Munição à base de urânio fotografada em base dos EUA em Tikrit, Iraque | Foto: Stan Honda/AFP

Munição usando urânio radioativo causará danos irreparáveis à saúde dos militares e da população civil da Ucrânia alertou Igor Kirillov, chefe das Tropas de Defesa Radiológica, Química e Biológica das Forças Armadas russas, nesta sexta-feira (24), logo após a Inglaterra declarar sua intenção de enviar este tipo de munição à Ucrânia.

“Embora o uso de tais munições [do material denominado urânio depletado, o qual mesmo que tenha radioatividade reduzida, ainda a dissemina em níveis extremamente nocivos à saúde] prejudique irreparavelmente a saúde dos militares das Forças Armadas da Ucrânia e da população civil, os países da Otan, em particular o Reino Unido, expressam prontidão em fornecer esse tipo de arma ao regime de Kiev”, afirmou.

Kirilov citou um relatório de 2016 do principal inspetor médico militar da Itália relatando as consequências para a saúde de soldados envolvidos nos conflitos nos Bálcãs (1994-1999) e no Iraque (em 2003), áreas onde a munição deste tipo de aplicação do urânio foi utilizada.

Em particular, de acordo com os dados, 4.095 soldados foram posteriormente diagnosticados com tumores malignos de vários tipos.

“Em 8% dos casos [330 pessoas], as doenças foram fatais. Além disso, os compostos de urânio permanecem muito tempo no solo e representam um risco de impacto negativo em pessoas, animais e culturas agrícolas”, enfatizou Kirilov.

“Assim, de acordo com o governo iraquiano, a incidência de câncer no país como consequência do uso de munição de urânio empobrecido passou de 40 para 1.600 casos por 100.000 habitantes em 2005. A esse respeito, Bagdá entrou com uma ação em 26 de dezembro de 2020 perante a Corte Internacional de Arbitragem de Estocolmo contra Washington, exigindo indenização pelos danos causados”, assinalou.

Segundo ele, em um relatório publicado em 2002 em Genebra por um grupo de especialistas que realizou pesquisas sob os auspícios do programa das Nações Unidas para o meio ambiente nos locais dos ataques da OTAN na Iugoslávia os “especialistas assinalaram que, mais de dois anos após o bombardeio, partículas deste urânio ainda estavam presentes no ar”.

O uso de munições de urânio contaminará áreas significativas de semeadura na Ucrânia, o que fará com que as exportações ucranianas de alimentos colapsem por décadas, e por meio de veículos as substâncias radioativas serão espalhadas para o território que está fora da zona de combate, denunciou.

O especialista enfatizou que o anúncio de Londres de seus planos de fornecer munição de urânio empobrecido a Kiev é cínico.

“O fato do anúncio da vice-ministra britânica da Defesa [Annabel Goldie] ter sido feito quase na véspera de outro aniversário do bombardeio da Iugoslávia pela Otan em março de 1999 o torna especialmente cínico”, disse Kirilov.

Os únicos que usaram munição de urânio depletado em conflitos armados, continuou ele, foram membros da Aliança Atlântica.

Comentando a intenção de fornecer tais munições a Kiev, Maria Zakharova, representante oficial da chancelaria da Rússia, já havia apontado a falsidade das declarações de Washington e Londres sobre o desejo de paz na Ucrânia e de quererem o bem do povo ucraniano: “o seu verdadeiro objetivo é a destruição da Ucrânia”.

Os planos britânicos de entregar estqas munições a Kiev são mais uma provocação altamente insensata de Londres, afirmou a diplomata na quarta-feira (22).

“Esta é uma questão de total insensatez, irresponsabilidade e impunidade da dupla anglo-saxônica, de Londres e Washington nos assuntos internacionais”, disse Zakharova à Agência Sputnik.

“Esta é mais uma provocação britânica que visa levar a situação em torno da Ucrânia para uma nova rodada de confronto, fazendo essa agressão adquirir uma dimensão qualitativamente diferente”, ressaltou ela.

Depois da repercussão negativa em nível internacional, o Ministério da Defesa do Reino Unido tentou justificar possíveis entregas de tal munição para a Ucrânia, dizendo que é um componente padrão de munição e não tem nada a ver com armas ou capacidades nucleares.

Fonte: Papiro