Biden sente o efeito bumerangue das sanções que lançou para tentar quebrar a economia russa | Vídeo

“O declínio do status dos EUA no comércio é um resultado objetivo da concorrência no mercado global. No entanto, devido à pressão, os EUA começaram a pôr em prática o protecionismo comercial e a promover uma onda de ‘anti-globalismo’”, diz artigo transmitido pelo canal CCTV.

De acordo com a televisão chinesa, a queda do status dos EUA no comércio internacional significa que o dólar deixou de ser insubstituível: as medidas protecionistas de Washington só incentivam outros países a reduzir o uso da moeda dos EUA.

Ao mesmo tempo, o declínio nas reservas globais de dólares que começou em 2017 “não ensinou nada” aos EUA e, com base em sua posição dominante, Washington foi ainda mais longe e transformou o sistema financeiro em uma “arma”.

“Em fevereiro de 2022, os EUA anunciaram que proibiriam alguns bancos russos de usar o sistema internacional de pagamentos interbancários SWIFT. No entanto, mesmo o golpe desta ‘bomba financeira’ não fez a Rússia entrar em colapso – ela há muito tempo se preparava para se livrar do dólar”, diz a CCTV.

Muitos países que não ousavam agir abertamente por causa do medo de retaliação de Washington entenderam pelo menos duas coisas. “Primeiro, ativos em dólares são uma bomba-relógio que os EUA podem usar para atacar outros países a qualquer momento. Segundo, a retaliação dos EUA pode ser suportada”, conclui o artigo.

MOEDAS LOCAIS

A questão também mereceu destaque no jornal China Daily, que destacou que “a China e outros países estão gradualmente reduzindo sua dependência do dólar usando moedas locais para o comércio internacional, ajudando a criar um sistema monetário internacional multipolar”.

Como exemplo disso, no final de março, a Bolsa de Petróleo e Gás Natural de Xangai, ou SHPGX, informou que a China havia importado gás natural liquefeito dos Emirados Árabes Unidos usando liquidação transfronteiriça em yuan.

Foi “a primeira vez” que a China – o segundo maior importador mundial de GNL – usou sua moeda para tal compra, registrou o China Daily, que assinala que o comércio global de commodities “há muito se baseia em transações denominadas em dólares americanos”.

O acordo de GNL com os Emirados Árabes Unidos mostrou que os países exportadores de petróleo estão interessados em usar moedas como o yuan, em vez do dólar, no nível internacional, assinalou Sergio Rossi, professor de macroeconomia e economia monetária da Universidade de Friburgo, na Suíça.

Essa transação pode encorajar outros países a trocar o dólar por suas próprias moedas para pagar pelas importações de petróleo e gás, disse Rossi. “Isso poderia levar à criação de câmaras de compensação regionais por meio das quais transações estrangeiras em mercados comerciais ou financeiros poderiam ser liquidadas”, acrescentou.

David Phua, sócio do escritório de advocacia internacional King & Wood Mallesons, disse que é “certamente concebível” que uma cesta de moedas combinada com metais preciosos como ouro e prata possa se tornar “meios cada vez mais importantes ao longo do tempo para liquidar transações internacionais de commodities”. Ele acrescentou que isso pode levar “a um mundo mais multipolar em termos de reservas internacionais”.

Para o China Daily, a compra de GNL com base no yuan anuncia “uma nova tendência não apenas na indústria de petróleo e gás, mas também no comércio e finanças globais”.

E indaga “como os EUA reagiriam a essa tendência”, lembrando que décadas atrás “o líder iraquiano Saddam Hussein e seu colega líbio, Muammar Gaddafi, buscaram o uso alternativo do dólar americano no comércio de energia, antes de serem acusados de tirania, derrubados e eventualmente mortos”.

Mas os tempos mudaram. “As sanções impostas contra a Rússia pelos EUA desde o ano passado mostraram como o dólar está sendo ‘armado’”. “A apropriação dos ativos denominados em dólares dos magnatas russos, considerados como violadores da própria base do capitalismo, esfriou a muitos nos círculos empresariais”.

A publicação chinesa destaca que até a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, “admitiu que as sanções dos EUA impostas à Rússia e a outros países colocaram em risco o domínio do dólar”.

Em entrevista à CNN em 16 de abril, Yellen disse: “Existe um risco quando usamos sanções financeiras ligadas ao papel do dólar que, com o tempo, podem minar a hegemonia do dólar. Claro, isso cria um desejo por parte da China, da Rússia, do Irã, de encontrar uma alternativa.”

DÓLAR “ARMADO”

Sobre isso, o especialista em commodities Phua disse que há uma percepção de que o dólar está sendo “armado” por meio das sanções dos EUA, que bloqueiam ou restringem a habilidade de um país para fazer transações com as verdinhas.

“Uma das principais características de uma moeda de reserva global deve ser sua ‘neutralidade’ e não ser usada como uma ferramenta para promover um determinado conjunto de objetivos de política externa. Se o dólar dos EUA satisfaz tal padrão é uma questão pelo menos aberta para debate, e isso tem sido um dos motivadores para encorajar uma mudança para um conjunto mais diversificado de moedas de reserva e/ou meios para liquidação de transações internacionais de commodities”, ele disse.

O crescente uso do yuan no comércio e troca de reservas também esta intimamente ligada à crescente proeminência da China.

Na Malásia, o primeiro-ministro Anwar Ibrahim disse que sua nação está negociando com a China para permitir que o comércio bilateral seja liquidado em yuan e ringgit malaio. Anwar também propôs a criação de um Fundo Monetário Asiático. “Não há razão para que países como a Malásia continuem a depender do dólar”, disse Anwar ao parlamento em 4 de abril.

Em março, assinala o China Daily, a China e o Brasil concordaram em passar a usar o yuan e o real brasileiro em transações bilaterais. O presidente Lula também exortou os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a desenvolver uma moeda alternativa que possa substituir o dólar no comércio exterior.

Em 13 de abril, durante sua visita ao Novo Banco de Desenvolvimento, ou NDB, em Xangai, Lula disse: “Por que uma instituição como o banco dos BRICS não pode ter uma moeda para financiar as relações comerciais entre o Brasil e a China, entre o Brasil e todos os outros países do BRICS? Quem decidiu que o dólar era a moeda (de troca) após o fim da paridade do ouro?”

No mesmo sentido, em fevereiro, o Banco Central do Iraque anunciou que permitiria a liquidação direta do yuan para o comércio da China. O banco está planejando usar o yuan para aumentar os saldos que os bancos iraquianos têm com os bancos chineses. Outra opção é converter os dólares das contas do banco no JP Morgan e no Banco de Desenvolvimento de Cingapura em yuans para pagamento aos beneficiários finais na China.

DESDOLARIZAÇÃO

Além do yuan, outras moedas asiáticas estão se tornando mais “globais”, assinala o China Daily. Em janeiro, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o ministro das Finanças da Arábia Saudita, Mohammed Al-Jadaan, disse que seu país está aberto ao comércio de outras moedas além do dólar para “melhorar o comércio”.

“Não há problemas em discutir como estabelecemos nossos acordos comerciais, seja em dólares americanos, seja em euros, seja em riais sauditas”, disse Al-Jadaan em entrevista à Bloomberg.

Em 31 de julho, o banco central da Índia, o Reserve Bank of India, ou RBI, criou um mecanismo para facilitar as transações comerciais transfronteiriças na rúpia indiana. Com o recente acordo Índia-Bangladesh, já são 19 os países que tem acordos com Nova Delhi para liquidação do comércio bilateral nas próprias moedas – incluindo Rússia, Alemanha, Reino Unido, Cingapura, Sri Lanka, Malásia, Omã e Nova Zelândia.

Membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, ou ASEAN, também planejam usar moedas locais em transações intra-regionais. Perry Warjiyo, governador do banco central indonésio, disse que o bloco regional criará uma força-tarefa para ajudar as economias da ASEAN a passar a usar moedas locais, em vez do dólar.

Ele disse que é hora de reduzir o domínio do dólar – e dos bancos dos EUA – no comércio internacional, já que a pandemia do Covid-19 e o conflito Rússia-Ucrânia destacaram a necessidade de construir sistemas alternativos de financiamento e pagamento comercial.

Fonte: Papiro com informações do Sputniknews Brasil e do China Daily