Multidão toma o centro de Montevideo contra o esbulho de Lacalle | Foto: PIT-CNT

Levantando faixas e cartazes com dizeres como “Contra o roubo às aposentadorias dos uruguaios”, milhares de pessoas se concentraram em frente à esplanada da Universidade da República (Udelar), nesta quinta-feira (23), de onde marcharam até o Palácio Legislativo, no centro de Montevidéu em defesa dos direitos sociais.

Os manifestantes entoaram palavras de ordem em repúdio ao projeto de lei do presidente Luis Lacalle Pou que aumenta de 60 para 65 anos a idade mínima para as aposentadorias, “golpeando os setores populares e mais vulneráveis”.

“Esta é uma reforma que aumenta a idade de aposentadoria, aumenta os anos de trabalho e, para contingentes maciços da população trabalhadora, gera menos direitos e menos seguridade social”, afirmou Marcelo Abdala, presidente da central PIT-CNT (Plenária Intersindical de Trabalhadores – Convenção Nacional de Trabalhadores).

Além de rechaçar o projeto de lei, os manifestantes reiteraram a necessidade de que ele seja amplamente debatido com a população, por entender que “há uma outra reforma possível e que deve ser feita no marco de um diálogo nacional”.

Iniciada às nove da manhã, a paralisação contou com a ampla maioria dos sindicatos do país, incluindo transportes, telecomunicações, construção e saúde pública, e a adesão da juventude, das organizações de mulheres e de empresários vinculados ao mercado interno – e que dependem do consumo dos uruguaios para sobreviver.

Conforme Abdala, a lógica social das aposentadorias se confronta com a lógica excludente de quem quer somente impor retrocessos. “É algo que tem a ver com direitos desde quando se é criança até depois que faleces. Tem a ver com os abonos da família, proteção por invalidez, seguro-desemprego, com mecanismos de proteção social numa sociedade cada vez mais desigual”, acrescentou.

“REFORMA BRUTAL E CRIMINOSA”

Para o secretário de Organização da PIT-CNT, Enrique Méndez, a iniciativa governista é “brutal e criminosa”, rompendo com “um pacto social construído ao longo de décadas no Uruguai”. A Previdência Social, assinalou, “é uma conquista da classe trabalhadora, uma luta que o campo popular travou diante das condições injustas e desiguais da economia de mercado que só busca o lucro indiscriminado sem pensar nas vulnerabilidades sociais”.

A reforma apresentada pelo governo se encontra em sua etapa final, pois já passou pelo Senado, diante do que a coalizão oficial, enfrentando a forte oposição popular, busca conseguir apoio entre os deputados.

Em nome da Intersocial, Lucía Padula apontou que, com a medida, o governo “segue demostrando que sua administração favorece aos malla oro (classes abastadas) e pretende que todas as crises sejam pagas pelos trabalhadores”. “Isso não se restringe aos danos que faz às pensões e aposentadorias, que é ao que dedicou os mais de 300 artigos deste projeto”, frisou.

Na avaliação do ministro do Trabalho e Segurança Social, Pablo Mieres, a reforma é uma verdadeira maravilha, e “estender a idade da aposentadoria é inevitável”. “Senão eu não estaria de acordo”, resmungou.

Fonte: Papiro