Silicon Valley Bank, SVB, foi à falência | Foto: Business Today

O 16º maior banco dos EUA em ativos (US$ 209 bilhões), o Silicon Valley Bank (SVB), faliu na sexta-feira (10), após uma corrida ao banco, depois que se tornou público que havia sofrido uma perda de US$ 1,8 bi na quarta-feira ao vender títulos do Tesouro no esforço de levantar fundos e que estava tentando equilibrar as contas com uma venda de ações para tentar levantar US$ 2,25 bi.

O banco, que existia desde 1987 e havia sobrevivido à crise ‘dot.com’ de 2001 e ao crash de 2008, durou cerca de três dias após o presidente do Fed, Jerome Powell, na terça-feira (7), ter indicado que o Fed iria aumentar os juros mais alto e mais rápido, a título de combater a inflação. O Fed aumentou os juros ao ritmo mais acelerado em 40 anos: de 0,25% em 2020, para 4,75% em fevereiro deste ano.

Nesta segunda-feira (13), as agências do SVB, agora sob o controle do Fundo Federal Garantidor de Depósitos (FDIC, na sigla em inglês), abrirão para que os depositantes possam pedir o ressarcimento de seus depósitos, até o teto de US$ 250.000. O que corresponde a cerca de 3 a 7% do total de depósitos, segundo a mídia.

O fato de o FDIC ter assumido o controle do banco durante o dia – em vez de sexta-feira à noite, que é o procedimento normal – mostra o quão caótica era a situação. As ações do SVB em Wall Street afundaram 86% entre a manhã de quinta-feira e a interrupção das negociações na bolsa na sexta-feira.

O SBV se apresentava como “parceiro da economia da inovação”, segundo o New York Times. Com 17 filiais na Califórnia e em Massachusetts, era profundamente integrado à alta tecnologia do Vale do Silício, atendendo a cerca de metade de todas as novas start-ups financiadas por investidores de capital de risco.

Falando ao Congresso, Powell disse que “o nível final das taxas de juros provavelmente será mais alto do que o previsto anteriormente” e que, se justificado, o Federal Reserve estará “preparado para aumentar o ritmo dos aumentos das taxas”. A taxa de juros aumentou de 0,25% em 2020, para 4,75% em fevereiro deste ano. Na próxima semana, o Fed irá anunciar de quanto será essa alta.

Noticiando o colapso do SVB, o portal Zero Hedge sublinhou o alerta de Michael Hartnett, estrategista-chefe do Bank of America, na semana anterior, de que “o Fed vai apertar até que algo quebre”.

Ainda de acordo com a FDIC, o dinheiro obtido com a venda dos ativos do banco irá para os depositantes não segurados. Os funcionários do banco receberam no sábado (11) uma proposta do órgão para trabalharem por 45 dias de trabalho por 1,5 vez o salário.

40 ANOS EM 14 HORAS

“Os 40 anos de relações comerciais do SVB apoiando o Vale do Silício evaporaram em 14 horas”, observou ao Financial Times um executivo sênior de um fundo de capital de risco multibilionário. Note-se que, até o momento de a autoridade financeira ordenar seu fechamento, o SVB tinha a classificação máxima AAA.

Foi a segunda maior falência bancária da história dos Estados Unidos, só superada no colapso no sistema financeiro americano em 2008, quando o Washington Mutual (que detinha ativos com valor declarado de US$ 307 bilhões) foi fechado. Em paralelo, o banco Silverado, ligado à especulação com bitcoins, teve sua falência decretada no dia 8.

Outro fator que pesou para esse desfecho foi que o setor de tecnologia começou a desacelerar nos últimos meses, inclusive havendo o anúncio de milhares de demissões, com os clientes do SVB retirando dinheiro mais rápido do que o esperado, enquanto minguavam os novos aportes de risco.

Uma situação que colocou o banco no fio da navalha, à medida em que o Fed desencadeou a alta dos juros.

Em suma, o banco bancava projetos de largo prazo, com dinheiro emprestado de curto prazo, e foi possível manter as duas pontas operando sob a política de juros reais negativos, o que explodiu quando os juros subiram.

Sob aperto, o banco teve de antecipar o resgate de títulos do Tesouro que tinha em reserva e títulos lastreados em hipotecas, antes da data do vencimento, tendo que pagar um rendimento pela operação.

Na fatídica venda da carteira de títulos de US$ 21 bi, o SVB perdeu 1,8 bi, evidenciando a crise.

Registre-se que, sob o quantitative easing implementado sob a pandemia, o SVB aumentou sua carteira de títulos de cerca de US$ 27 bilhões no primeiro trimestre de 2020 para cerca de US$ 121 bilhões no final de 2021. Resultado direto da injeção massiva de US$ 4 trilhões do Fed no sistema financeiro após o congelamento do mercado em março de 2020, no início da pandemia de Covid-19.

Mas quando o Fed começou a aumentar as taxas de juros no ano passado e os rendimentos dos títulos do Tesouro e outras dívidas aumentaram, seu valor de mercado caiu – os rendimentos e o preço dos títulos lastreados em empréstimos a start-ups movem-se em direções opostas – e o SVB sofreu perdas significativas. A estimativa era de uma perda de US$ 15 bilhões nos US$ 91 bilhões em títulos que detinha.

Na quarta-feira, o SVB afirmou que venderia US$ 2,25 bilhões em novas ações, em uma operação discutida com o Goldman Sachs. Anúncio que gerou pânico em empresas de capital de risco, acelerando a corrida aos saques.

Na quinta-feira (9), conclamação do presidente-executivo do banco, Greg Becker, a que os clientes mantivessem a calma só piorou o quadro, as ações despencaram 60%, fazendo o SVB perder quase US$ 10 bilhões, segundo a Bloomberg.

Talvez a informação de que o próprio Becker havia vendido US$ 3,5 milhões em ações do SVB na semana anterior, conforme registrou o portal Zero Hedge, não haja contribuído para serenar os ânimos.

Analistas advertiram que o fechamento e a liquidação do SVB terão um impacto enorme no ecossistema de tecnologia, havendo quem tema um “evento de extinção em massa”. Eles também chamaram a garantir que as start-ups, que contavam com o SVB, consigam honrar suas folhas de pagamento.

CAI BANCO DE NOVA YORK

No domingo, o Signature Bank foi fechado pelos reguladores financeiros do estado de Nova York, quando as consequências da implosão da semana passada do SVB se espalharam para outros credores, segundo a Bloomberg. O Signature tinha ativos totais de cerca de US$ 110,36 bilhões e depósitos totais de aproximadamente US$ 88,59 bilhões em 31 de dezembro de 2022.

O banco teve um grande prejuízo em vendas de títulos em meio ao aumento das taxas de juros, assustando investidores e depositantes que rapidamente começaram a sacar seu dinheiro. Somente na quinta-feira (9), investidores e depositantes tentaram tirar cerca de US$ 42 bilhões

Os depositantes do banco com sede em Nova York terão acesso ao seu dinheiro sob “uma exceção de risco sistêmico semelhante” a uma que permitirá aos clientes do Silicon Valley Bank receber seu dinheiro na segunda-feira (13), asseveraram em declaração conjunta e o FDIC.

Também no domingo, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que aprovou uma resolução para o Silicon Valley Bank “que protege totalmente todos os depositantes”.

Na sexta-feira, após queda de 15% nas ações, fora o First Republic Bank, 14º maior banco dos EUA por depósitos, que causara temores de um efeito dominó.

O First Republic reagiu com um comunicado no sábado, asseverando a clientes e investidores “segurança e estabilidade contínuas e fortes posições de capital e liquidez”.

O First não foi o único afetado. As ações do PAcWest e do Western Alliance despencaram, respectivamente, 38% e 21%. As negociações dos três chegaram a ser suspensas por um período.

Nem os “grandes demais” ficaram ilesos. As ações do JPMorgan Chase caíram -5,4% na sexta-feira; Bank of America, -6,2%; Citigroup, -4,1%; e Wells Fargo, -6,2%. O índice Dow Jones recuou 1,07%, enquanto o Nasdaq fechou em queda de 1,76%.

Em meio ao pânico, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, após se reunir com os reguladores bancários, afiançou ao público que o sistema bancário norte-americano continua “resiliente”. No domingo, ela disse ter aprovado uma resolução para o Silicon Valley Bank “que protege totalmente todos os depositantes”.

Fonte: Papiro