiu a grave preocupação dos Estados Unidos com a detenção inaceitável de um jornalista cidadão americano pela Rússia” e pediu sua libertação imediata, havendo também discussões sobre formas de criar “um ambiente que permita missões para realizar seu trabalho”.
Após a prisão, o WSJ exigiu que todos os jornalistas russos e o próprio embaixador Antonov fossem expulsos dos EUA, dizendo que seria o “mínimo de se esperar” e acusando o governo Biden de “fraqueza”. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ridicularizou a demanda do WSJ como “absurda e errada”.
Fonte: Papiro