Mortandade no parto nos EUA é maior entre as mulheres negras | Foto: Daily Mirror

As mortes maternas nos Estados Unidos aumentaram 40% em 2021, o último ano para o qual as estatísticas estão disponíveis, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O número de mortes maternas aumentou de 754 em 2019 para 861 em 2020 e 1.205 em 2021. A taxa de mortalidade materna, de quase 32 por 100.000 nascimentos, voltou ao nível de 1965, uma regressão impressionante de mais de meio século.

As mulheres que dão à luz hoje nos EUA têm quase quatro vezes mais chances de morrer do que suas próprias mães quando deram à luz.

Após uma mínima histórica de 6,6 por 100.000 nascimentos em 1987, a taxa de mortalidade materna ficou em um dígito até 2002, depois aumentou constantemente, dobrando em 2017. Disparou durante a pandemia de Covid-19, quase dobrando novamente.

Esses números, que fazem parte de um relatório do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde de março, por si só são uma denúncia do sistema de saúde ultraprivatizado dos EUA, que nega tratamento médico pré-natal e pós-parto adequado para milhões de mulheres, simplesmente porque são pobres ou não têm seguro.

Os EUA têm o pior desempenho entre as nações industrializadas, em termos de mortalidade materna. As mulheres que dão à luz nos EUA têm quatro vezes mais chances de morrer do que na Alemanha, França ou Grã-Bretanha, e 10 vezes mais chances de morrer do que na Holanda ou nos países escandinavos. Elas têm duas vezes mais chances de morrer do que na China.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, essas disparidades são anteriores à pandemia de Covid: as taxas de mortalidade materna nos EUA aumentaram 78% entre 2000 e 2020, enquanto caíram na maioria dos outros países.

De acordo com o CDC, são variadas as causas particulares de morte materna: de origem cardiovascular, incluindo cardiomiopatia (doença do músculo cardíaco), 11%; coágulos sanguíneos, 9%; pressão alta, 8%; acidente vascular cerebral, 7%; e outras condições cardíacas, 15%.

Outros 24% correspondem a infecção e sangramento pós-parto. Também pesam problemas de saúde mental, incluindo overdoses de drogas e depressão pós-parto que levam ao suicídio.

De acordo com o CDC, 80% das mortes maternas poderiam ser evitadas com tratamento adequado. Muitas mulheres grávidas, no entanto, e ainda mais mulheres durante semanas e meses após o parto, não recebem tratamento adequado.

Cerca de 2 milhões de mulheres em idade reprodutiva vivem nos “desertos obstétricos” nas áreas rurais, a mais de 40 quilômetros de uma unidade de trabalho de parto, segundo o CDC. O que foi agravado pelo fechamento de centenas de hospitais e centros médicos rurais, por falta de financiamento.

Já com as mulheres de áreas urbanas e suburbanas o fator chave é o crescimento da pobreza e desigualdade. A ponto de mulheres urbanas e suburbanas, morando a apenas alguns quilômetros e até alguns quarteirões de um hospital bem equipado ou de um provedor qualificado, não conseguirem ter acesso aos cuidados de que precisam por falta de seguro de saúde e por não terem como arcar com as despesas.

Além disso, o Medicaid, o programa conjunto federal-estatal que fornece seguro de saúde para famílias de baixa renda, suspende a cobertura ampliada para mulheres grávidas 60 dias após o parto.

São esses fatores que fazem com que as estatísticas de morte materna sejam muito piores do que a média nos estados do sul de populações rurais empobrecidas, como Louisiana, Geórgia, Alabama, Arkansas, Mississippi e Texas. É ainda o que explica que Nova Jersey, que tem uma das maiores rendas per capita, apresente a quarta pior taxa de mortalidade materna entre os 50 estados.

Parte dessas mortes maternas têm a ver ainda com as disparidades raciais nos EUA e desigualdade de renda. As mulheres negras tiveram uma taxa de mortalidade materna de 69,9 por 100.000 nascimentos, em comparação com 26,6 para mulheres brancas e 28 para mulheres hispânicas. As mulheres nativas tiveram uma taxa de mortalidade acima de 50%; com 90% de suas mortes consideradas “evitáveis”.

A superação desses números vergonhosos no país mais rico do mundo exige, de acordo com as entidades que lidam com o problema, a mudança para uma política que garanta a gravidez e o parto seguros e saudáveis, assim como o apoio social à mãe, à criança e a toda a família posteriormente.

Fonte: Papiro