Zou Xiaoli, embaixador da China em Buenos Aires, com Sergio Massa, ministro da Economia | Foto: AFP

A Argentina começará a pagar pelas importações chinesas em yuan, em vez de dólares, anunciou o ministro de Economia, Sergio Massa, nesta quarta-feira (25): “Depois de um acordo com diferentes empresas, o governo reescalonou o instrumento de pagamento para essas importações com origem na China”, que “deixam de pesar na saída” de dólares.

Desta forma, a nação sul-americana fará uso deste swap (troca de moedas) com a China, que “funciona como instrumento de fortaleza das reservas do Banco Central da República Argentina”, acrescentou o ministro.

A partir dessa decisão, o país poderá pagar em yuan pelas importações da China no valor de US$ 1,04 bilhão (R$ 5,25 bilhões) em abril e US$ 790 milhões (R$ 3,98 bilhões) em maio.

“Isso melhora a perspectiva de reservas líquidas na Argentina. Nos dá mais liberdade e nos agrega capacidade de funcionamento desde o Banco Central RA, nestes dias que tivemos que tomar a decisão de intervir contra aqueles que, pensando que não tínhamos capacidade econômica como Estado e especularam demais”, afirmou.

Massa se referiu assim à especulação com o dólar paralelo ou ‘blue’ que se acirrou no último período. A moeda norte-americana que opera fora dos canais bancários subiu de 400 para 490 pesos em pouco mais de uma semana, e esta quarta-feira caiu para 475 após a intervenção do Governo, que vendeu obrigações e reservas para travar a subida.

ACORDO COM FMI DEVE SER REPENSADO

“Essa conjuntura também torna necessário repensar o atual programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e redefinir a estratégia de trabalho com exportadores e importadores”, afirmou Massa.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, fechou em janeiro do ano passado, após meses de árduas negociações, um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para saldar a dívida de US$ 44 bilhões, irresponsavelmente contraída pelo ex-presidente Maurício Macri. O pagamento da dívida seria com base no crescimento econômico e nos investimentos sociais, que “não contemple restrições que atrasem nosso desenvolvimento”. O acordo, porém, ainda não saiu do papel.

Uma delegação liderada pelo ministro viajará a Washington no dia 28 de abril para renegociar acordo e implementar o início de seu funcionamento.

Perante o complexo contexto internacional de 2022 criado pelos EUA para o sistema econômico e financeiro mundial, são vários os países que optaram por iniciar um processo de ‘desdolarização’ e fortalecimento das suas moedas nacionais ou outras alternativas.

O Brasil assumiu a liderança na América Latina, no início deste ano, quando foi pioneiro na utilização do yuan nas negociações de câmbio comercial e investimentos com a China, possibilitando pagamentos diretamente em reais e em yuan.

Por outro lado, Argentina e Brasil, que compartilham e lideram o Mercado Comum do Sul (Mercosul), conversam atualmente sobre a possibilidade de criar uma moeda comum, com o objetivo de “promover o comércio e a integração ao mundo sem perder” sua “soberania e liberdade econômica”.

Esse fenômeno global ganhou força desde que os BRICS, formados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, anunciaram no final de março a criação de um sistema econômico alternativo que inclui uma nova moeda de reserva “fundamentalmente nova”, disse o vice-presidente da Duma russa, Alexander Babakov.

Moscou reforçou seus acordos comerciais com o Irã e Pequim com a exclusão do dólar em suas operações. Arábia Saudita, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Índia e Egito também têm trabalhado para usar moedas alternativas no comércio global, enquanto forjam laços econômicos mais profundos com potências emergentes na Ásia, informou a Agência RT.

Fonte: Papiro