Os presidentes Lula e Fernández apresentaram a decisão do retorno no mesmo dia | Foto: Luis Robayo/AFP

O Brasil e a Argentina decidiram voltar a integrar a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), aliança que havia sido abandonada pelos governos de Jair Bolsonaro e Mauricio Macri em 2019, favorecendo o alinhamento direto com as políticas submissas aos Estados Unidos de Donald Trump.

Esse caminho que se reabre aponta para a superação da submissão causada pelos governos neoliberais alinhados com os preceitos da Casa Branca, permitindo atribuir à região mais protagonismo e autonomia. Nesse sentido, na quinta-feira (6), após anunciar o decreto que formaliza o retorno brasileiro à Unasul, o presidente Lula da Silva escreveu: “Orgulho de ser sul-americano”. “Voltamos juntos para fortalecer decisivamente a unidade regional”, afirmou o presidente Alberto Fernández pouco depois.

“Recuperar uma realidade que jamais deveria ter sido interrompida” foi a definição dada pelo assessor internacional de Lula, Celso Amorim, antes de o presidente anunciar o decreto de retorno, anulando a decisão do então presidente Jair Bolsonaro, que em abril de 2019 retirou o Brasil desse grupo regional em consonância com a decisão tomada pelo argentino Mauricio Macri naquele mesmo mês.

Segundo o decreto, a volta do Brasil será efetivada no dia 6 de maio, mas Lula pretende concretizá-la durante uma cúpula de chefes de estado da região que acontecerá em Brasília no final de maio próximo.

Em Buenos Aires, o anúncio foi feito também na quinta-feira (6) pelo ministro das Relações Exteriores Santiago Cafiero. “Por decisão soberana, a Argentina volta à Unasul como Estado-Membro para promover sua revitalização institucional e construir uma região cada vez mais integrada. Isto é o que determinou o presidente Alberto Fernández, e eu comuniquei isso aos chanceleres dos Estados-Membros”, publicou Cafiero em uma rede social.

Lula e Alberto Fernández manifestaram seu acordo e têm defendido maior integração entre os países da América do Sul, além do fortalecimento do bloco do Mercosul, que também conta com Paraguai e Uruguai.

INTEGRAÇÃO DO CONTINENTE

Nascida sob a iniciativa de Lula, o argentino Néstor Kirchner e o venezuelano Hugo Chávez, os principais líderes sul-americanos naquele momento, a Unasul começou a tomar forma em 23 de maio de 2008, quando os presidentes da região assinaram seu Tratado Constitutivo em Brasília. O bloco começou a funcionar efetivamente em 2011, quando o documento entrou em vigor.

O objetivo da Unasul é fomentar a integração entre os países sul-americanos, em um modelo que busca integrar as duas uniões aduaneiras do continente, o Mercosul (Mercado Comum do Sul) e a CAN (Comunidade Andina), mas indo além da esfera econômica, para atingir outras áreas de interesse, como social, cultural, científico-tecnológica e política.

Desde seu nascimento, a aliança congregou, de forma praticamente inédita e em uma só organização, os 12 países da América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Para além dos problemas de concretização de alguns dos seus objetivos, como a integração monetária e financeira da região, a plataforma multilateral fez progressos em matéria de cooperação sanitária e de defesa.

Entretanto, a mudança da orientação política de vários governos da região na segunda década do século minou a continuidade da Unasul e uma ação coordenada dos governos pró-império da região deixou a Unasul sem Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Peru e Paraguai.

Um ano depois, o governo equatoriano, liderado por L. Moreno (2018-2022), seguiu o mesmo caminho e anunciou a saída do bloco. A situação do Equador era particular, já que ali estava a sede da organização.

Em 2020, retirou-se o Uruguai. Com a posse do direitista Luis Lacalle Pou como presidente, Montevidéu ratificou sua decisão de sair do bloco.

Desde então, a Unasul manteve a Bolívia, a Venezuela, o Suriname e a Guiana como únicos membros permanentes. De qualquer modo, o bloco ficou paralisado nas suas funções, sem um secretário-geral nem reuniões periódicas.

Fernández iniciou uma campanha em busca de novas adesões. Em sua visita a Santiago para se reunir com seu homólogo chileno, Gabriel Boric, na última quarta-feira (5), o presidente argentino estendeu o convite.

Fonte: Papiro